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02 de Novembro de 2018 às 19:30

A próxima crise

A próxima crise avizinha-se. A situação italiana, uma guerra monetária, ou o escalar das tensões entre Estados Unidos e China podem despoletá-la.

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Num mundo que tinha acabado de conhecer o iPhone, a crise do "subprime" apanhou a economia global de surpresa. Considerada por muitos economistas como a pior crise financeira desde a recessão dos anos 30, a crise de 2008 rapidamente se tornou num fenómeno mundial.

 

Naquela altura, a valorização bolsista da Apple rondava 140 mil milhões de dólares. Volvida uma década e 18 novos modelos de iPhone, o valor da empresa em bolsa superou a marca histórica de um bilião de dólares. Esta foi apenas uma das empresas a liderar as bolsas americanas, no mais longo "bull market" de que há registo.

 

Atualmente, a reforma fiscal do Presidente Trump tem ajudado a economia a ter um crescimento real acima dos 3%. O desemprego é o mais baixo dos últimos 49 anos e o lucro das empresas americanas continua a crescer. Ainda assim, de acordo com o FMI, o crescimento vai abrandar em todas as outras grandes economias desenvolvidas; isto numa altura em que os mercados emergentes estão com problemas.

 

De facto, olhando hoje para os mercados, encontramos uma realidade diferente da de 2017. Há um ano, o crescimento sincronizado das economias deixava os investidores confiantes. Em 2018, a volatilidade está de volta e, embora um "bear market" não deva ocorrer num futuro próximo, outubro ficou marcado pelo segundo "sell-off" do ano. Depois da correção de fevereiro, o abrandamento do crescimento e a subida das taxas de juro pela Fed resultaram no pior mês do S&P 500 desde 2011. Ainda assim, alguns investidores veem nas avaliações mais baixas um sinal de que a "bull run" pode continuar.

 

A divergência na performance das economias reflete-se em políticas monetárias divergentes. Enquanto que a Fed aumentou as taxas de juro de referência oito vezes desde dezembro de 2015, o Japão continua com taxas negativas e o BCE ainda está longe de normalizar a sua política monetária. Resultado? Apreciação do dólar. Desde 2017, a moeda americana apreciou 25% "on a trade basis". O valor do dólar tem um impacto muito para lá das fronteiras norte-americanas e os países emergentes (que frequentemente emitem dívida em dólares) ficam com uma tarefa mais difícil.

 

Para além dos desafios económicos, também o panorama geopolítico continua problemático. A instabilidade turca deste verão não resultou num contágio alargado aos países emergentes, mas situações isoladas como o assassinato de um jornalista saudita ou um "hard Brexit" podem despoletar riscos além-fronteiras.

 

A próxima crise avizinha-se. A situação italiana, uma guerra monetária, ou o escalar das tensões entre Estados Unidos e China podem despoletá-la. Mas, mais relevante do que especular sobre o catalisador ou discutir o seu "timing", é perceber que medidas devem ser tomadas no imediato para garantir uma recuperação o menos dolorosa possível.

 

A Europa não está preparada. No passado, diminuir as taxas de juro de referência era uma das soluções mais rápidas e eficazes. Porém, o BCE tem agora pouco espaço de manobra para fazê-lo, ou para implementar um novo programa de "Quantitative Easing". Os crescentes níveis de dívida pública restringem ainda a política fiscal dos diferentes governos. Piorando a situação, a cooperação entre nações (essencial para fazer face a uma crise global) é ameaçada pelos movimentos nacionalistas um pouco por todo o mundo.

 

Quantos novos modelos de iPhone temos de esperar que sejam lançados até que medidas concretas sejam tomadas?

 

Vice President do Nova Investment Club

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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