Opinião
A conexão global fortalece-nos - precisamos mais dela, não menos
Acredito firmemente que a conexão global tornou o nosso mundo mais estável e menos vulnerável na crise atual. Devemos estar agradecidos. E nos interesses do “sistema imunitário” social e económico do mundo, devemos assegurar-nos que a globalização não sofre danos irreparáveis.
Há muita especulação sobre o retrocesso da globalização, sobre a formação de blocos económicos rivais, sobre cadeias de abastecimento mais curtas, sobre o retorno ao fabrico nacional e da expansão das principais indústrias domésticas. Não é surpreendente que os pessimistas e críticos da globalização encontrem alguma justificação; qualquer cético recupera hoje novos argumentos para tal. Posto isto, é compreensível que hoje muitas pessoas estejam preocupadas com o futuro da economia global.
Estamos numa crise séria. A desaceleração da economia mundial como resultado da pandemia parece pior do que a crise financeira global de 2008. De acordo com a OMC, os fluxos comerciais globais podem cair até um terço este ano, e as previsões para os fluxos de capital são semelhantes, com o investimento direto estrangeiro com uma previsão de queda de 30 a 40% em 2020/21. As viagens internacionais também estão em declínio acentuado. Espera-se que o número de passageiros a voar diminua até 1,5 mil milhões este ano. Estes e outros efeitos da crise estão a pôr muitas pessoas, empresas e setores da economia à prova.
Um reforço para o nosso sistema imunitário
Apesar das perspetivas para 2020, não acredito num declínio permanente e massivo da globalização pós-crise: penso que se irá firmar de novo. Mesmo os cenários mais pessimistas não incluem o comércio e os fluxos de capital em colapso. Em vez disso, os declínios previstos anteveem um retorno a níveis que, em 2000, foram amplamente considerados como um sinal da hiper-globalização. Ao mesmo tempo, a pandemia tem tornado clara a importância da globalização para o nosso "sistema imunitário" económico e social.
Durante a crise, muitas empresas globalmente ativas encontraram-se numa melhor posição do que as empresas com foco nacional ou regional. Isto faz sentido: as empresas ativas apenas num país estão à mercê da situação local. Por outro lado, as empresas com presença global são mais fortes e flexíveis. No início da crise, por exemplo, as empresas globais com negócios na China sentiram o peso das primeiras paralisações, mas esta desvantagem inicial tornou-se uma vantagem com a recuperação da China. É claro que todas as indústrias são diferentes, mas as empresas internacionais tendem a demonstrar mais resiliência em alturas como esta.
Uma mente aberta protege contra a vulnerabilidade
Por razões semelhantes, também acredito que muitos dos pedidos por mais fabrico doméstico e a renacionalização de setores económicos estão equivocados. As cadeias de abastecimento nacionais não são necessariamente mais resilientes. Quando muito, as cadeias precisarão de ser mais diversificadas no futuro, o que significa mais globalização, não menos. É certo que faz todo o sentido tomar precauções e construir reservas estratégicas de bens críticos para emergências. Mas não nos podemos esquecer de que a divisão global de trabalho se mantém fulcral para a prosperidade. Não faria sentido - e revelar-se-ia insustentável a longo prazo - que todos os países produzissem todos os seus produtos médicos, por exemplo.
Não tenho dúvidas de que sociedades abertas e diversas são as mais robustas diante a crise. Precisamos de uma investigação global conectada e dos melhores conhecimentos médicos de todo o mundo para ajudar a controlar o vírus. Precisamos de mais cooperação, tal como a partilha de cuidados intensivos gratuitos ou o envio de equipas médicas entre países. De facto, as barreiras erguidas antes da crise, tais como os direitos aduaneiros dos produtos médicos, ameaçam dificultar o abastecimento. O emaranhado atual de restrições à exportação e tarifas de importação aplica-se a muitos dos produtos de assistência médica e de higiene, tão críticos neste momento.
O meu apelo por uma maior abertura aplica-se ainda mais a regiões mais pobres, alguma das quais começaram agora a sentir os efeitos da covid. Também aqui o acesso a mercados globais significa maior resiliência. Para pequenos negócios e microempreendedores, cujas vendas locais paralisaram, o comércio eletrónico, por exemplo, oferece esperança. Isto requer um ambiente favorável, incluindo procedimentos aduaneiros modernos e menos burocracia nas fronteiras. A DHL trabalha com parceiros internacionais que dão apoio nesta área há muitos anos.
Um pouco de normalidade na crise
Atualmente estamos todos a experienciar o quão o nosso bem-estar depende do comércio, de logísticas funcionais e da conexão digital e global. Imagine-se como se teria esta pandemia desenrolado há umas décadas - sem os sistemas de comércio eletrónico avançados, sem uma poderosa infraestrutura de TI global e sem tecnologias, plataformas e smartphones que nos ligam.
Acredito firmemente que a conexão global tornou o nosso mundo mais estável e menos vulnerável na crise atual. Devemos estar agradecidos. E nos interesses do "sistema imunitário" social e económico do mundo, devemos assegurar-nos que a globalização não sofre danos irreparáveis. Quanto melhor o fizermos, mais resiliente permaneceremos, e mais fácil será para nós acelerarmos novamente depois da crise.
CEO da DHL Express