Opinião
A Austrália e os seus 26 anos de crescimento económico
De acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional, em 2017 a Austrália irá completar o seu 26.º ano consecutivo de crescimento económico.
O país ultrapassará assim a Holanda, até agora detentora do recorde histórico de 25 anos de atividade económica sem recessões. Este é um momento marcante na História da Austrália e um acontecimento inédito no panorama económico da era moderna.
Tendo registado a sua última recessão técnica em 1991, a Austrália está prestes a quebrar o recorde histórico de crescimento económico ininterrupto. Historicamente, a Holanda foi o único país capaz de sustentar um período de 103 trimestres consecutivos sem recessões - entre 1982 e 2008 -, um fenómeno essencialmente motivado pela descoberta de petróleo no Mar do Norte.
Analisar o caso australiano torna-se, por isso, um exercício interessante. Contrariamente ao caso português, a boa gestão pública é frequentemente identificada como uma das principais causas de sucesso do país. Entre 2000 e 2007, a Austrália registou um saldo excedentário nas suas contas públicas, um resultado que em parte se deve à rigorosa disciplina orçamental levada a cabo pelo então primeiro-ministro, John Howard.
O país possuí também um vasto território, abundante em recursos naturais. Representando cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e aproximadamente 60% das exportações, a indústria de minérios assume-se como um elemento central na economia do país. A par dos seus recursos naturais, a Austrália soube também tirar proveito do seu posicionamento geográfico, estabelecendo importantes relações comerciais com as principais economias emergentes asiáticas: só a China representa, atualmente, 30% das exportações do país.
Contudo, tendo tido a oportunidade de estudar na Austrália, apercebi-me também que a diversidade demográfica constitui um elemento central na identidade do país, tendo desempenhado um papel fundamental no sucesso económico verificado. Com aproximadamente 20% de imigrantes face à população total, o país é, indiscutivelmente, um destino migratório de referência na região asiática. Por sua vez, à medida que os movimentos demográficos se intensificaram, também as relações comerciais entre países vizinhos se fortaleceram. Em 2014, a educação assumia-se como o quarto maior setor de exportação do país e, em conjunto com o turismo, representava 9,2% do valor total de exportações. Os serviços são, cada vez mais, uma componente essencial da economia australiana, representando já 70% do PIB do país.
Que lições poderá Portugal tirar?
Apesar de economicamente diferentes, Portugal e a Austrália apresentam interessantes semelhanças. A segurança e o clima de Portugal em muito se assemelham às condições proporcionadas pela Austrália, condições essas que assumem um papel importante na atração de alunos estrangeiros e turistas. Assim, o modelo estratégico australiano nos setores da educação e do turismo pode ser replicado em Portugal, caso se assegure o desenvolvimento das infraestruturas necessárias. Ambos os setores possuem um elevado valor acrescentado, algo que tem sido tradicionalmente apontado como um dos principais problemas estruturais das exportações em Portugal.
É verdade que muito se tem feito na área do turismo em Portugal. Porém, o caso australiano ensina-nos que muito mais se poderá fazer na área da educação.
Membro do Nova Investment Club
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