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O fim do duplo queixo

Somos a geração que se vê mais gorda da História. Temos uma visão de 180º, mas passamos o tempo a olhar para baixo para um retângulo de 30 cm2 nas nossas mãos.

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Esta maravilha de tecnologia, a que chamamos smartphone, é na verdade uma forma de superarmos a falta de integração que existe entre a realidade digital e a física. A evolução como seres humanos levou-nos a comunicar através de voz, visão, olfato, toque, etc., não através de um ecrã. Os próprios teclados, a que estamos tão habituados, não são mais do que um tradutor para que as máquinas nos entendam.

 

Qual é a alternativa? Uma realidade em que o digital se sobrepõe ao mundo físico. Como? Vamos interagir com a realidade como sempre o fizemos e a tecnologia vai-se adaptar. Voz, gestos, expressões e cheiros que são capturados por sensores como câmaras e lentes de contacto e interpretados por softwares. Vamos fugir da prisão ridícula que são os ecrãs. 

 

Futurista? Não, já chegou a fase inicial. No mês passado, o Facebook na sua conferência F8 anunciou algumas inovações aparentemente divertidas, mas que têm grandes implicações. Entre elas, a realidade aumentada e a capacidade de os sistemas entenderem em tempo real imagens, vídeos e sons. Voltando ao teclado, o Facebook anunciou que está a criar um que lê diretamente as ondas cerebrais e escreve o texto.

 

No que é uma cópia clara do que o Snapchat anunciou antes, o Facebook agora também se define como "a camera company". Porque é tão importante? Porque quanto mais imagens tiverem mais informação. Quando se diz uma imagem vale mais do que mil palavras, é verdade. Uma imagem tem as nossas expressões corporais e faciais, o que temos vestido, os objetos à nossa volta, e se juntarmos som e geolocalização, uma imagem diz mais sobre nós do que nos próprios sabemos.

 

Vamos parecer mais magros sem os ecrãs…, mas a que preço? Esta tecnologia, supostamente grátis, tem várias implicações. A privacidade é uma delas, com as empresas novamente a recolherem mais dados do que sabemos. Dados esses que lhes permitem conhecer-nos para o bem e para o mal. Se for só para me recomendarem os melhores produtos ou a música, ótimo. Mas se for utilizada para nos condicionar ou mesmo julgar ou controlar, entramos num "big brother" mais intrusivo do que o George Orwell poderia imaginar. Por outro lado, as várias empresas estão a tentar fechar-nos nos seus ecossistemas. Vamos pensar no caso do Amazon Echo um assistente virtual que está nas nossas salas como se fosse uma coluna Bluetooth. Quando ficamos sem pasta de dentes, só temos de dizer "Alexa, compra pasta de dentes" e de imediato a Alexa pede na Amazon e entregam em nossa casa, em meia hora. Fantástico! Só que a Alexa com este pedido decidiu que vou comprar na Amazon e o tipo de pasta de dentes que mais lhe convém, eliminando a concorrência. E a propósito, com os dados que a Amazon tem, provavelmente já vai estar a produzir a pasta de dentes na sua linha Amazon Basics (que já existe).

 

O exemplo não é dramático, mas como vai a maioria das empresas que ainda está a decidir se investe mais no seu sítio de "e-commerce" básico competir com este nível de sofisticação? A concentração está a dar-se a nível mundial em quatro ou cinco grandes empresas (Google, Facebook, Amazon, Apple, etc.). As outras vão ter de entrar no ecossistema destas, perdendo relevância (e margem entre outros) e muitas outras vão simplesmente desaparecer (as boas talvez ser compradas por estas).

 

O tempo é escasso para a maioria das empresas entender o que se está a passar e se adaptarem. Os líderes políticos também têm de aprender o que está a acontecer para legislar. Mas, entretanto, vamos ver-nos mais magros que o verão está a chegar. 

 

Partner litsebusiness.com e professor de e-commerce e marketing digital na Nova SBE

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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