Opinião
Vinte anos de integração europeia - vistos numa década
A saída do Reino Unido da União Europeia e alguma discussão política em Itália questionam a validade ou motivação de pertença a uma união económica e união monetária.
Pode-se analisar como vários países dentro e fora da EU e da AE acumularam desequilíbrios e os debelaram para melhor entender as atuais interrogações. Considerando que a Hungria, República Checa, Portugal e Grécia apresentam sensivelmente a mesma dimensão económica e populacional, é interessante verificar a diversidade de comportamentos. É interessante, constatar, que apesar da República Checa e Hungria não pertencerem ao euro, a sua evolução durante e após a crise europeia é semelhante ao observado nas economias bálticas, integradas no espaço euro.
Em 2005, Estónia, Hungria, Espanha, Portugal, Eslováquia, Grécia, Letónia e Lituânia registavam desequilíbrios externos superiores a 7% do PIB. Em 2018, maior défice observado foi inferior a 1% do PIB. A correção deste desajuste estrutural implicou para as economias do Báltico contração do PIB superior a 25 p.p. Para Portugal e Hungria, a queda do PIB real aproximou-se a 10%, que compara com 36% na Grécia. Não obstante a elevada magnitude do ajustamento, as economias do Báltico, Hungria ou Rep. Checa registam em 2018 níveis de produto francamente superiores ao observados antes de 2007. Aliás, apenas Itália e Grécia verificam níveis de produto em 2018 inferiores aos verificados dez anos antes. E se no caso grego, existia um desequilíbrio macroeconómico externo a corrigir, esse imperativo não se manifestava em Itália. Acresce ainda o facto de durante o período de ajustamento se ter observado redução da população nas economias do Báltico, Hungria, Rep. Checa, Grécia, ou Portugal, enquanto a população italiana continuou a crescer, devido à imigração. A queda da população naquelas economias terá impedido maior subida da taxa de desemprego.
Há mais semelhanças no processo de ajustamento entre as economias bálticas e do Leste entre as primeiras e as restantes economias do euro. É igualmente interessante verificar que o comportamento da Hungria e da Rep. Checa, no que respeita a evolução do PIB, é bastante idêntico embora a Hungria tenha registado uma desvalorização cambial de 21% face a cerca de 8% no caso checo. Por sua vez, as economias bálticas observaram o mesmo tipo de recuperação e correção de desequilíbrio, sem qualquer desvalorização cambial (embora com desvalorização real).
A produtividade total dos fatores, a eficiência marginal do capital, o peso das exportações e o crescimento das mesmas desde 1995 afiguram-se como um traço comum às economias do Báltico e do Leste Europeu, os quais poderão justificar a semelhança de desempenho. A estrutura do mercado de trabalho também apresenta traços idênticos. A taxa de poupança das famílias, a intensidade capitalística, o andamento da taxa de câmbio efetiva ou dos custos unitários de trabalho não parecem assumir-se como elementos distintivos destas economias face aos países do Sul da Europa. Todavia, o peso das exportações no PIB, superior a 80% para a maioria das economias do Leste Europeu, e uma expansão real deste agregado de cerca de 4% desde 2000 contrastam com níveis inferiores a 35% do PIB para Espanha, Itália ou Grécia (45% para Portugal) ou incrementos reais das exportações de 1.6%, 1.8% ou 2% para Itália, Grécia ou Espanha, respetivamente (2.3% para Portugal).
As semelhanças entre estrutura dos mercados e da composição do PIB entre economias dentro e fora da área do euro parecem explicar melhor diferenças de evolução do PIB e capacidade de reação a choques externos que a mera participação ou não no euro. Hungria, Rep. Checa, economias bálticas, Eslovénia e Eslováquia, sujeitas a quadros institucionais diferentes, e adotando políticas económicas diversas, obtiveram resultados económicos idênticos. Por seu lado, receituário idêntico (ao aplicado pelas economias bálticas) produziu resultados distintos nas economias do Sul da Europa. Por conseguinte, mais importante que as obrigações impostas pelo euro às economias participantes, a capacidade de resposta destas ainda radica nas suas condições originais. Portanto, ações sobre estas condições iniciais combinadas com receitas de ajustamento feitas à medida das necessidades poderão ditar o sucesso das economias europeias, dentro e fora do euro.
Economista