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"Education is power"

Foi publicado recentemente um estudo da U-Multirank, uma plataforma que caracteriza algumas instituições de ensino superior, a nível internacional, no que diz respeito a diversos critérios como aprendizagem e ensino, investigação, transferência de conhecimento, orientação internacional e compromisso regional.

 

A notícia que surgiu na passada semana indica que seis instituições portuguesas se encontram entre as melhores do mundo, apresentando boas classificações nos diversos itens mas falhando, comparativamente, nos capítulos da transferência de conhecimento e no ensino e aprendizagem.

 

Nem de propósito, a última edição da revista Economist apresenta um relatório especial sobre Universidades que aconselho vivamente e que também pega no estudo supra citado. Desde a capa que afirma que todos irão para a Universidade (questionando se valerá a pena?), ao texto de abertura, fechando com o dossiê especial, há imensas referências à dimensão que o ensino superior americano tem e aos problemas com que se defronta face à quebra que se assiste nas capacidades dos alunos que saem das suas fileiras e à incapacidade para reduzir as assimetrias entre mais ricos e mais pobres da sua população. Há ressalvas especiais para o Grupo Laureate, do qual pouco se sabe (1), e que apresenta receitas anuais globais de mais de 3,5 mil milhões de euros e que certamente terá nos próximos anos como docentes ou gestores em Portugal alguns dos mais prolíficos professores, investigadores e governantes do nosso País, onde controla hoje a Universidade Europeia (ex-ISLA Lisboa), o IADE e o IPAM.

 

Nos EUA, a realidade oposta surge no que respeita à produção científica, onde os professores e investigadores vêm multiplicando a produção de artigos citados milhões de vezes e que, efetivamente, têm vindo a ser utilizados como os critérios base para a avaliação e acreditação das instituições de ensino superior, mormente em Portugal onde a Agência de Avaliação existente insiste até à exaustão mais na perspetiva da publicação do artigo do que na qualificação e satisfação daquele que deveria ser o elemento fundamental do processo de ensino - o aluno.

 

Assim, e face ao exposto, a conclusão a que estes estudos chegam é que o importante para as universidades de topo, é fazer um processo de seleção à entrada bastante exigente e exclusivo, de um número reduzido de alunos (entenda-se por reduzido o que entra na instituição como discente, face à capacidade existente na mesma). E esta opção tem uma razão de ser, mais uma vez descrita nos artigos que venho citando - o processo de seleção dos empregadores foca-se mais na instituição de ensino superior de onde o candidato é originário, que nas suas reais capacidades observadas. Já agora, o segundo aspeto considerado mais relevante no referido processo é o das atividades extracurriculares (preferencialmente os desportos coletivos).

 

Esta crítica é a mesma que é feita mais incisivamente às instituições analisadas no estudo da U-Multirank e que já referi no primeiro parágrafo e que tem promovido, no meu entender um erro na desvalorização no saber-fazer e nas competências pedagógicas dos docentes, que passa muitas vezes pela utilização de docentes não doutorados, sendo os mesmos profissionais de mão-cheia nas suas áreas de intervenção.

 

Por fim, e porque estamos em tempos de grande preocupação e de teorias da conspiração que se vêm concretizando, aconselho a leitura do Relatório Anual de Segurança Interna  onde se expressa uma preocupação, a meu ver legítima sobre modelos de apropriação de informação crítica existente em "unidades académicas e de investigação de valor estratégico". Esta situação, associada ao facto de Portugal estar na mira do Mundo face às suas pretensões relativas à plataforma continental, deverá fazer pensar o Governo e as autoridades portuguesas na necessidade de um apoio legítimo, equilibrado e distribuído, financeiro e político às instituições que prosseguem objetivos de investigação e de educação e formação, regulando com cautela os interesses de estrangeiros sobre as mesmas.

 

(1) O texto utilizado no artigo Privatisation - Mix and match" é "The biggest provider of higher Education that nobody has ever heard of is Laureate, an American for-profit Education company".

 

Administrador ISG

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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