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Da velhice no novo milénio

É assim altura de criar um modelo de garantia financeira que apoie as gerações mais velhas. Este modelo poderá quanto a mim ser suportado pela recuperação de um imposto pouco querido em Portugal, mas que tem vindo a ser referido como essencial para o equilíbrio das contas públicas.

 

Na semana transata dois assuntos interligados chamaram a minha atenção. O primeiro foi uma apresentação muito interessante sobre a geração millennium, dos nascidos entre 1980 e 2000, com as diversas características e potencialidades a eles associados(1). Aconselhando também a leitura de um estudo em português publicado em 2012 pela consultora PwC(2), verifica-se que a realidade desta geração, que nos EUA atinge os 86 milhões de pessoas, passa por diversos aspetos que, quando comparados com as gerações anteriores, demonstram que são mais conservadores nos seus investimentos, representam 38% da atual força de trabalho, têm maiores níveis de formação e não contam que a segurança social lhes dê o sustento relevante quando se reformarem (o que também pensam fazer o mais tarde possível). Mas o ponto mais divulgado da análise feita aos dados americanos é de que esta geração irá herdar dos seus pais um valor na ordem dos 30 triliões de dólares. Ou seja, terão comportamentos que direta ou indiretamente resultam de um conforto patrimonial que os leva a tomar opções muito diferentes dos que pertencem às gerações que lhes deixam o referido valor.

 

Puxando esta realidade para Portugal observamos também uma tendência de aumento da taxa de poupança, que está agora em valores anteriores a 2000, de cerca de 10% do rendimento disponível, apesar (ou por causa) da crise e a manutenção de taxas elevadas de posse de casa própria (75% da população). Toda esta realidade é promovida tendo em fim último o prolongamento de uma vida cada vez mais longa e poderá contar-se que, de facto, a geração de que aqui se fala, também em Portugal, irá herdar valores significativos.

 

No entanto, o segundo aspeto que me chamou à atenção foi a menção do Papa Francisco de que cada vez mais se assiste a um tratamento descartável dos mais velhos. Aquilo que ele intitula como um pecado é o que se assiste cada vez mais, com famílias a deixar os seus mais idosos abandonados em hospitais ou em casa, apropriando-se do património acumulado. Vai-se observando uma preocupação legítima sobre a pressão psicológica (e por vezes física) que se vai exercendo sobre os mais frágeis da nossa sociedade.

 

É assim altura de criar um modelo de garantia financeira que apoie as gerações mais velhas. Este modelo poderá quanto a mim ser suportado pela recuperação de um imposto pouco querido em Portugal, mas que tem vindo a ser referido como essencial para o equilíbrio das contas públicas - o imposto sobre sucessões e doações. Este equilíbrio deverá ser assumido num tempo em que a segurança social necessita de um reforço de capitais que permitam garantir uma vida sã e equilibrada dos que acima indiquei. Independentemente de pessoalmente achar que a carga fiscal é excessiva em Portugal e que se justifica manter uma estratégia de redução da despesa pública, entendo que não é legítimo que muitos dos que recebem dos seus "doadores" a totalidade (livre de impostos) do seu património, sejam os mesmos que quando surgem as maiores necessidades se refugiem em exigências ao Estado e que escamoteiem as suas obrigações, materiais e morais. O modelo poderá ser aberto, criando-se uma "conta corrente" em que se necessário for apoiar um cidadão que tenha doado o seu património, os que dele beneficiam deverão, até certos limites, reembolsar o Estado dos gastos que este incorra e que aqueles não queiram assumir.

 

(1)https://info.federatedinvestors.com/Millennials.html?mkt_tok=3RkMMJWWfF9wsRoluKTMZKXonjHpfsX76uopW660lMI%2F0ER3fOvrPUfGjI4CTcpgI%2BSLDwEYGJlv6SgFQrjAMbFs17gFXBg%3D

 

(2)http://www.pwc.pt/pt/Human-Capital/imagens/2012/PwC_Portugal_Millennials_Work_10m.pdf

 

Administrador ISG

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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