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Precisamos de novas empresas? Sim, mas...

Pegando nas críticas à baixa produtividade, e às responsabilidades que o ministro atribuiu aos bancos nesse domínio, Siza Vieira devia ter lembrado que Portugal tem de perder o terrível complexo de salvar empresas que não têm salvação.

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A FRASE...


“É preciso estimular o aparecimento de novas empresas que desenvolvam novos modelos de atividade e novos produtos e serviços à volta da economia digital.”


Pedro Siza Vieira, Jornadas parlamentares do PS, 29 de janeiro de 2020

A ANÁLISE...


Siza Vieira é o governante mais sensato de António Costa. É o que tem menos complexos ideológicos e quem, com tento no verbo, vai dizendo algumas verdades ao partido e à oposição de extrema-esquerda. Foi o que sucedeu na semana passada nas jornadas parlamentares do Partido Socialista. O ministro da Economia lembrou que as linhas com que se cose a economia tradicional têm de mudar e que o salto de desenvolvimento de que Portugal precisa pode ser conseguido pela aposta no conhecimento.

Não é a primeira vez que o ministro da Economia (e Transição Digital) fala dos desafios do país: algumas semanas antes já havia tocado no problema da produtividade. Até aqui tudo bem. Mas também não é a primeira vez que Siza Vieira, provavelmente por razões políticas, deixa a análise incompleta: se Portugal precisa de novas empresas, também precisa de fechar as que não são produtivas. E são muitas…

Pegando nas críticas à baixa produtividade, e às responsabilidades que o ministro atribuiu aos bancos nesse domínio, Siza Vieira devia ter lembrado que Portugal tem de perder o terrível complexo de salvar empresas que não têm salvação. Nomeadamente aquelas que por cada dificuldade que enfrentam, pedem a ajuda do Estado. Seja pela concessão de subsídios, seja pelas facilidades no pagamento de impostos e/ou de contribuições para a Segurança Social, seja pela pressão para manter postos de trabalho que não fazem sentido (a propósito, sabe quantos postos de trabalho desnecessários a Altice mantém?).

Mais: o ministro mais sensato do Governo deveria ter dito aos seus pares que os recursos que os governos (de direita e de esquerda) dedicam a salvar empresas inviáveis são recursos que fazem falta para deixar florescer as empresas novas, com modelos de negócio inovadores.

É uma mensagem dura para passar aos deputados do partido? É, até porque muitos deles não veem mais nada à frente senão socialismo. Mas alguém tem de fazer isso. E quem melhor para o fazer do que um ministro que não precisa do Governo para ter currículo?

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com



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