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17 de Janeiro de 2021 às 17:28

Um Presidente de alguns portugueses

Estas eleições serão diferentes. Para pior. Faltará por isso vontade de participar. Mas isso não nos deve desobrigar de cumprir o nosso dever. Por mais que nos custe. Sendo todos os portugueses detentores dos mesmos direitos, a verdade é que apenas ficará expressa a vontade daqueles que forem votar.

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Em 2016 a taxa de abstenção nas eleições presidenciais foi superior a 51%. Em 2011, na reeleição de Cavaco Silva foi superior e ultrapassou os 53%. Parece normal presumir que desta vez será ainda pior. Será 55%, será 60% ou chegará aos 70% habituais nas europeias? Ninguém sabe. A pandemia, o frio ou a chuva, a confusão das medidas de confinamento, a organização das mesas de voto e das rondas pelos lares, as desorientações dos candidatos, podem levar a uma situação inédita de alheamento do processo eleitoral e, consequentemente, a uma avaliação muito pouco fundamentada dos resultados e da verdadeira representatividade das diferentes forças em presença. As empresas de sondagens nunca tiveram tanta dificuldade em prever os resultados. A abstenção vai subir. Mas a falta de comparência não será apenas dos habituais desinteressados. Desta vez será também dos que não podem ir ou não arriscam sair de casa. Certamente os mais velhos, mas não apenas estes. Os mais novos também. Haverá motivação para cumprir este dever cívico? Quantas famílias, de forma livre ou “empurradas”, compareciam juntas nas mesas de voto em eleições anteriores? Voltará a acontecer?

Acresce que os candidatos estão a ajudar o mais que podem na desmobilização dos eleitores. Marcelo assume que já ganhou e que não terá de se esforçar muito enquanto candidato. Basta-lhe continuar a ser Presidente. Não terá ações de campanha, não tem cartazes, não usou os tempos de antena nem para apelar à participação dos eleitores, enfim, abaixo dos mínimos. Dá umas entrevistas de quando em vez para tentar marcar a agenda. E os jornalistas, normalmente amigos, fazem o resto. Ana Gomes vai querendo aparecer. Mas seria melhor que assim não fosse. À medida que sente que não está a subir nas intenções de voto, vai-se tornando a verdadeira Ana Gomes. Desbocada, agressiva, moralista sem substância, vai atirando contra tudo e contra todos arriscando-se até a perder os socialistas que não se convenceram a votar em Marcelo. Marisa Matias parece estar desconfortável com o papel. Ficou o sorriso, mas perdeu-se a empatia. Deixou sequer de tentar convencer. Insiste na agenda estafada do Bloco, no combate aos poderosos, leia-se privados, da saúde e fala vagamente de mais direitos para isto e mais direitos para aquilo. Nem sei bem o que seja isto ou aquilo. André Ventura lá anda na rua sempre bem escoltado por um corpo de segurança pessoal que impressiona e consegue ser maior do que a comitiva de todos os outros candidatos juntos. Anda à procura da polémica e da confrontação. Se não lhe ligam ele arranja forma de chamar a atenção. E quando o faz, de forma cada vez mais desabrida e por vezes até mal-educada, tem logo a ajuda da comunicação social que insiste na técnica de o atacar tanto que as pessoas até ficam com alguma simpatia por ele. Tiago Mayan é uma surpresa dizem-nos todos os dias os comentadores do costume. Presumo que as expectativas eram tão baixas que o simples facto de se ter conseguido exprimir foi surpreendente. Vai ganhando qualquer coisa por comparação entre um Marcelo desaparecido e um Ventura em velocidade excessiva. Mas provavelmente não passará da Costa do Estoril e da Foz. João Ferreira é o mesmo que se apresentou como candidato a Lisboa ou ao Parlamento Europeu. Educado, fluente, profundo conhecedor da cartilha do seu partido, quer garantir que o PCP não perca influência de eleição em eleição. É que se assim for já não valerá a pena chegar a secretário-geral. Vitorino Silva repete a dose de 2016. Com algumas novas metáforas. Se repetir o resultado poderá não ser o último classificado. É o único que não tem nada a perder.

Estas eleições serão diferentes. Para pior. Faltará por isso vontade de participar. Mas isso não nos deve desobrigar de cumprir o nosso dever. Por mais que nos custe. Sendo todos os portugueses detentores dos mesmos direitos, a verdade é que apenas ficará expressa a vontade daqueles que forem votar. Não comparecer é permitir que escolham por nós. Que ninguém se venha queixar depois. Um Presidente eleito por alguns portugueses dificilmente será um bom Presidente de todos os portugueses. E Portugal, à falta de melhor noutros órgãos de soberania, precisa de um bom Presidente.

Jurista

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