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IPO do Porto faz bem melhor a combater o mal

A maior prestadora de cuidados nacionais de oncologia ousou revolucionar, criando 11 clínicas de patologia, o que representa uma inovação na organização hospitalar. Faz mais, melhor e com menos custos. Nível médio de satisfação do doente: 95%.

21 de Setembro de 2017 às 10:00
A organização do IPO do Porto, que tem 11 clínicas de patologia, permite centralizar num único espaço os meios técnicos e humanos de apoio ao doente relacionadas com a patologia. Pedro Trindade
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Verão de 2015: o conceituado "hairstylist" Vasco Freitas começou a sentir "uma pressão gigante" na veia cava, parecia que lhe "faltava o ar". Dirigiu-se ao hospital. Detectaram-lhe um linfoma na zona abdominal – "tinha 19 centímetros de diâmetro". Foi direccionado para o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto. "Tive consulta logo no dia seguinte. Inscrevi-me então como ‘sócio´ do IPO", brinca, hoje, sabendo que os tratamentos, sobretudo os de quimioterapia, tiveram "um final feliz".

Desde Janeiro do ano passado, quando abriu o seu salão de cabeleireiro na prestigiada zona portuense da Foz-do-Douro,  que só volta ao IPO do Porto de seis em seis meses para controlar a situação. "Fui muito bem tratado. Foram impecáveis. É impressionante a forma como está tão bem organizado", elogia Vasco Freitas, referindo-se ao acesso e à qualidade dos serviços daquela instituição, que abriu a uma semana do 25 de Abril de 1974, pelo que não chegou a ter inauguração oficial.

Foi em 1907 que se começaram a dar os primeiros passos na organização da luta contra o cancro em Portugal. Um século mais tarde, em 2007, o IPO do Porto arrancava com uma revolução organizacional no tratamento das doenças oncológicas, com a abertura da Clínica de Mama. 

"O IPO do Porto tem os doentes em internamento mais complexos da rede hospitalar nacional e, simultaneamente, o custo por doente padrão mais baixo do país. Sentimo-nos injustiçados [em termos de financiamento público.]" José Laranja, Pontes Presidente do IPO do Porto

Desde então, abriu mais uma dezena de clínicas, abrangendo todas as patologias de cariz oncológico – cabeça e pescoço, ginecologia, onco-hematologia, digestiva, pediatria, urologia, pulmão, sistema nervoso, tumores endócrinos, e a de pele, tecidos moles e osso. Uma estrutura organizativa que permite centralizar num único espaço os principais meios técnicos  e humanos de apoio ao doente, relacionados com a  patologia, proporcionando um tratamento centrado no doente e multidisciplinar em toda a sua abordagem.

"Esta organização permitiu uma gestão mais eficiente, aumentando a produtividade, a qualidade dos serviços, o acesso e a satisfação dos utentes", garante José Laranja Pontes, presidente do IPO do Porto desde 2006 e o promotor principal desta inovação organizacional. Resultado: "O IPO do Porto tem os doentes em internamento mais complexos da rede hospitalar nacional e, simultaneamente, o custo por doente padrão (2.241 euros) mais baixo do país", afiança o mesmo gestor.

No caso da Clínica de Mama, desde 2007 que se registou, por exemplo,  um aumento de 25% de  novos doentes e mais 39% de cirurgias, e reduções de 45% no tempo de espera e 68% no custo de uma consulta. "Em 2016, o nível médio de satisfação global dos utentes foi de 95%, sendo que a taxa de sobrevivência a cinco anos [doentes vivos em todos os tipos de cancro] é de 60%, acima da média europeia", enfatiza Francisco Rocha Gonçalves, vogal da administração do IPO do Porto. 

E é com esta série de rácios de eficiência e de qualidade que Laranja Pontes clama por um financiamento público assente nos indicadores de desempenho.  "Sentimo-nos injustiçados. Chegámos a receber 140 milhões de euros, agora vai nos 103 milhões, sendo que há instituições com quem nos comparamos que têm menos 30% de produção e que recebem apenas menos 3% do que nós", lamenta o presidente do IPO do Porto.

A maior prestadora de cuidados nacionais de oncologia, com cerca de 10 mil novos doentes, 260 mil consultas, nove mil cirurgias, mais de 12 mil internamentos, num total de "900 mil contactos" anuais, emprega dois mil profissionais, dos quais 300 médicos e 700 enfermeiros.

Todos eles encontram nas paredes dos corredores do IPO do Porto citações que os afastam do mal e os incitam para o bem, como esta do escritor Thomas Mann: "A esperança é a melhor coisa na vida." 


caso de inovação

Clínicas de Patologia
Gestão organizacional

Na generalidade dos hospitais, a estrutura organizacional tem por base especialidades, "fragmentando-se dessa forma o processo de tratamento da doença", o que "compromete a eficiência, a satisfação dos utentes, a qualidade dos serviços e o acesso". No caso do tratamento de doenças complexas, como o cancro, o IPO do Porto, considerando que aquele "exige a intervenção de múltiplas especialidades de forma integrada", decidiu centralizar num único espaço os principais meios técnicos e humanos de apoio ao doente, relacionados com a patologia em causa. Começou em 2007, com a abertura da Clínica de Mama, o que representou uma inovação da estrutura organizacional dos hospitais. Actualmente integra 11 clínicas.



a figura

Fátima Teixeira
Enfermeira-coordenadora

Já leva 27 anos de trabalho no IPO do Porto, que corresponde a cerca de metade dos seus 53 de idade. Fátima Teixeira passou por "vários serviços", até que se fixou, em 2002, no tratamento das doenças oncológicas do tubo digestivo. Com a criação da Clínica de Patologia Digestiva, em 2010, assumiu o cargo de enfermeira-coordenadora desta unidade. E tudo mudou. "Com esta organização clínica, o nosso trabalho começou a ser mais direccionado por patologia, proporcionando um tratamento centrado no doente e nas suas necessidades", explicou. Com cerca de 1.400 novos doentes e 50 mil consultas anuais, a ‘sua’ clínica é considerada "a mais complexa" das 11 do IPO do Porto.

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