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António Ramalho: "Temos de melhorar o número de mercados parceiros"

António Ramalho diz que a "tradicional flexibilidade" das empresas é uma mais-valia porque lhes permite adaptar-se "a cadeias de valor cada vez mais internacionais e deslocalizadas". Mas lembra que o país precisa de ter mais exportadoras.

13 de Outubro de 2017 às 11:47
Sara Matos
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O Negócios e o Novo Banco promovem, pelo sétimo ano consecutivo, a iniciativa "Prémios Exportação e Internacionalização", destinada a premiar as empresas que se distinguem nestas duas áreas. António Ramalho, presidente do Novo Banco, em entrevista por escrito ao Negócios, diz que Portugal ainda tem um "potencial de crescimento muito grande" no domínio das exportações e sublinha que a instituição continua "a apostar em estar com os clientes em todas as fases da sua internacionalização".

 

Como avalia a dinâmica das empresas nacionais em matéria de internacionalização e exportações?

Quando analisamos o crescimento do comércio internacional português, verificamos que as exportações têm desempenhado um importante contributo para o crescimento do PIB nos últimos anos, aliás este facto é evidenciado quando verificamos o incremento do peso das exportações no PIB português. Este peso ascendeu, em 2016, a 40%, que podemos comparar com os 30% de 2010. Pensamos que este é o caminho certo, é o caminho que o tecido empresarial português deverá continuar a seguir e potenciar.

 

Também é de assinalar que, efectuando uma análise desde 1980 do comércio internacional português, foi em 2016 que o excedente comercial nacional atingiu o seu valor mais elevado – 2,4 mil milhões de euros, sendo apenas desde 2013 que a balança comercial do nosso país passou a ser superavitária. O destaque vai para o crescimento das exportações de serviços, com o forte contributo do crescimento da componente "viagens e turismo".

 

Também este ano o crescimento das exportações parece caminhar no bom sentido, pois de acordo com dados do INE, de Janeiro a Julho de 2017, o valor global das exportações de bens aumentou já 11,1% em termos homólogos.

 

O número de empresas exportadoras é ainda bastante reduzido.

 

De referir que as empresas portuguesas também demonstraram capacidade de ajustamento à evolução dos mercados externos e dos seus países parceiros, pois têm mantido os seus fortes parceiros, como Espanha, França, a Alemanha e o Reino Unido, ajustando noutros, extra­-UE, como os países africanos que apresentam maiores volatilidades. Até Julho deste ano, as exportações para a União Europeia cresceram 7,9%, registando uma quota nas exportações totais de 74,5%. As exportações extracomunitárias aumentaram 21,8% em termos homólogos, com as vendas para os mercados norte­-americano e angolano a crescerem, respectivamente, 22,0% e 48,4% face a igual período do ano anterior. O grupo que mais contribuiu para o crescimento global das exportações foi o dos combustíveis minerais, 40,7%, mas temos também crescimentos em nichos interessantes como os produtos agrícolas, que cresceram 21,8%.

 

No entanto, existe ainda um claro trajecto a percorrer e o potencial de crescimento é ainda muito grande. Quando comparamos com outros países de dimensão semelhante a Portugal verificamos que o peso das suas exportações no PIB é bastante superior ao peso das mesmas em Portugal. Economias com mercados internos de menor dimensão têm de procurar outros mercados obrigatoriamente crescendo para fora do país. Também o número de empresas exportadoras em percentagem do total de organizações é ainda bastante reduzido, cerca de 4% (considerando sociedades e os empresários em NI). Portanto, este é um caminho que tem de continuar a ser percorrido e potenciado.

 

Quais são os pontos fortes das empresas nestes dois movimentos?

O nosso país tem "expertises" empresariais em determinados segmentos de negócio muito fortes, que se conseguem afirmar internacionalmente, quer pelo seu nível de inovação quer pela qualidade, quer por factores distintivos inexistentes no resto do mundo. Pensamos nos exemplos da indústria farmacêutica, na indústria da construção, na indústria do papel, na indústria do calçado, na indústria dos moldes, em produtos como o vinho e o azeite, estores com forte afirmação internacional.

 

Existem também alguns factores endógenos do país que se traduzem em vantagens competitivas, como os portos portugueses, onde Portugal tem uma posição privilegiada enquanto frente mais próxima do cruzamento das rotas atlânticas que ligam a Europa à América do Norte, eixo Este-Oeste, e à América Latina e a África, eixo Norte-Sul, podendo funcionar como uma porta atlântica da UE.

 

Os processos de inovação e distinção tornam as empresas mais resilientes.

 

Finalmente a flexibilidade. A nossa tradicional flexibilidade permite adaptarmo-nos bem a cadeias de valor cada vez mais internacionais e deslocalizadas.

 

Em que matérias é possível melhorar?

A questão do número de mercados parceiros é uma questão claramente a melhorar, já que temos 67% das empresas exportadoras a exportarem apenas para um mercado.

 

Continuar também no processo de inovação e distinção, pois estas são empresas mais resilientes e que conseguem ter factores distintivos para penetrarem em mercados externos. Seguir um caminho de incremento na escala de valor, aumento da eficiência, afirmando-nos pela inovação, design e qualidade, e antecipando tendências.

 

Outra ambição é a subida na cadeia de valor, aproximando-nos cada vez mais do cliente final.

No associativismo, na criação de associações e partilha de experiências, o que conduzirá a um melhor conhecimento dos mercados externos, das oportunidades e fragilidades. Como temos exemplo da indústria do calçado, da indústria metalomecânica e outras. Naquilo a que se chama efeito de arrastamento, temos de aprender a fazê-lo de forma sistematizada. Quando uma grande empresa portuguesa ganha um contrato numa determinada geografia, temos de reunir a fileira dos seus fornecedores nacionais e de imediato ajudar a que também eles possam fornecer para esse projecto lá fora.

 

O Novo Banco sente que as empresas que apostam num mercado global, cada vez mais exigente e sofisticado, estão também mais exigentes quanto ao apoio da banca?

A dinâmica que as exportações apresentam conduz a novos desafios para os nossos empresários. Passar fronteiras significa ter novos e diferentes riscos e novas necessidades de financiamento. Nesta medida, a banca tem uma oferta que mitiga esses riscos e tranquiliza os nossos empresários que assim se podem dedicar ao que de facto é importante, o seu negócio. Refiro-me a riscos como o risco de contraparte, o risco de transferência de fundos de outros países ou os riscos cambiais. Neste contexto, nós temos uma sólida oferta que procuramos robustecer permanentemente.

 

Relativamente às necessidades de financiamento, além das soluções tradicionais, posso acrescentar que temos estado muito atentos ao comércio internacional e particularmente às exportações ditas documentárias com prazos diferidos, apresentando hoje aos nossos clientes a possibilidade de um desconto sobre o estrangeiro pré-aprovado para que possam, de uma forma muito simples, ter acesso à antecipação do recebimento de uma exportação.

 

A nossa ideia é ter a capacidade de seguir a movimentação internacional dos nossos clientes para onde quer que vão, para onde quer que exportem, por isso, em momento algum desta nossa história recente, descuramos as fortes relações que temos com a banca correspondente e que nos permitem apoiar os nossos clientes em concursos internacionais através da emissão de garantias bancárias ou através de financiamentos locais.

 

Como é que o Novo Banco se posiciona nestes segmentos de negócio?

Estamos cientes de que todos os mecanismos que possamos colocar à disposição dos nossos clientes e que os conduzam a exportar com segurança terão um impacto no nosso tecido empresarial e consequentemente um impacto directo no crescimento da economia nacional. Este é pois para nós um tema fundamental. Tanto no comércio internacional como no investimento além-fronteiras, é a proximidade aos clientes que nos torna capazes, de em conjunto com eles, estruturar as melhores soluções. Uma equipa de gestores internacionais permanentemente no terreno, aliada a uma forte e reconhecida equipa técnica de "trade finance", é a prova deste nosso compromisso.

 

Mas se demonstrámos nos últimos três anos que somos um banco resistente no apoio às empresas, é altura de assegurar de novo, uma posição liderante na internacionalização das empresas, agora que podemos entrar num novo ciclo de vida da instituição.

 

O Novo Banco continua a apostar em estar com os clientes em todas as fases da sua internacionalização, desde o momento da selecção de potenciais mercados até ao recebimento das primeiras exportações ou à conclusão de investimentos no exterior. Esta iniciativa de premiar os campeões de exportação e de internacionalização é para nós um corolário natural da nossa actividade. Sabemos da importância da partilha de experiências por aqueles que já fizeram o caminho com sucesso. Aliás, é esta convicção de que a partilha de conhecimento pode acelerar os processos de internacionalização que nos leva, em conjunto com a Fundação AIP e AICEP, a recriar o "Ecossistema da Internacionalização" num só dia, num só espaço. Falo do Portugal Exportador que ocorre a 22 de Novembro, em que iremos falar de mercados com oportunidades para as empresas portuguesas, iremos receber as embaixadas e várias associações e teremos muitos dos nossos clientes a contarem as suas vivências internacionais. 

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