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Todos os fios dos Bugatti saem da Coficab

Um em cada dois dos Volkswagen em circulação tem fios e cabos fabricados na Guarda. A Coficab tem uma quota de mercado importante nas principais fabricantes automóveis e é a maior exportadora do concelho.

19 de Janeiro de 2015 às 20:30
Miguel Baltazar
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É afastada do centro da cidade que está a maior empresa da Guarda. A Coficab tem a sua sede já na entrada do Parque Natural da Serra da Estrela. Logo na entrada dissipam-se as dúvidas: as principais marcas automóveis são clientes desta empresa. Todos os fios e cabos dos automóveis de luxo Bugatti saem da cidade mais alta do país. Mas não vão sozinhos. Marcas como a Volkswagen, Peugeot/Citröen e BMW compram aqui quase metade destes componentes.


Em 1993, a americana Delphi e o grupo tunisino Elloumi criaram a Coficab que era, "basicamente, uma produção interna da Delphi" que tinha quatro fábricas em Portugal e três em Espanha, conta João Cardoso, director de operações da empresa. Com a saída da Delphi da Guarda, em 2000, o grupo tunisino passou a ser o único accionista desta empresa de fios e cabos que ligam os vários componentes dos automóveis. Uma mudança que veio acompanhada de uma nova estratégia assente em três eixos.


"O primeiro era diversificar clientes, não queríamos voltar a ficar tão dependentes de um cliente que representava 98% das nossas vendas", explica João Cardoso.


O outro era acompanhar "a deslocalização dos clientes" que se transferiram de Portugal e Espanha principalmente para o norte de África e para o leste da Europa, para fazer junto dos clientes o que era feito em Portugal. "Era impossível continuarmos com a unidade só em Portugal e a fornecer países como a Polónia, a Roménia e a Hungria", adiantou o director de operações da Coficab. A primeira fábrica fora de Portugal foi construída em Marrocos.


O terceiro eixo do plano de negócios assentava na diversificação dos produtos, pois até então a fábrica fazia sobretudo produtos simples de produção em massa. "Cerca de 95% eram fios muito básicos que podiam ser feitos muito rapidamente em qualquer lado e, na altura, decidimos criar uma estratégia diferente em que começaríamos a ir para produtos de alta gama dentro do nosso mercado, que eram praticamente produzidos na Alemanha e na França", refere João Cardoso.


Com este ponto de viragem, a Guarda passou a ser a localização da unidade piloto para novos produtos e novos processos, onde é feito o desenvolvimento para todo o grupo e onde se produzem os produtos mais complexos com menor volume de negócios. Onde estão os principais clientes está uma fábrica da Coficab, até porque "os nossos principais clientes são as nossas próprias fábricas" espalhadas pelo mundo, adianta o director de operações.


O grupo tem actualmente duas fábricas em Marrocos, duas na Roménia, duas na Tunísia, uma no México e está a iniciar a construção de uma segunda na China. Ou seja, as nove unidades activas actualmente vão aumentar para onze no final do ano. Além destes, a Coficab exporta para outros mercados, chegando a quase 50 países.


Esta forte presença internacional tem permitido um grande peso das exportações nas receitas do grupo. As contas de 2014 ainda não estão encerradas, mas as estimativas apontam para que a unidade na Guarda tenha obtido receitas em torno dos 180 milhões de euros, em linha com 2013 que foi o melhor ano de sempre em termos de resultados. Deste total, cerca de 95% das receitas provêm de exportação. "A Coficab exporta, infelizmente, dez  vezes o que exportam todas as outras empresas do tecido industrial da Guarda juntas", realça João Cardoso que lamenta o número reduzido de empresas no concelho. Aliás, a Coficab é responsável por cerca de três quartos do total de exportações deste concelho do interior do país.


Apesar deste peso importante nas exportações da Guarda, o principal ponto forte desta unidade são os "recursos humanos que fomos treinando e desenvolvendo internamente", acredita João Cardoso. "Se não fosse o  valor dos recursos humanos, não fazia sentido nenhum para o grupo tunisino ter uma fábrica em Portugal", conclui. 

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