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Na Guarda ainda se lavam e penteiam lãs

A Têxtil Manuel Rodrigues Tavares tem o único lavadouro que ainda resiste em Portugal. A especialização nas lãs permitiu-lhe atravessar gerações e sobreviver ao desaparecimento de muitas empresas.

19 de Janeiro de 2015 às 20:14
Migiel Baltazar
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Na entrada, três bustos dos três líderes anteriores. Todos da mesma família. A Têxtil Manuel Rodrigues Tavares nasceu no início do século XX e continua a ser uma empresa 100% familiar. Quando foi criada ainda a electricidade não tinha chegado à Guarda e acabou por ser uma das empresas responsáveis por essa inovação. Resistiu ao desaparecimento de "umas dezenas" de empresas do sector no concelho porque decidiu especializar-se nas lãs. E entra em 2015 com optimismo.


"Esta empresa, criada na pequena aldeia dos Trinta, remonta ao início do século XX, ainda movida a água, e fazia fios, lavava lãs e fios e fazia cobertores de papa", conta Manuel Tavares, actual administrador da empresa. Uma geração mais tarde, foi transferida para o centro da cidade. Mas o ponto de viragem surgiu sobretudo no início dos anos 2000 quando o actual administrador e o primo decidiram especializar a actividade no sector das lãs.


O cheiro não engana. Na Têxtil Manuel Rodrigues Tavares, a lã é a matéria-prima. A empresa dá início a este sector com a lavagem de lãs sujas compradas essencialmente em Portugal e Espanha, "mas também recorremos a outros mercados mundiais para podermos ter uma vasta gama de produtos que mais tarde vamos oferecer", explica Manuel Tavares. Contudo, a lavagem da lã é uma actividade que causa problemas ambientais, pelo que é necessário diminuir a carga poluente ao máximo e, com isso, reforçar o investimento nesta área.

 

Esta empresa, criada na pequena aldeia dos Trinta, remonta ao início do século XX, ainda movida
a água, e fazia fios, lavava lãs e fios e fazia cobertores
de papa. 
Manuel Tavares
Administrador da Têxtil Manuel Rodrigues Tavares


Quando, em 2000, decidiram avançar com a nova unidade de lavagem de lãs levaram a cabo um estudo onde concluíram que havia, em Portugal e Espanha, 51 lavadouros em actividade. Hoje existem apenas dois: este na Guarda e outro em Bejar, Salamanca. Muitos dos lavadouros existentes na Europa desapareceram, precisamente pelos elevados custos com a diminuição da carga poluente. Uma preocupação não tão marcada em países como a China, para onde muitas empresas se deslocalizaram. Outras acabaram mesmo por fechar.


A Têxtil Manuel Rodrigues Tavares resistiu a todas essas transformações e, actualmente, além da lavagem de lãs (das suas e de clientes), desenvolve outras actividades: a penteação das lãs e a fiação. Ou seja, os principais produtos desta empresa são as lãs lavadas, as lãs penteadas e fios cardados. À excepção da fiação, cujos produtos chegam apenas até Espanha, nas outras actividades a exportação tem um peso relevante. A exportação directa representa actualmente cerca de 45% da facturação da empresa que, indirectamente, ou seja, considerando a exportação dos clientes, exporta quase 85% daquilo que factura. A Europa é o principal mercado, nomeadamente países como Espanha, Itália, Inglaterra e Alemanha.


As exportações contribuíram para que, em 2014, a Têxtil Manuel Rodrigues Tavares chegasse a um volume de negócios na ordem dos sete milhões de euros. Números que podem este ano melhorar com o contributo da subida do dólar, que aumenta a competitividade das exportações, e também com a queda dos custos com a energia. 

 
Tome nota
Petróleo e euro a cair ditam optimismo
O administrador da Têxtil Manuel Rodrigues Tavares entra em 2015 com optimismo. A queda do petróleo e do euro, bem como a descida dos custos de financiamento, são as justificações.
 

Descida do petróleo corta custos
A energia representa actualmente cerca de 50% dos custos da Têxtil Manuel Rodrigues Tavares. Depois de uma subida de cerca de 150% nos preços em Portugal nos últimos três anos, o administrador da empresa acredita que a queda dos preços do petróleo vai permitir um alívio entre 10% e 15% com estes custos.

 

Subida do dólar ajuda exportações
Na entrada para 2015, a subida do dólar face ao euro é outro factor que contribui para o optimismo da empresa. Com este desempenho, as exportações são facilitadas e tornam-se mais competitivas.

 

Queda dos custos de financiamento
Um terceiro factor que leva a empresa a encarar este ano com olhos mais optimistas é a diminuição do preço do dinheiro que Manuel Tavares espera que comece a chegar às pequenas e médias empresas. Ou seja, o administrador espera sentir uma queda nos juros dos financiamentos.

 

Concorrência da China afecta
A abertura a outros mercados trouxe problemas à indústria têxtil. Países como a China não têm as mesmas preocupações ambientais e, como tal, os mesmos custos, o que acarreta problemas de concorrência, defende Manuel Tavares.

 

Falta de formação académica
O sector têxtil enfrenta actualmente outro desafio: a falta de formação académica nesta área. Nos últimos anos, desapareceram vários cursos superiores nesta área na Europa, restando apenas um pólo de formação têxtil em Itália.

 

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