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O desenvolvimento de um sistema de mensagens militares nas forças armadas dos Emirados Árabes Unidos em termos de produto e software. O fornecimento de sistemas de comunicação a mais de 140 navios, de 12 marinhas, que estão neste momento a navegar por todo o mundo. A implementação, em Portugal, da infraestrutura de telecomunicações da Marinha e do Estado-Maior-General das Forças Armadas.
Estes são alguns exemplos do que faz a EID, empresa especializada em comunicações militares que vai buscar à exportação 60% do seu negócio anual. Fundada em 1983, dedica-se ao desenho, fabrico e fornecimento de equipamentos e sistemas de comunicações para o setor da defesa. Aqui incluem-se as comunicações navais, táticas, mensagens militares e engenharia de sistemas.
Além das forças armadas portuguesas, Espanha, Holanda, Bélgica, Reino Unido, Austrália, Brasil, Argélia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Filipinas, Timor-Leste, Malásia, Bangladesh ou Indonésia são exemplos de países para onde vendem os seus produtos. Aliás, neste último país têm um escritório de representação para estar mais próximo dos clientes e potenciar negócio, ou não fosse o Sudeste Asiático, a par do Médio Oriente, um dos mercados onde estão os principais clientes da EID.
Há depois "mercados especiais", como lhes chama António Marcos Lopes, diretor-geral da empresa. Países como os EUA, a Alemanha, França ou Itália que "têm uma indústria forte nesta área da defesa e, portanto, uma atitude muito protetora. Tentam barrar - embora nem sempre as regras da União Europeia o permitam - a entrada de empresas estrangeiras", explica o responsável. Exemplo oposto é o da Holanda, onde, "há muitos anos, todos os novos navios construídos para a marinha têm, sem exceção, o nosso sistema".
América Latina, Médio Oriente e Ásia no radar
Porque há ainda muito mundo para explorar, a ambição da EID para os próximos tempos passa por "alargar o mercado e entrar em países onde não conseguimos até agora entrar, que ainda são muitos, nomeadamente no Médio Oriente e Sudeste Asiático", adianta Marcos Lopes. "O negócio com a Tailândia, por exemplo, ainda é muito reduzido e queremos crescer. Estamos ainda a desenvolver grandes esforços no Chile e Peru", acrescenta.
Além do apoio da diplomacia portuguesa na internacionalização, o facto de terem passado a ser detidos em 80% pela Cohort faz com que contem agora também com a diplomacia britânica. "A organização deles no seio das embaixadas é muito poderosa e fomenta contactos ao mais alto nível", diz António Marcos Lopes. Em Portugal, o negócio tem crescido graças a um aumento do investimento estatal em telecomunicações militares.
Estado tem 20% do capital
Nasceu maioritariamente pública e durante o governo de Pedro Passos Coelho, e no âmbito da extinção da Empordef (ainda em curso), esteve para ser totalmente privatizada mas o executivo de António Costa acabaria por decidir manter uma posição pública, de 20%. Destes, 18% são da Empordef e os restantes 2% do IAPMEI.
20
Faturação
A EID regista, em média, um volume de negócios anual de 20 milhões de euros.
60%
Exportação
A exportação representa atualmente 60% do negócio da empresa.
80%
Cohort
A maioria do capital pertence, desde 2017, aos britânicos da Cohort.
Fatura, em média, 20 milhões de euros por ano. Deste bolo, 12% são reinvestidos em inovação e investigação.
O sigilo vale ouro
Na unidade de produção, todos os cuidados são poucos para garantir o sigilo e confidencialidade do que é produzido e para quem. Ou não fossem os clientes da EID as forças armadas de vários países.
A EID garante todo o processo de produção até ser entregue ao cliente final: faz pesquisa, desenvolvimento, produção, fornecimento e suporte logístico integrado dos equipamentos de comunicações que fornece.
Tal implica, por exemplo, testar se os equipamentos resistem a grandes oscilações de temperatura ou, em alguns casos, a interferências na radiofrequência dos aparelhos.
No apoio pós-venda, a EID consegue fazer acompanhamento à distância. Se um navio que está na Austrália reportar uma anomalia, é possível reproduzir a arquitetura e o software do sistema de comunicações daquele navio em Portugal e tentar perceber o que se passa e dar instruções remotas.
Perguntas a António Marcos Lopes
Diretor-geral da EID
A arte da diplomacia é a alma do negócio
Operar na defesa implica uma gestão com pinças. Conflitos e litígios entre países obrigam a cuidados redobrados nos mercados em que se escolhe estar presente. E sendo uma empresa europeia, as diretrizes comunitárias quanto ao fornecimento militar deste ou daquele país balizam sempre as relações comerciais externas da EID.
Como se concilia a vossa internacionalização com, por exemplo, litígios entre dois países que sejam ambos potenciais clientes?
Não é fácil. Por exemplo, temos bastantes clientes árabes e muçulmanos. Se fizéssemos negócios com Israel, perderíamos completamente aqueles clientes. A nossa escolha de mercados tem de ter em conta esse tipo de questões.
Isso implica ter um grau de risco e incerteza elevado?
Há mercados mais estáveis. Noutros estamos sempre muito condicionados por este tipo de situações. Podemos estar a fazer negócio num país e, de repente, a União Europeia (UE) proíbe a exportação de produtos militares para esse país. Seja como for, nós, para vendermos a países fora da UE, precisamos de uma licença de exportação emitida pelos Ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros.
Antes mesmo de ponderarem determinado mercado?
Muitas vezes temos de perguntar primeiro para ver se vale a pena sequer uma incursão a um determinado mercado. É curioso que quem não conhece bem estes mecanismos pensa que os europeus vendem material militar para tudo quanto é país e que fomentam conflitos. Isso não é verdade. Nós - países da União Europeia - não conseguimos vender determinados produtos para determinados países. As movimentações dos nossos equipamentos são todas controladas à saída de Portugal e fronteiras europeias. E é exigido um certificado de utilizador final ao cliente, seja um exército, uma marinha ou o Ministério da Defesa de um país, garantindo que não vai vender a terceiros sem o aval do país de origem.
A força militar dos países media-se pelo seu arsenal. Hoje, cada vez mais, a inovação tecnológica e o acesso à informação são determinantes. Como é que isso vos afeta?
Sim, a informação é poder, e corre-se sempre o risco de ser desviada. Uma das grandes preocupações hoje das forças armadas em todo o mundo é a cibersegurança e é uma das áreas em que estamos a investir. Houve uma altura em que era sobretudo nas infraestruturas terrestres. Hoje a preocupação estende-se às comunicações táticas e meios móveis.