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EID está nos quatro cantos do mundo e quer mais

O fabricante de sistemas e equipamentos de comunicações militares português quer reforçar no Médio Oriente e Sudeste Asiático e avançar para o Chile e o Peru.

29 de Agosto de 2019 às 15:15
Os produtos fabricados na EID, seja para comunicações navais, táticas, mensagens militares ou engenharias de sistemas, têm de ter uma durabilidade muito superior ao que acontece na área do consumo. David Cabral Santos
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O desenvolvimento de um sistema de mensagens militares nas forças armadas dos Emirados Árabes Unidos em termos de produto e software. O fornecimento de sistemas de comunicação a mais de 140 navios, de 12 marinhas, que estão neste momento a navegar por todo o mundo. A implementação, em Portugal, da infraestrutura de telecomunicações da Marinha e do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

Estes são alguns exemplos do que faz a EID, empresa especializada em comunicações militares que vai buscar à exportação 60% do seu negócio anual. Fundada em 1983, dedica-se ao desenho, fabrico e fornecimento de equipamentos e sistemas de comunicações para o setor da defesa. Aqui incluem-se as comunicações navais, táticas, mensagens militares e engenharia de sistemas.

Além das forças armadas portuguesas, Espanha, Holanda, Bélgica, Reino Unido, Austrália, Brasil, Argélia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Filipinas, Timor-Leste, Malásia, Bangladesh ou Indonésia são exemplos de países para onde vendem os seus produtos. Aliás, neste último país têm um escritório de representação para estar mais próximo dos clientes e potenciar negócio, ou não fosse o Sudeste Asiático, a par do Médio Oriente, um dos mercados onde estão os principais clientes da EID.


Há depois "mercados especiais", como lhes chama António Marcos Lopes, diretor-geral da empresa. Países como os EUA, a Alemanha, França ou Itália que "têm uma indústria forte nesta área da defesa e, portanto, uma atitude muito protetora. Tentam barrar - embora nem sempre as regras da União Europeia o permitam - a entrada de empresas estrangeiras", explica o responsável. Exemplo oposto é o da Holanda, onde, "há muitos anos, todos os novos navios construídos para a marinha têm, sem exceção, o nosso sistema".

América Latina, Médio Oriente e Ásia no radar

Porque há ainda muito mundo para explorar, a ambição da EID para os próximos tempos passa por "alargar o mercado e entrar em países onde não conseguimos até agora entrar, que ainda são muitos, nomeadamente no Médio Oriente e Sudeste Asiático", adianta Marcos Lopes. "O negócio com a Tailândia, por exemplo, ainda é muito reduzido e queremos crescer. Estamos ainda a desenvolver grandes esforços no Chile e Peru", acrescenta.


Além do apoio da diplomacia portuguesa na internacionalização, o facto de terem passado a ser detidos em 80% pela Cohort faz com que contem agora também com a diplomacia britânica. "A organização deles no seio das embaixadas é muito poderosa e fomenta contactos ao mais alto nível", diz António Marcos Lopes. Em Portugal, o negócio tem crescido graças a um aumento do investimento estatal em telecomunicações militares.

Estado tem 20% do capital

Nasceu maioritariamente pública e durante o governo de Pedro Passos Coelho, e no âmbito da extinção da Empordef (ainda em curso), esteve para ser totalmente privatizada mas o executivo de António Costa acabaria por decidir manter uma posição pública, de 20%. Destes, 18% são da Empordef e os restantes 2% do IAPMEI.



20
Faturação
A EID regista, em média, um volume de negócios anual de 20 milhões de euros.

60%
Exportação
A exportação representa atualmente 60% do negócio da empresa.

80%
Cohort
A maioria do capital pertence, desde 2017, aos britânicos da Cohort.


Fatura, em média, 20 milhões de euros por ano. Deste bolo, 12% são reinvestidos em inovação e investigação.

O sigilo vale ouro

Na unidade de produção, todos os cuidados são poucos para garantir o sigilo e confidencialidade do que é produzido e para quem. Ou não fossem os clientes da EID as forças armadas de vários países.

A EID garante todo o processo de produção até ser entregue ao cliente final: faz pesquisa, desenvolvimento, produção, fornecimento e suporte logístico integrado dos equipamentos de comunicações que fornece.

Tal implica, por exemplo, testar se os equipamentos resistem a grandes oscilações de temperatura ou, em alguns casos, a interferências na radiofrequência dos aparelhos.

No apoio pós-venda, a EID consegue fazer acompanhamento à distância. Se um navio que está na Austrália reportar uma anomalia, é possível reproduzir a arquitetura e o software do sistema de comunicações daquele navio em Portugal e tentar perceber o que se passa e dar instruções remotas.


Perguntas a António Marcos Lopes
Diretor-geral da EID

A arte da diplomacia é a alma do negócio

Operar na defesa implica uma gestão com pinças. Conflitos e litígios entre países obrigam a cuidados redobrados nos mercados em que se escolhe estar presente. E sendo uma empresa europeia, as diretrizes comunitárias quanto ao fornecimento militar deste ou daquele país balizam sempre as relações comerciais externas da EID.

Como se concilia a vossa internacionalização com, por exemplo, litígios entre dois países que sejam ambos potenciais clientes?
Não é fácil. Por exemplo, temos bastantes clientes árabes e muçulmanos. Se fizéssemos negócios com Israel, perderíamos completamente aqueles clientes. A nossa escolha de mercados tem de ter em conta esse tipo de questões.

Isso implica ter um grau de risco e incerteza elevado?
Há mercados mais estáveis. Noutros estamos sempre muito condicionados por este tipo de situações. Podemos estar a fazer negócio num país e, de repente, a União Europeia (UE) proíbe a exportação de produtos militares para esse país. Seja como for, nós, para vendermos a países fora da UE, precisamos de uma licença de exportação emitida pelos Ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros.

Antes mesmo de ponderarem determinado mercado?
Muitas vezes temos de perguntar primeiro para ver se vale a pena sequer uma incursão a um determinado mercado. É curioso que quem não conhece bem estes mecanismos pensa que os europeus vendem material militar para tudo quanto é país e que fomentam conflitos. Isso não é verdade. Nós - países da União Europeia - não conseguimos vender determinados produtos para determinados países. As movimentações dos nossos equipamentos são todas controladas à saída de Portugal e fronteiras europeias. E é exigido um certificado de utilizador final ao cliente, seja um exército, uma marinha ou o Ministério da Defesa de um país, garantindo que não vai vender a terceiros sem o aval do país de origem.

A força militar dos países media-se pelo seu arsenal. Hoje, cada vez mais, a inovação tecnológica e o acesso à informação são determinantes. Como é que isso vos afeta?
Sim, a informação é poder, e corre-se sempre o risco de ser desviada. Uma das grandes preocupações hoje das forças armadas em todo o mundo é a cibersegurança e é uma das áreas em que estamos a investir. Houve uma altura em que era sobretudo nas infraestruturas terrestres. Hoje a preocupação estende-se às comunicações táticas e meios móveis.

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