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CSP: Os semicondutores da Caparica

Da medicina aos comboios de alta velocidade, passando pela indústria militar e aeroespacial e centrais nucleares, são muitas as utilizações dos produtos da CSP.

29 de Agosto de 2019 às 14:45
As mãos que minuciosamente trabalham os semicondutores da CSP, que correm depois o mundo, são sobretudo femininas nesta empresa de 150 funcionários. David Cabral Santos
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Dizer que o que se fabrica na CSP são semicondutores, componentes eletrónicos para retificação e controlo de corrente elétrica (neste caso nas potências médias e altas), talvez diga muito pouco ou mesmo nada à maioria das pessoas. A utilização final destes produtos, pelo contrário, é muito concreta: aplicações médicas (como desfibrilhadores), indústria militar e aeroespacial, centrais nucleares ou comboios de alta velocidade são exemplos de equipamentos nos quais podem existir semicondutores da CSP.

"Temos componentes, por exemplo, aplicados nas centrais nucleares japonesas - nos sistemas de refrigeração, por exemplo - e nos comboios de alta velocidade japoneses", explica Hamilton Seiroco, administrador da Componentes Semicondutores de Portugal (CSP) desde 2017.

Localizada na Charneca da Caparica, a empresa é o maior empregador do concelho de Almada, com 150 funcionários, e deverá terminar o ano com cerca de 4,5 milhões de euros de volume de negócios. Tudo o que produz é exportado. "O nosso produto vai para quase todo o mundo, na realidade. Cerca de 50% para a Europa, 20% para a Ásia e o resto para a América", adianta o responsável.

Tudo o que a CSP produz é exportado. O nosso produto vai para quase todo o mundo. Cerca de 50% para a Europa, 20% para a Ásia e o resto para o continente americano. Hamilton Seiroco
Administrador da Componentes Semicondutores de Portugal (CSP) 

A aquisição, em 2017, desta empresa, até então 100% portuguesa, por uma multinacional norte-americana, a Littelfuse, mudou a nacionalidade do capital mas também o investimento na CSP.

Hamilton Seiroco explica que o cenário de então estava longe de ser animador. Fundada em 1992, teve "períodos de ouro" enquanto a concorrência não existia. Isso mudou, o que, a par de uma filosofia de gestão "parada no tempo", estava a criar problemas ao negócio.


"A pressão para redução de preço é imensa e isso só se consegue com o aumento da produtividade e da eficiência. É muito complicado competir sem ter recursos", diz este administrador.

Nos últimos dois anos, foi reforçado o quadro de pessoal. Dos cerca de 100 trabalhadores passou para 150 e foram investidos cerca de dois milhões de euros em novos equipamentos.

Um "mundo" de mulheres

Se existe uma visão preconcebida de que o mundo das tecnologias é um universo de homens, a realidade encontrada na CSP não lhe dá razão.

A primeira coisa que salta à vista quando iniciamos a visita à fábrica é que são sobretudo mulheres a compor o quadro de pessoal desta unidade fabril.

Hamilton Seiroco explica que isso não acontece por acaso. A minúcia e a concentração com que as mulheres trabalham é superior e, por isso, são elas que vemos na linha de produção. E a verdade é que existe uma grande componente de trabalho manual ainda nesta empresa. "Temos uma grande flexibilidade e um mix muito elevado de produtos e isso faz com que, consoante as necessidades do cliente, possamos mudar com muita facilidade. Essa flexibilidade é uma das nossas grandes mais-valias", refere.


Passamos por um espaço identificado como "supermercado". "É onde vamos buscar a nossa matéria-prima, que está, assim, mais próxima do sítio onde vai ser usada. Tentamos usar termos que captem a atenção das pessoas", esclarece o administrador da CSP.

Mais à frente passamos por uma zona denominada de "encapsulamento". "Um ‘chip’ de silício tem de estar protegido do ambiente e das oscilações térmicas e químicas. Até porque nós não temos muitas vezes a noção de onde vão ser utilizados. Há uma boa parte do que produzimos que é para distribuidores", adianta Hamilton Seiroco.


150
Trabalhadores
Em dois anos, a CSP aumentou o quadro de pessoal em cerca de 50 pessoas para 150.

100%
Exportação
Nada do que é produzido aqui fica em Portugal. É tudo exportado.

4,5
Faturação
A empresa prevê fechar o ano com 4,5 milhões de euros de volume de negócios.

2
Investimento
Foram investidos dois milhões de euros em novo equipamento nos últimos anos.


Na CSP, o que se faz é executar: "Nenhum destes produtos é nosso; nós estamos numa fase intermédia do processo."

Em termos de concorrência, esta vem sobretudo da Ásia mas não do país mais óbvio, a China. A principal competição vem das Filipinas. Questionado sobre a razão de ser desta fuga à regra, o responsável explica que "estes são produtos de grande valor acrescentado, com muitas patentes associadas", o que implica cuidados acrescidos para evitar fugas de informação.


Perguntas a Hamilton Seiroco
Administrador da CSP

Capacidade de produção duplicou

Apesar de ser uma área tecnológica, o tipo de produto que a CSP fabrica é muito específico e complexo. Ter mão de obra suficiente e com experiência é fundamental para responder às necessidades do mercado dos semicondutores. Nos últimos dois anos, o pessoal passou dos 100 para os 150 funcionários.

Até onde se pode ir nesta área em termos de automação?
No limite, até onde se quiser. Mas nós produzimos componentes muito específicos e não de massas. Nós não fazemos componentes eletrónicos para um smartphone. Temos componentes nossos em bombas que estão a bombear gás natural da Sibéria que chega a Portugal. E isso não tem um volume muito alto. Tem boas margens. E a automação é cara quando precisamos de flexibilidade. Neste segmento, a automação passa muito por incorporar várias atividades em conjunto mas nunca perdendo a flexibilidade.

Qual é o nível de qualificação do quadro de pessoal da CSP?
Cerca de um quarto das pessoas tem formação média ou superior. São responsáveis, grosso modo, pelo chamado trabalho de suporte: engenharia, manutenção, qualidade, logística e compras. Os restantes 75% são trabalho direto. E, mesmo dentro do trabalho direto, temos já 50% com o 12.º ano. Um trabalhador aqui demora cerca de quatro meses até ter um rendimento normal. É um trabalho bastante minucioso, com muito detalhe e uma grande complexidade. E cada trabalhador tem de ter um conhecimento alargado dos diferentes produtos e das diferentes técnicas.

E a média de idades?
A média de idades varia entre os 35 e os 40 anos. Em termos de antiguidade na empresa, e mesmo depois de termos contratado 50 pessoas no último ano, é superior a dez anos.

O que mudou com o reforço de pessoal?
Hoje temos a capacidade de aumentar o nosso volume de produção. Podemos duplicá-lo desde que haja alguma necessidade do mercado, coisa que há dois anos era impossível.

Que perspetivas tem para a empresa para os próximos tempos?
A nossa ambição é claramente melhorar o nosso padrão. Temos de melhorar a nossa eficácia, a nossa rentabilidade, a nossa produtividade. É isso que nos põe num outro patamar de competitividade em relação às outras opções que existem.
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