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A agenda de descarbonização da Europa e de Portugal estabelece metas ambiciosas, como a redução de 55% das emissões de CO2 até 2030 e a neutralidade carbónica em 2050. "Estas metas implicam a descarbonização de todos os setores de atividade", sublinha Diogo Almeida, diretor de Desenvolvimento de Negócios de Hidrogénio da Galp, no primeiro videocast Electric Summit, uma iniciativa do Negócios, da Sábado e da CMTV, em parceria com a Galp, a REN e a Siemens, tendo Oeiras como município anfitrião e a EY como knowledge partner.
Neste contexto, o hidrogénio verde ganha destaque como uma alternativa para descarbonizar setores que não podem ser diretamente eletrificados.
O hidrogénio é amplamente utilizado em indústrias como a refinação, a produção de fertilizantes e de metanol, sendo tradicionalmente obtido a partir de carvão ou gás natural, o que tem um impacto significativo nas emissões de CO2. "A substituição da fonte de produção deste hidrogénio por uma base renovável é, por si só, suficiente para destacar a sua relevância na transição energética", acrescenta Diogo Almeida
Nestas indústrias, uma parte significativa da descarbonização através do hidrogénio ocorre enquanto matéria-prima. No entanto, o hidrogénio também pode contribuir para a descarbonização como combustível, ainda que a opção mais económica seja a eletrificação direta. Como assinala Diogo Almeida, há setores em que são necessárias temperaturas de processo muito elevadas, e a eletrificação não é uma alternativa viável, nem tecnologicamente, nem economicamente. "Nesses casos, o hidrogénio verde será o substituto natural dos combustíveis fósseis, nomeadamente do gás natural", afirma Diogo Almeida.
As indústrias e os custos
Em indústrias como a siderurgia ou a produção de aço, o hidrogénio, além de ser uma fonte de calor, "desempenha um papel na redução do minério e tem uma função química complementar no processo. Já nas indústrias vidreira e cerâmica, o hidrogénio poderá ser a melhor solução para descarbonizar", considera Diogo Almeida.
O principal desafio atualmente é que o custo por unidade de energia do hidrogénio é muito superior ao dos combustíveis convencionais. "Hoje, esta descarbonização implicaria um aumento significativo no custo dos produtos dessas indústrias", alerta Diogo Almeida.
"A urgente redução das emissões obriga a uma aceleração da transição energética, que, em condições normais, poderia demorar entre duas a quatro décadas", alerta Diogo Almeida. Ele ressalta que este processo "tem um custo, pois a tecnologia ainda não atingiu a maturidade necessária". Por isso, "a legislação que a UE tem implementado ao longo dos anos procura garantir que existem os mecanismos — os 'carrot and sticks' — necessários para nos guiar no sentido de atingir estes objetivos. No entanto, os desafios são enormes."
Esta aceleração dos processos criou "incentivos e metas de incorporação que impactam o custo final da energia e, indiretamente, o custo dos bens e serviços. Estamos a pressionar as cadeias logísticas que abastecem estas novas cadeias de valor, adicionando mais pressão às já existentes", sublinha Diogo Almeida.
Na Europa e nos Estados Unidos, existem incentivos à cadeia de valor do hidrogénio, mas há apenas duas formas de aproximar o custo do hidrogénio ao dos combustíveis fósseis. "Por um lado, o desenvolvimento das cadeias logísticas, que permitirá a redução de custos pelo efeito de escala; por outro, a utilização de ferramentas que penalizem os combustíveis fósseis em função das suas emissões", assinala Diogo Almeida.