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Negócios Iniciativas | A revolução na cadeia de valor da energia

A transição energética é um processo longo e complexo. “É quase uma revolução energética, porque há muitas coisas a acontecer simultaneamente”, referiu João Faria Conceição, administrador executivo da REN.

13 de Janeiro de 2025 às 14:00
A REN está a planear realizar duas novas ligações elétricas a Espanha e uma ligação de gás com Espanha, França e Alemanha, destinada ao transporte de hidrogénio verde.
A REN está a planear realizar duas novas ligações elétricas a Espanha e uma ligação de gás com Espanha, França e Alemanha, destinada ao transporte de hidrogénio verde. Duarte Roriz
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A REN está a planear realizar duas novas ligações elétricas a Espanha e uma ligação de gás com Espanha, França e Alemanha, destinada ao transporte de hidrogénio verde.


A transição para energia mais sustentável e renovável é uma mudança estrutural na cadeia de valor da energia. Implica mudanças tecnológicas, de atores, com os agentes tradicionais, as chamadas utilities, estão a ser complementados por novos agentes que entram, como o consumidor. "Este deixou de ser um agente passivo para passar a ser ativo neste processo democratização, que passa a estar mais informado e a poder atuar também no próprio sistema", disse João Faria Conceição, administrador executivo da REN.

Recorrendo à linguagem dos engenheiros, descreveu este processo como "um processo transiente", caracterizado por instabilidade, que "não converge para a solução inicialmente prevista, mas sim para um equilíbrio desejado de maior sustentabilidade, em diferentes níveis." Em Portugal, este percurso tem vindo a ser traçado ao longo do tempo. Trata-se de um processo longo e complexo, no qual ainda há muitas medidas e ações por implementar. Entre janeiro e setembro deste ano, 73% da energia elétrica consumida em Portugal teve origem em fontes renováveis. No entanto, João Faria Conceição sublinhou que, nesse período, a componente hídrica teve um peso significativo em comparação com anos anteriores.

A eficiência energética é a forma de energia mais barata. É a energia que poupamos.

Lembrou ainda que o Reino Unido foi o primeiro país do G7 a anunciar o abandono do carvão na produção de eletricidade. Portugal, por sua vez, encerrou a sua última central a carvão em 2021.

Objetivo 51%

Uma das metas definidas pela Europa para 2030 é o objetivo dos 51%, que abrange toda a energia consumida, incluindo a eletricidade, a energia primária, os combustíveis e outras fontes de energia. João Faria Conceição destacou o grande potencial da eficiência energética, que, para "muitos especialistas, é a forma de energia mais barata. É a energia que poupamos".

O administrador executivo da REN sublinhou a necessidade de acelerar a descarbonização nos transportes e em alguns setores industriais, que dificilmente serão completamente eletrificados. "São medidas que devem ser acauteladas para garantir o cumprimento das metas definidas pela Europa. Estamos bem posicionados para atingir este objetivo, desde que mantenhamos uma política estruturada e estável", afirmou.

A REN, segundo João Faria Conceição, desempenha um papel fundamental na transição energética, operando as redes de transporte de eletricidade e gás natural, bem como a rede de distribuição no norte do país, através da Portgás. "Somos um facilitador da transição energética, porque, sem as redes, não existem infraestruturas capazes de ligar a produção ao consumo", explicou.

Os desafios dos licenciamentos e da regulação

Na opinião do administrador da REN, um dos principais desafios está nos licenciamentos. Reconhece a existência de diferentes perspetivas, a de quem promove projetos considerados importantes e quer vê-los concretizados, e a necessidade de garantir uma lógica de ordenamento do território. "Não é viável cortar o território nacional com infraestruturas de transporte ou distribuição de eletricidade, gás ou outras formas de energia", enfatizou.

Somos um facilitador da transição energética, porque, sem as redes, não existem infraestruturas capazes de ligar a produção ao consumo.

Sem sustentabilidade económica, os investidores não avançam, os projetos não se realizam e a transição energética atrasa-se.
João Faria Conceição
Administrador Executivo da REN

Contudo, alertou que os licenciamentos não devem ser tratados de forma demasiado restritiva, sob pena de comprometerem o processo de transição energética. "A palavra-chave é equilíbrio entre as diferentes partes", afirmou. A transição energética, segundo João Faria Conceição, deve ser economicamente sustentável, cabendo à regulação um papel crucial. "A regulação deve proporcionar sinais de estabilidade e justiça para todas as partes envolvidas. Não se trata apenas de facilitar a vida aos promotores de projetos, mas também de reconhecer que a transição energética implica custos inevitáveis. Caso contrário, já estaria concluída."

João Faria Conceição lembrou ainda que se trata de um setor intensivo em capital e de investimentos a médio e longo prazo. "Sem sustentabilidade económica, os investidores não avançam, os projetos não se realizam e a transição energética atrasa-se", concluiu.

Os investimentos da REN

A REN planeia realizar investimentos em infraestruturas, incluindo duas novas ligações elétricas a Espanha e uma ligação de gás com Espanha, França e Alemanha para o transporte de hidrogénio verde. As atividades da REN, com exceção dos negócios no Chile, são concessionadas, o que implica uma articulação estreita com a política energética de Portugal.

No plano de investimentos até 2027, estão previstos valores entre 1.500 e 1.700 milhões de euros, dos quais dois terços serão destinados ao setor da eletricidade.

Estes investimentos visam criar condições para a ligação de novas fontes de energias renováveis e responder ao surgimento de novos consumidores, sendo Sines um exemplo relevante. "Temos de dar resposta a curto prazo, que é 2026, mas, para nós, é já praticamente amanhã", afirmou João Faria Conceição.

Cerca de um quarto do investimento será canalizado para o setor do gás, com foco nos novos gases renováveis, como o biometano e o hidrogénio verde. João Faria Conceição destacou que este é um exemplo claro de como a resposta deve acompanhar as necessidades, sublinhando que "não vamos antecipar-nos, mas também não podemos atrasar-nos face às exigências do mercado". Entre os investimentos previstos destacam-se duas novas ligações a Espanha. A primeira, uma interligação elétrica Minho-Galiza, está prevista para 2025 e será acrescentada às nove interligações já existentes entre Portugal e Espanha, que, juntas, somarão uma capacidade total de 3.000 megawatts. Tendo em conta que o consumo máximo de eletricidade em Portugal se situa entre 9.000 e 10.000 megawatts, João Faria Conceição reforçou a importância desta infraestrutura, afirmando que "cerca de um terço do nosso consumo pode ser assegurado pelas trocas com Espanha, o único país com o qual temos fronteira. É uma segurança de abastecimento". A segunda ligação será dedicada ao gás e está prevista para 2030, enquadrando-se num projeto mais amplo de interligação entre Portugal, Espanha, França e Alemanha, destinado à exportação de hidrogénio verde produzido nos diferentes países. O principal objetivo deste projeto é abastecer a indústria alemã, que deverá ser o maior consumidor de hidrogénio na Europa. Esta iniciativa, "de grande relevância estratégica, poderá beneficiar de financiamento europeu, contribuindo para acelerar a transição energética e para reforçar o papel de Portugal como um ator chave na produção e exportação de hidrogénio verde", conclui João Faria Conceição.

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