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Negócios Iniciativas | António Nogueira Leite: “A descarbonização ou é global ou é inglória”

“Temos que descarbonizar, também temos de arranjar forma de levar os outros também a descarbonizar sobre pena de ser absolutamente inglório”, defendeu António Nogueira Leite.

Pedro Ferreira
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Foto em cima: Os economistas António Nogueira Leite e Vítor Santos abordaram a importância da energia na economia, na sustentabilidade e na geopolítica.

A descarbonização está no centro da transição energética e dos objetivos de neutralidade carbónica para 2050. Mas, se a sua "bondade" ambiental não é discutida, o ritmo tem sido posto em causa. "Se a Europa descarbonizar e os outros descarbonizarem muito mais devagar, o efeito é relativamente pequeno, porque as externalidades dos outros mais do que compensam a nossa externalidade positiva. Pode-se dizer que somos o exemplo, a liderança moral do mundo, mas isso tem implicações na competitividade", afirmou António Nogueira Leite, economista e professor na Nova SBE, na mesa-redonda "A Energia na História, no Presente e no Futuro", que decorreu no evento Electric Summit, dedicado ao tema "Energy Outlook 2025: The New Era of Power Politics", uma iniciativa do Negócios, da Sábado e da CMTV, em parceria com a Galp, a REN e a Siemens, contando com a EY como knowledge partner e com Oeiras como município anfitrião.

António Nogueira Leite manifestou-se contrariado com o que se poderá denominar a "burocracia da sustentabilidade", referindo que um responsável de um dos maiores grupos portugueses lhe disse que contabilizara quatro mil horas de trabalho dentro da organização para elaborar o relatório de sustentabilidade.

"A Europa tem dificuldades de competitividade, e as pessoas podem ter um objetivo de descarbonização e de construção de um mundo melhor, mas não há ninguém nos Estados Unidos que passe quatro mil horas a preparar o relatório de sustentabilidade de uma empresa."

António Nogueira Leite sublinhou que a Europa é importadora de energia, enquanto os Estados Unidos se tornaram autossuficientes porque a Europa se recusa a utilizar, por exemplo, o fracking. "A Europa está a importar gás que custa cinco vezes mais do que nos Estados Unidos, que são nossos concorrentes diretos em muitas indústrias."

Vítor Santos, professor catedrático de Economia no ISEG, considera que "o que se fez em Portugal em matéria de descarbonização pode ter sido acertado", sobretudo pelo impacto que teve na redução da dependência energética. "Em 2005, tínhamos uma dependência de 89% e, atualmente, temos uma dependência de 67%. Na maioria, foi feito pelas indústrias, mas o setor elétrico teve um papel decisivo no processo de descarbonização."

Referiu-se ainda ao facto de a Rússia e os Estados Unidos, que "são duas grandes potências energéticas fósseis", não estarem no Acordo de Paris e estarem a usar os seus poderes energéticos. Na sua opinião, "a estratégia de transição energética da China não é a sustentabilidade; a questão central na China é a redução da sua dependência energética".

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