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Refundação do SNS precisa de visão e lideranças

Alexandre Lourenço apelou para a existência de uma nova estratégia de coordenação de meios de forma a evitar e a mitigar os efeitos da redução da atividade programada nos doentes não covid.

04 de Novembro de 2020 às 18:00
Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares
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"É necessário investir mas também assegurar a transformação do sistema", referiu Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. "Nos últimos meses vivemos circunstâncias realmente bastante complexas e esperámos que também fosse dada mais energia à transformação do sistema de saúde, de forma que conseguíssemos estar preparados para a segunda vaga que estamos a viver."

Desde o início, em março de 2020, quando a pandemia entrou em força e levou a quase dois meses de confinamento, que a APAH afirmou que a resposta à pandemia de covid-19 não deveria ser feita através da redução do acesso de cuidados de saúde não covid. Mas os números mostram outra realidade.

É necessária uma coordenação para que, em conjunto, os hospitais, os cuidados de saúde primários, os setores privado e social e os cuidados continuados sejam capazes de encontrar as melhores respostas. Alexandre Lourenço
Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares
Até 31 de julho de 2020, dados publicados pelo Ministério da Saúde, quando comparados com igual período de 2020, dão nota de 7 milhões de contactos nos cuidados de saúde primários por realizar, menos 100 mil cirurgias e menos de um milhão de consultas médicas. "Estes dados continuam a agravar-se e hoje percebemos também claramente que a resposta do setor hospitalar a ser garantida para doentes de covid-19 só vai ser possível se voltarmos a reduzir atividade programada", alertou Alexandre Lourenço.

Saúde e social

Os mais afetados entre os doentes não covid serão os mais velhos, com comorbilidades, com doenças crónicas. Alexandre Lourenço apelou para a existência de uma nova estratégia de coordenação de meios de forma a evitar e a mitigar estes efeitos. "Cada hospital sozinho não é capaz de dar a resposta adequada, portanto, é necessário garantir esse músculo, essa força de coordenação para que em conjunto os hospitais, os cuidados de saúde primários, os setores privado e social e os cuidados continuados, sejam capazes de realmente e em conjunto com a comunidade encontrar as melhores respostas".

A crise pandémica de covid-19 é uma oportunidade para tirar ilações, como a fragilidade da resposta aos mais idosos. "Esta resposta frágil que temos do setor social, particularmente através das estruturas residenciais e de outro tipo de respostas que continuam a faltar em Portugal. E é nessa lógica que devemos pensar na fundação de um sistema que é de saúde, mas que também é social. Estamos a lançar pistas para que os sistemas sejam realmente refundados, para isso é necessário ter uma visão e lideranças para essa transformação do sistema. É isso que esperamos para Portugal e é isso que esperamos da 6.ª conferência ‘Investir em Saúde’ a realizar no próximo ano e de podermos discutir essa visão e essa liderança".