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A economia tem de continuar a funcionar

Tem de se fazer um balanço entre a saúde e a economia e esta tem de funcionar, sob pena de nos próximos anos, como diz a OMS, aumentarem os níveis de pobreza a nível mundial.

04 de Novembro de 2020 às 16:30
João Almeida Lopes (Apifarma), Maria Gomes da Silva (diretora do serviço de Hematologia do IPO Lisboa) e Ricardo Baptista Leite (médico e deputado do PSD).
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"Nunca tanto foi investido em tão pouco tempo em termos mundiais, nunca uma indústria investiu tanto tempo, tantos recursos, tanto dinheiro, na procura de uma solução que é a vacina, e que tem a ver muito com colaboração e na permuta de conhecimentos entre diversas empresas, instituições de saúde, médicos, enfermeiros, e que inclui as autoridades de saúde de todo o mundo, que têm estado envolvidos nesta grande missão", referiu João Almeida Lopes, presidente da Apifarma.

Adiantou ainda que tem de assegurar que os passos foram cumpridos e que a segurança está garantida dentro das regras e que todos os passos foram cumpridos e que está dentro das regras da arte e do que a tecnologia hoje nos oferece. "Não é possível pensar que vamos ultrapassar alguma coisa. O que está a acontecer é o minorar de alguma burocracia que nas sociedades desenvolvidas existe e isso é positivo e facilita a colaboração e o interface, a troca de dados e informação".

Desde a primeira hora que o governo português lançou programas de incentivo à investigação não só em matérias da área da saúde, mas também para os equipamentos de proteção individual, que o país não tinha e havia dificuldades em adquirir em plena pandemia. "O Governo teve uma atitude proativa e depois assistimos ao lançamento das iniciativas da União Europeia, no sentido de a investigação se juntar equipas e instituições. O dinheiro chegar ao terreno é sempre uma questão complicada… mas por exemplo as linhas de crédito covid-19 entraram logo em vigor e entraram no terreno", referiu João Almeida Lopes.

Ensaios e produção

Na investigação tem havido os esforços da União Europeia, da Agência Europeia, da compra centralizada de vacinas num planeamento a médio prazo. "Não sabemos os resultados finais, nem quando é que vai acontecer mas acho que estamos mais perto das soluções, que se avançou muito e que o esforço tem sido incomensurável em todas as frentes e todos os dias", disse João Almeida Lopes.

Citou a OMS para defender que "os países devem evitar o confinamento porque tem de se fazer um balanço entre a saúde e a economia e não podemos deixar de ter uma economia a funcionar sob pena de nos próximos anos, e a OMS diz isso, aumentarem os níveis de pobreza a nível mundial".

Em Portugal fazem-se ensaios clínicos de grande qualidade. Podiam fazer-se dez vezes mais se não fôssemos tão complicados e não arranjássemos tantas coisas que se entrelaçam e nos fazem perder janelas de oportunidade.  João Almeida Lopes
Presidente da Apifarma
Em termos de produção de medicamentos em Portugal sublinhou que tem havido um regresso da fabricação mas "numa maneira ainda limitada porque começar a fabricar medicamentos em Portugal que não se fabricavam não é de uma semana para a outra", mas deu o exemplo de que a hidroxicloroquina já é feita em Portugal

João Almeida Lopes disse ainda que se fazem "ensaios clínicos em Portugal de grande qualidade porque há muita expertise. Podiam fazer-se dez vezes mais se, de facto, não fôssemos tão complicados e não arranjássemos tantas coisas que se entrelaçam e depois nos fazem perder as janelas de oportunidade dos ensaios clínicos".

Acesso ao IPO "livre e aberto" "O acesso ao IPO durante o confinamento foi como sempre completamente livre e aberto. O IPO não deixou de receber qualquer doente que nos tenha sido referenciado, com exceção de uma semana em que vivemos um constrangimento que não nos permitiu fazê-lo. No meu serviço, e faço uma análise continuada da afluência entre março e maio, registámos uma queda das primeiras vezes ao serviço entre 16 e 19% em relação ao período homólogo do ano anterior", contou Maria Gomes da Silva, diretora do serviço de Hematologia do IPO Lisboa.

"O IPO não tem serviço de urgência aberto ao exterior, por isso se os centros de saúde estiverem encerrados, se os outros hospitais estiverem completamente focados na covid e menos atentos a outros diagnósticos é natural que os doentes não venham pelo seu pé bater à nossa porta", revelou Maria Gomes da Silva, que muitas vezes desespera com o tempo que o seu computador demora em abrir os diferentes programas de que necessita para avaliar os seus doentes.

Em setembro, houve um aumento muito significativo da referenciação e do número de novos doentes admitidos, com uma média de 100 doentes referenciados por mês. Dentro dos cancros hematológicos (leucemias, linfomas e mielomas), com os linfomas a serem os mais frequentes, tiveram um aumento de 40% em relação a janeiro.

"Entre o receio de se procurar os serviços de saúde à não resposta pelos centros de saúde. Não estou a falar de um estudo sistemático, mas os doentes que recorrem ao centro de saúde e não têm resposta, quando deixam de ter capacidade de suportar a sintomatologia acabam por entrar por uma urgência. Há alguns casos pontuais que se foram arrastando meses e a intervenção não foi mais precoce", explicou. Acrescentou que "a covid-19 vai matar muitas pessoas mas o resto das doenças vai matar muito mais".