Outros sites Medialivre
Notícia

Ricardo Baptista Leite: “Não temos um SNS mas um Serviço Nacional de Doença”

“A crise colocou uma lupa sobre um conjunto de fragilidades. Em termos de mudanças no futuro deveria haver quem já estivesse a pensar no pós-covid-19 e no modelo de saúde até para garantir o acesso à inovação”, enunciou Ricardo Baptista Leite, médico e deputado do PSD.

04 de Novembro de 2020 às 16:00
  • Partilhar artigo
  • ...
Uma evidência que a pandemia expôs foi a falta de sentido em silos da saúde e do social e a necessidade de voltar a uma visão que já existiu. "A assistência social e em saúde têm de estar sob o mesmo chapéu, caso contrário temos a situação dos lares em que o Ministério da Saúde diz que não tem nada a ver com isso, mas a verdade é que o maior foco dos problemas ocorrem na população residente em lares e é um problema grave".

Para Ricardo Baptista Leite, a forma de organização e autonomia das instituições tem de ser repensada, até porque a saúde pública "é vista hoje como um sistema à parte do próprio sistema". Os hospitais, os centros de saúde, têm as suas métricas e modelos de incentivos próprios, mas na saúde pública não existem incentivos reais.

Os incentivos existem sempre para criar mais doença e por isso não temos um SNS mas um Serviço Nacional de Doença que se alimenta e vive da própria doença. Para garantir a inovação temos de diminuir a carga da doença. Ricardo Baptista Leite
Médico e deputado PSD
Por outro lado, Ricardo Baptista Leite considera que hoje "os incentivos existem sempre para criar mais doença e por isso não temos um SNS mas um Serviço Nacional de Doença que se alimenta e vive da própria doença. Para garantir a inovação temos de diminuir a carga da doença, o que passa por ter uma saúde pública com incentivos corretos". Em sua opinião, o Ministério da Saúde não tem uma visão clara para o sistema de saúde dentro de 10 anos. Sem isto não é possível todos remarem na mesma direção.

Em termos de organização, defende que se devia ter separado o ministro da Saúde do CEO da Saúde. "Este gere o SNS para garantir as respostas às emergências e o ministro é responsável pelo pensamento estratégico. A DGS é uma autoridade de saúde pública, que demonstrou, perante a emergência sanitária que estamos a viver, que não estava desenhada para isto."

Ricardo Baptista defendeu que no pós-pandemia a Direção-Geral da Saúde deve ser extinta e dar lugar a três organismos. O primeiro que junte saúde pública, defesa nacional e proteção civil para emergências sanitárias e ameaças biológicas, o segundo o da saúde pública pura e dura, as orientações clínicas e uma agência de dados em saúde para poder ambicionar ser um líder em inovação e pode servir para mudar o modelo de financiamento em saúde.

Sem os dados de qualidade e em tempo real não é possível alterar o modelo de financiamento em saúde, e até pensar em modelos, como a tecnologia de blockchain, que permitiria criar um modelo de monetização para pagar aos cidadãos por cederem os seus dados. Esta foi a oportunidade para Ricardo Baptista Leite se referir à necessidade dos dados para explorar o potencial estratégico gigantesco que os ensaios clínicos representam para Portugal, porque sem eles é mais difícil atrair os mercados internacionais.

Mudar radicalmente de abordagem A abordagem no combate à pandemia tem de mudar radicalmente defende Ricardo Batista Leite, médico e deputado do PSD, através de uma política ativa de testagem massiva, isolamento ativo de todos os casos infetados e suspeitos.

O deputado salientou que a nova estratégia passaria por não olhar apenas para o número de testes que se fazem diariamente, mas para a forma como se fazem. "Temos tecnologia como os testes antigénio que podiam ser utilizados semanalmente e que custam vinte vezes menos do que os testes PCR. Poderiam ser uma ferramenta que em circuito fechado e semifechados como lares, escolas e prisões poderiam ser usados".

Defende a requisição de todos os hotéis que neste momento não têm negócio do turismo para fazer o isolamento de pessoas que não tem condições para isso. "Quando não se atua de forma clara do ponto de vista da saúde pública através do contact-tracing, ou seja, as ligações de todas as pessoas nas cadeias de transmissão, estas não vão ser quebradas e sem isolamento social não vamos conseguir", afirmou.

"Os doentes não covid arriscam-se, se a pandemia prosseguir um percurso exponencial, a mais uma vez, serem esquecidos com as consultas, as cirurgias, nos exames complementares e nos rastreios, com todos a caírem a pique. É preocupante aumenta, o risco de morbilidade, ou seja, afeta a qualidade de vida das pessoas e a médio prazo vai cair, o que poderia ser evitado usando o sistema, fazendo uma task-force entre o público, privado e social", alertou Ricardo Baptista Leite.