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Centeno vê trajetória "clara" para as taxas de juro do BCE

Referindo-se ao discurso do presidente da Fed, em Jackson Hole, o governador do Banco de Portugal diz considerar que a Zona Euro pode aprender "lições significativas" das palavras de Jerome Powell.

Olivier Hoslet / EPA
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A decisão que o Banco Central Europeu (BCE) vai tomar em setembro sobre as taxas de juro de referência na Zona Euro é "fácil" porque a trajetória futura é "relativamente clara", diz Mário Centeno, apontando assim para a descida antecipada pelo mercado. O governador do Banco de Portugal - que pertence ao grupo de 26 decisores do conselho do BCE - falava no podcast institucional do supervisor português, após ter participado no simpósio anual de Jackson Hole.

Na semana passada, em entrevista à Bloomberg, Centeno afirmou que a decisão do BCE de cortar juros em setembro será "fácil" e explica agora no BdP Podcast que o mais importante é olhar para a trajetória dos dados e não apenas para cada ponto de informação. Desse ponto de vista e considerando o "que se pode esperar nas revisões para setembro", mês em que serão conhecidas novas projeções económicos, "os dados têm vindo a confirmar" um alívio na inflação em direção à meta de 2%.

"A área do euro, desde que começou o ciclo de subida de taxas, cresceu 0,7% e isto compara com 4,9% para os Estados Unidos. É um sacrifício muito maior na Europa ter ganho a batalha sobre a inflação em termos da atividade económica do que aquilo que acabou por acontecer nos Estados Unidos e, portanto, o fácil nunca é fácil, mas quando olhamos para os dados parece-me relativamente claro qual é a trajetória que as taxas na área do euro têm que ter", afirmou.

Entre julho de 2022 e setembro de 2023, o BCE levou a cabo dez aumentos das três taxas de referência, num total de 450 pontos base. A taxa aplicável aos depósitos estava mesmo no máximo histórico de 4% até ao primeiro corte de 25 pontos base, que aconteceu em junho. Depois disso, os governadores não se quiseram comprometer com novas descidas e têm mantido os cenários em aberto, mas atualmente o mercado já está a dar como certo que será anunciada uma nova diminuição a 12 de setembro. Até ao final do ano são esperados mais um ou dois cortes.

O BCE antecipou-se assim à Fed, que ainda não desceu juros. Contudo, o presidente da Reserva Federal (Fed) norte-americana, Jerome Powell, afirmou em Jackson Hole que "chegou o momento de ajustar" a política monetária, dando força à expectativa de que vá também cortar o intervalo dos juros diretores a 18 de setembro.

Centeno estava na audiência a ouvir estas palavras e considera que a Zona Euro pode tirar lições da experiência dos Estados Unidos. "A mensagem que o presidente Powell trouxe teve algumas novidades e outras tantas confirmações. A confirmação é de que os preços, a inflação, são o resultante daquilo que é o funcionamento da economia. Há sinais de enfraquecimento na economia norte-americana, em particular no mercado de trabalho, que neste momento preocupam mais do que há uns meses, e essa confirmação veio muito clara nas declarações do presidente Powell", explicou.

"As lições que podemos tirar daqui para a Europa são bastante significativas. Nós temos uma inflação que tem vindo a cair muito claramente ao longo dos últimos meses. É verdade que há caminho a fazer, mas também é verdade que temos que ter a noção de que a posição da política monetária neste momento aponta para um aperto financeiro que mesmo com as próximas reduções que possam existir nas taxas de juros se vão manter. Temos avisado isso bastantes vezes, ou seja, não é a partir do momento em que a taxa começa a cair que a situação se altera. Portanto, todos temos que ter noção disso", acrescentou o governador do Banco de Portugal.

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