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Investidores atiram a toalha ao chão com juros negativos a infectarem o mercado

Está cada vez mais difícil para quem investe em dívida de empresas escapar à onda de títulos com taxa negativa que está a invadir os mercados de crédito.

23 de Julho de 2016 às 10:30
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Os investidores têm em mãos aproximadamente 465 mil milhões de euros em títulos de empresas com grau de investimento e rendimento abaixo de zero. O montante é onze vezes maior do que no início do ano, segundo dados do Bank of America Merrill Lynch. O que significa que estão a pagar pelo luxo de manter esses títulos em carteira, mas ainda é melhor do que comprar títulos de dívida soberana mais seguros e com rendimentos ainda mais baixos.

 

O dilema dos investidores deve-se ao programa de estímulos do Banco Central Europeu, que deixou os rendimentos tão baixos que a compra de alguns títulos de dívida pública é garantia de perda. O BCE tem colocado as taxas de depósitos em território ainda mais negativo e estacionar o dinheiro neste segmento é uma alternativa menos viável. Embora alguns índices de curto prazo mostrem que os rendimentos das dívidas de empresas estão a aproximar-se de zero ou já ultrapassaram essa barreira, esses instrumentos permanecem relativamente atraentes.

 

"Os investidores estão a entrar nestes activos mais por desistência", diz Geraud Charpin, gestor de carteiras da BlueBay Asset Management LLP, em Londres, que gere cerca de 58 mil milhões de dólares em activos. Os investidores estão a comprar "porque sai muito caro ter dinheiro em caixa na maioria das jurisdições europeias e não porque genuinamente gostam do activo e genuinamente estão a aumentar o apetite por risco."

 

Dívida sénior e com garantias, denominada em euros, emitida por empresas não financeiras com as melhores classificações de risco e prazo entre um e três anos rendem, em média, -0,08%, segundo os dados do Bank of America.

 

Dívidas denominadas em euros e com rendimento negativo representam 24% do mercado de títulos com grau de investimento. Além disso, cerca de 4,27 biliões de euros em títulos de dívida soberana emitidos por países da zona do euro têm rendimento negativo.

 

O BCE acelerou a queda dos rendimentos quando começou a comprar títulos corporativos de alta qualidade no início de Junho. De acordo com dados da Bloomberg, a autoridade monetária comprou 10,4 mil milhões de euros em obrigações de empresas - incluindo títulos com rendimento negativo emitidos pela Siemens AG e Robert Bosch GmbH -, que podem ser comprados desde que o rendimento seja superior à taxa de depósito no momento da transacção.

 

"Os investidores são forçados a ir atrás de um conjunto disponível de activos que está a encolher", diz Richard Casey, gestor de carteiras de crédito da Pioneer Investments, que tem 221 mil milhões de euros em activos sob gestão. "Temos investidores com excesso de dinheiro em caixa, pouca oferta primária e um grande comprador no mercado empurrando rendimentos e spreads para níveis nunca vistos."

 

Mercado secundário

 

Alguns títulos estão cotados com taxas negativas no mercado secundário há meses, mas, na semana passada, a Deutsche Bahn tornou-se a primeira empresa não-financeira a vender títulos em euros com taxas negativas. A empresa de ferrovia alemã emitiu 350 milhões de euros em obrigações a cinco anos com uma taxa de -0,006%, segundo dados compilados pela Bloomberg. Já os títulos do governo alemão de prazo similar rendem -0,48%, após terem atingido um mínimo histórico de -0,64% no mês passado.

 

Este é o diferencial que torna atraentes os títulos corporativos com rendimento negativo, segundo Sylvain de Ruijter, da NN Investment Partners, que gere cerca de 190 mil milhões de euros e investe nesta área.

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