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BCE pode já estar a atuar "na sombra" para controlar contágio da dívida francesa, diz Jorge Bravo
"Não creio que nesta fase se coloque o cenário de uma crise de fragmentação" em França, defende Jorge Bravo. O professor de Economia e Finanças da Universidade Nova de Lisboa acredita ainda que o BCE possa estar já a utilizar instrumentos para evitar o agravamento da situação.
Os receios são naturais, mas o cenário de uma crise da dívida na Zona Euro não se coloca por enquanto, na opinião do economista Jorge Bravo. "Tudo dependerá do arrastar ou não desta situação. França tem uma posição de finanças públicas difícil, tem um défice que se aproximará dos 6% este ano, o Orçamento do Estado do próximo ano previa um valor de 5%, a dívida pública está nos 112%, 113% e com este ritmo de défice, é natural que continue a aumentar", elenca em entrevista ao programa do Negócios no canal NOW.
O Banco Central Europeu (BCE) já tinha afirmado que numa situação de crise de fragmentação acionaria um instrumento que foi criado na altura em que também a dívida de Itália estava a ser bastante penalizada. Trata-se do Instrumento de Proteção à Transmissão (TPI) – que serve para evitar que as "yields" e os "spreads" (diferenciais face à Alemanha) da dívida pública de alguns países disparem e provoquem uma nova crise das dívidas.
"O BCE dispõe, neste momento, de instrumentos para atuar no mercado de dívida, no mercado secundário, e poder controlar algumas tensões que surjam no curto prazo. E acredito que possa estar a fazê-lo na sombra, não anuncia estas medidas, obviamente, para não contagiar aquilo que são os preços de mercado da dívida pública, mas é natural que o faça porque não interessa ao BCE que haja uma perturbação na estabilidade financeira dos mercados e no conjunto da Zona Euro", defende o professor de Economia e Finanças da Universidade Nova de Lisboa - Information Management School (NOVAIMS) e professor convidado da Université Paris IX Dauphine em Paris.
"Uma perturbação da dívida pública francesa não perturbaria apenas a França, afetaria todo o sistema financeiro porquanto a dívida pública francesa é detida por investidores nacionais e internacionais. Está nos balanços de bacos, seguradoras, planos e fundos de pensões, portanto se houvesse um agravamento, isso teria um efeito sistémico", acrescenta.
No entanto, para o docente, do ponto de vista dos mercados financeiros é previsível que não haja no imediato uma turbulência muito significativa, para além dos "spreads" da dívida face à dívida alemã e das outras economias da Zona Euro. Contudo, "na economia real, isso pode ser mais difícil porquanto, obviamente, esta incerteza política alastra-se aos agentes económicos que adiarão decisões de investimento, haverá despesa pública que não será realizada".
Sobre a preocupação das empresas portuguesas, Jorge Bravo compreende os receios. "Sendo a França o segundo principal destino das exportações nacionais, é natural que isso afete alguns setores económicos. Sabendo nós que, já neste momento, temos uma desaceleração industrial que afeta a Alemanha mas também afeta a França, sobretudo no setor da construção automóvel. E Portugal tem nesse setor um conjunto de empresas, seja de montagem, seja de fornecimento de peças, que naturalmente podem ser afetadas num cenário de agravamento da situação em França".