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Lagarde avisa para "rápida mudança" na geopolítica e "desafios estruturais" na economia
A presidente do Banco Central Europeu está a ser ouvida no Parlamento Europeu, onde vai ser questionada sobre a evolução da política monetária da Zona Euro.
A Europa enfrenta grandes desafios a nível económico e geopolítico. O aviso foi feito por Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE) na abertura da audição no Parlamento Europeu, na qual vai responder às questões dos eurodeputados sobre a evolução da política monetária da Zona Euro, bem como sobre o novo quadro da governação económica na união.
"Estamos a assistir a um cenário geopolítico em rápida mudança, mas também a grandes desafios estruturais ao nosso modelo económico. A resposta da Europa deve ser rápida. Deve centrar-se no estímulo ao investimento, na promoção da inovação e no aumento da produtividade. Para tal, será necessária uma ação política corajosa e, juntamente com a nova Comissão Europeia e o Conselho, este Parlamento terá um papel importante a desempenhar", afirmou.
A presidente do BCE admitiu que a economia registou um crescimento moderado no primeiro semestre deste ano, após cinco trimestres de estagnação, sendo que o crescimento real do PIB foi impulsionado pelas exportações e pelo consumo público. No terceiro trimestre, o PIB real aumentou 0,4%, impulsionado em parte por fatores temporários, como os Jogos Olímpicos de Paris. A responsável sublinha que os dados sugerem que o crescimento será mais fraco a curto prazo, devido ao abrandamento do crescimento no setor dos serviços e à continuação da contração na indústria transformadora, e só numa fase posterior é que a recuperação económica da Zona Euro deverá começar a ganhar algum fôlego.
"As perspetivas económicas a médio prazo são, no entanto, incertas e dominadas por riscos negativos. Os riscos geopolíticos são elevados, com ameaças crescentes ao comércio internacional. Os elevados níveis de abertura comercial e de integração nas cadeias de abastecimento mundiais tornam a área do euro vulnerável a choques externos, com potenciais barreiras comerciais que ameaçam a indústria transformadora e o investimento", avisou a líder da autoridade monetária.
No que se refere à inflação global, esta voltou a aumentar para 2,3% em novembro, contra 2,0% em outubro, devido principalmente a uma moderação da queda dos preços da energia e a um aumento da inflação dos produtos alimentares. A inflação subjacente - excluindo a energia e os produtos alimentares - manteve-se inalterada em 2,7% em novembro e o BCE espera que se situe em torno dos níveis atuais até ao início de 2025.
"A inflação dos serviços continua a ser o maior contribuinte para a inflação e situou-se em 3,9% em novembro, impulsionada em parte pelo recente crescimento elevado dos salários. De um modo geral, o crescimento dos custos laborais tem vindo a moderar-se nos últimos trimestres - não obstante a volatilidade do crescimento dos salários negociados durante o verão - e deverá continuar a abrandar. As pressões inflacionistas internas estão também a recuar, uma vez que os lucros têm vindo a amortecer a evolução ainda elevada dos custos do trabalho. Em termos prospectivos, espera-se que a inflação aumente temporariamente no quarto trimestre deste ano, à medida que as anteriores quedas acentuadas dos preços da energia deixem de ser registadas nas taxas anuais, antes de descer para o objetivo no decurso do próximo ano", disse.
Em outubro, o BCE baixou as três taxas de juro diretoras em 25 pontos base, tal como tinha feito em junho e setembro, colocando a taxa sobre os depósito em 3,25%. Na próxima semana, o grupo vai voltar a reunir-se e a expectativa do mercado é que anuncie um novo corte de 25 pontos base, mas Lagarde reafirmou aquele que tem sido o seu lema: "Não nos comprometemos previamente com uma determinada trajetória para a taxa."