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Tensões no Cazaquistão deram novo vigor ao petróleo. Mas durou pouco

O Cazaquistão produz 1,6 milhões de barris diários de petróleo e teve de interromper o funcionamento do gigante campo petrolífero de Tengiz durante os tumultos que assolaram o país.

Riade diz não ter pressa em recuperar o milhão de barris/dia de corte adicional da sua quota de produção.
Karim Sahib/AFP
15 de Janeiro de 2022 às 14:00
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Os sangrentos protestos que se estenderam durante alguns dias pelo Cazaquistão influenciaram os preços do petróleo, em finais da semana passada e no arranque desta semana. O facto de se tratar de um país produtor de crude sustentou de imediato as cotações do ouro negro. Mas, o que esteve em causa?

 

A sublevação popular no Cazaquistão começou com protestos contra a subida do preço dos combustíveis no arranque do ano, mas o presidente russo, Vladimir Putin, disse na segunda-feira que estes tumultos foram aproveitados por combatentes armados que tentaram lançar um golpe de Estado.

 

O presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, reiterou esta perspetiva, tendo afirmado que tinha havido uma tentativa de derrubar o poder, com forças "terroristas" a "aproveitarem" o protesto contra o encarecimento dos combustíveis para se infiltrarem e intensificarem os tumultos.

 

No auge dos distúrbios, Tokayev pediu a ajuda da Rússia, com Moscoco a enviar a 7 de janeiro militares para participarem nas operações de manutenção da paz. A república ex-soviética, recorde-se, permaneceu sob influência russa.

 

Esta terça-feira, 11 de janeiro, o presidente cazaque anunciou que a missão de manutenção da paz tinha sido concluída com sucesso e que a retirada do contingente iria começar de forma gradual a partir de 13 de janeiro, o que sucedeu.

 

O Cazaquistão produz 1,6 milhões de barris diários de petróleo e teve de interromper o funcionamento do gigante campo petrolífero de Tengiz durante esta crise.

 

O cenário catapultou os preços do crude, que têm estado sob pressão devido ao aperto da oferta, numa altura em que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (o chamado grupo OPEP+, onde se inclui a Rússia) têm tido dificuldades em cumprir as suas quotas de produção e regressar a níveis de extração anteriores à pandemia.

Isto porque no pico da covid-19, com a procura por energia em forte queda, houve um grande desinvestimento no setor – que é também menos apetitoso para novos investimentos, numa altura em que a transição energética apela a um menor uso de combustíveis fósseis.

 

A queda na oferta de crude líbio contribuiu igualmente para a subida dos preços ao longo da semana passada. Segundo a empresa estatal National Oil Corp, a Líbia está a produzir 729.000 barris por dia, uma forte redução face aos mais de 1,3 milhões de barris diários do ano passado, devido a operações de manutenção e ao encerramento de campos petrolíferos.

 

Mas estes dois fatores foram "sol de pouca dura" em termos de influência no sentimento do mercado. Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europa, considera que "os eventos da semana passada no Cazaquistão e na Líbia tiveram, na minha opinião, um impacto pouco significativo nos mecanismos que determinam o comportamento dos mercados de petróleo globais, não passando de uma nota de rodapé dentro de uma dinâmica mais vasta".

 

"Os fatores que têm determinado o comportamento dos preços do petróleo são o aumento da procura devido à retoma da atividade económica no pós-pandemia e a resultante insuficiência da oferta. As dificuldades sentidas nos mercados para suprir a procura, que estão por detrás da subida dos preços, advém da coesão entre os países membros da OPEP e seus aliados, que de forma pouco habitual têm respeitado as suas quotas de produção", explica em comentário ao Negócios.

 

Por outro lado, acrescenta, "durante o pico da pandemia ocorreu um desinvestimento na capacidade de produção de alguns países (como os EUA, por exemplo, onde a produção de petróleo do xisto diminuiu bastante), além de que a Rússia tem usado o seu gás para pressionar adversários no seu jogo geoestratégico, o que tem contribuído para acentuar a procura de petróleo enquanto substituto para o gás".

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