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Tensão aproxima petróleo dos 100 dólares e sobe pressão na inflação

O Brent, o gás natural e a eletricidade já estão a ressentir-se com a possibilidade de um conflito armado dentro da Europa. Perturbações na produção de petróleo russo poderão agravar ainda mais a situação, alimentando a subida dos preços da energia.

A OPEP+ reúne-se esta quinta-feira para decidir a política de produção de crude em agosto.
Maxim Shemetov/Reuters
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As tensões na fronteira entre Ucrânia e Rússia estão a fazer disparar os preços do petróleo, que estão cada vez mais perto dos 100 dólares por barril, valor em que não toca desde 2014. A perspetiva reforça as ameaças da inflação à recuperação económica global e os receios de que os bancos centrais tenham de agir mais rápido para travar a aceleração dos preços.

"Há desconforto nos mercados sobre a possibilidade de uma invasão russa da Ucrânia – que segundo vários governos ocidentais é iminente – e sobre o impacto que tal desenvolvimento pode ter em um mercado já apertado", afirma Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europa.

"Um movimento russo na Ucrânia provavelmente elevaria o preço do barril bem acima da marca dos 100 dólares, já que as sanções ocidentais limitam severamente a produção russa de petróleo e gás, agravando os problemas do lado da oferta que impulsionaram os preços globais de energia", acrescenta o responsável.

As preocupações aumentaram este fim de semana com os EUA a alertarem para a possibilidade de uma invasão da Rússia à Ucrânia. Enquanto decorrem várias rondas de negociações diplomáticas, o Presidente Joe Biden já ameaçou com sanções económicas o país de Vladimir Putin, que continua a rejeitar quaisquer planos de guerra. Os mercados não parecem, no entanto, estar convencidos.

O crude West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, para entrega em março, chegou a tocar nos 94,94 dólares, o valor mais alto desde setembro de 2014. Já o Brent do Mar do Norte, negociado em Londres e referência para as importações europeias, chegou a negociar em máximos de outubro de 2014, nos 96,16 dólares. Em linha, também os preços do gás natural e da eletricidade chegaram a disparar 10% esta segunda-feira nos mercados da Europa.

"Os participantes do mercado estão preocupados que o conflito possa causar uma disrupção na oferta", explica Giovanni Staunovo, estratego do UBS, lembrando que os inventários de petróleo da OCDE estão em mínimos de oito anos, pelo que "o mercado petrolífero está muito sensível a qualquer notícia" de problemas na oferta. A Rússia é o terceiro maior produtor (e segundo maior exportador) de petróleo do mundo, tendo sido responsável por 11,5% da produção global em janeiro.

Há, por isso, três riscos para o mercado: danos não intencionais nos gasodutos, uma decisão política de Moscovo de fechar as torneiras ou sanções internacionais direcionadas para o setor energético russo. "Esperamos maior volatilidade a curto prazo, com os preços a serem conduzidos pelas notícias de uma escalada. Com a perspetiva de procura por petróleo a atingir máximos históricos no final deste ano, e com o mercado a apertar, mantemos o ‘outlook’ positivo para os próximos 12 meses", sublinha ainda Giovanni Staunovo.

O UBS, tal como o Goldman Sachs, antecipa que o petróleo atinja os 100 dólares no final no ano, enquanto o JP Morgan já admite a possibilidade de este chegar aos 120 dólares. A escalada coloca pressão adicional sobre os combustíveis para as famílias e Estados importadores (como é o caso de Portugal), enquanto aumenta as preocupações dos bancos centrais.

O modelo de avaliação de choques económicos da Bloomberg indica que uma subida do crude WTI até aos 100 dólares no fim do ano, contra cerca de 70 dólares no final de 2021, poderá ter um impacto de cerca de meio ponto percentual na inflação dos EUA e da Europa na segunda metade do ano. Isto numa altura em que os norte-americanos enfrentam uma escalada de preços superior a 7% e os europeus a 5%.

A rápida evolução da inflação tem levado as autoridades monetárias, como a Reserva Federal norte-americana ou o Banco de Inglaterra, a ajustar (ou preparar ajustes) nas taxas de juro, delineando uma série de subidas para este ano que poderão ser aceleradas pelo agravamento da situação. Do lado do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde tem avisado para o risco de uma ação precipitada, mas também já admitiu preocupação com a inflação.
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