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Reunião difícil na OPEP+. Novo corte e reformulação de quotas na mira do cartel

Se for aprovado um novo corte de um milhão de barris diários, o volume total de redução da oferta ascenderá a 4,66 milhões de barris/dia – o que corresponde a cerca de 4,5% da procura mundial.

Vários membros da OPEP+ já vieram dizer que a Rússia é um parceiro-chave no acordo que vigora desde 2017.
Ramzi Boudina/Reuters
04 de Junho de 2023 às 17:27
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Os 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus 10 aliados – com destaque para a Rússia – estão hoje reunidos em Viena para definirem os próximos passos a dar. Mas não está a ser uma reunião fácil. O chamado grupo OPEP+ tem em cima da mesa a possibilidade de um corte adicional da oferta, mas também braços de ferro que já fizeram atrasar o início do encontro.

 

Nos últimos tempos, estas reuniões ministeriais da OPEP+ têm sido curtas, mas hoje não é o caso. Fontes próximas das negociações disseram à agência France Press que está a ser debatido um corte adicional da oferta, na ordem de um milhão de barris por dia.

 

Em abril, recorde-se, vários membros da OPEP+ anunciaram cortes voluntários da produção, num volume agregado de 1,6 milhões de barris por dia – uma decisão que surpreendeu o mercado e que entrou em vigor em maio. Estes 1,6 milhões de barris diários retirados da oferta vieram juntar-se aos cortes já existentes de dois milhões de barris por dia. O anúncio fez subir os preços do crude, mas os receios em torno do crescimento e da procura mundial rapidamente fizeram com que as cotações cedessem de novo. Nesta sexta-feira, 2 de junho, o Brent do Mar do Norte (crude de referência para as importações europeias) encerrou a valer 76 dólares por barril depois de ter chegado a tocar nos 87 dólares aquando do anúncio do novo apertar das torneiras.

 

Se for aprovado um novo corte de um milhão de barris diários, o volume total de redução da oferta ascenderá a 4,66 milhões de barris/dia – o que corresponde a cerca de 4,5% da procura mundial.

 

EUA, Angola e Nigéria batem o pé

 

Mas, desta vez, não é apenas o plafond de produção dos membros da OPEP+ que está a ser discutido – e há discórdias a apontar, com três países a baterem o pé para fazerem valer as suas pretensões.

 

Os Emirados Árabes Unidos (EAU) estão a exigir uma alteração na forma como os cortes de produção são mensurados, ao passo que os membros africanos do cartel – Angola e Nigéria – se mostram relutantes em abrir mão das suas quotas, apesar de não estarem a conseguir cumpri-las.

 

A Nigéria e Angola estão entre os membros da OPEP que já estão a produzir à máxima capacidade e sem conseguirem chegar às quotas que estão definidas. No entanto, opõem-se a menores "baselines" (base de referência a partir da qual estão definidos os cortes de produção) porque novas quotas mais baixas poderão obrigá-los a terem depois de concretizar cortes reais.

 

Segundo a BNN Network, o ministro angolano do Petróleo, Diamantino Azevedo, terá abandonado bruscamente a reunião.

 

Em contrapartida, os EAU exigem uma maior "baseline", em linha com a sua crescente capacidade de produção, mas isso poderá significar uma redução da sua quota-parte nos cortes totais da oferta da OPEP+.

O braço de ferro de 2021

 

Esta não é a primeira vez que a "baseline" está a atrasar decisões. Em julho de 2021, os membros da OPEP+ precisaram de se reunir três vezes até chegarem a acordo sobre o plafond de produção para agosto. Tudo à conta da oposição dos Emirados Árabes Unidos. Como todos os acordos da OPEP+ requerem uma aprovação por unanimidade, duas reuniões acabaram por ficar sem efeito até haver consenso. Mas o que estava em causa?

 

A OPEP+ pretendia aumentar a oferta de crude em agosto e prolongar a duração do acordo que vigorava desde 2017 (primeiro com cortes concertados de produção, para fazer subir os preços, e depois, a partir de 2021, com uma progressiva recolocação desse crude no mercado), mas os EAU discordavam da extensão do pacto naqueles moldes. Os Emirados diziam concordar com o nível do aumento da produção, mas só dariam luz verde ao prolongamento do acordo até ao fim de 2022 (o que permitiria fasear a entrada de mais "ouro negro") se houvesse uma revisão da base de referência (a tal "baseline") dos cortes de produção anteriormente aplicados – isto é, o nível de produção inicial a partir do qual se calcularam as reduções que cabiam a cada país, que foram mais acentuadas no pico da pandemia.

 

Os EAU exigiam que a base de referência dos cortes fosse atualizada tendo em conta a sua capacidade de produção dessa altura. Mais concretamente, este membro da OPEP queria que a sua produção de base, usada nos cálculos do corte de oferta, fosse de 3,8 milhões de barris por dia e não os 3,168 milhões de barris diários que estavam definidos. E porquê? Porque se a redução de produção que lhe coubesse fosse calculada a partir de uma "baseline" superior, isso significaria que os EAU não teriam de proceder a um corte tão pronunciado – e é precisamente isso que desejam também agora. Mas redução porquê? Então não estavam a aumentar a oferta? Sim, mas o plafond de produção que cabia a cada membro ainda correspondia a um corte face ao que podia extrair. Nalguns casos, com a falta de capacidade extra, esse problema já não se colocava, mas não era esse o caso dos EAU.

 

Agora, o cartel está de novo numa fase de corte da oferta, devido à queda dos preços do crude, e os EAU voltam a bater o pé.

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