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Pior trimestre desde 2014 atira petróleo para perdas anuais de 20%
O quarto trimestre deste ano não correu bem ao petróleo, que viu os seus preços descerem perto de 40% nos principais mercados internacionais. Os máximos do ano, atingidos no início de Outubro, rapidamente deram lugar a contínuas quedas e a um "bear market". No acumulado do ano, a descida anda na casa dos 20%.
Desde 2014 que as cotações do "ouro negro" não tinham um trimestre tão mau. E este ano o fraco desempenho dos preços da matéria-prima entre Outubro e Dezembro foi mesmo decisivo para as perdas anuais. Até Outubro, o crude registava valores positivos no acumulado do ano. Mas depois vieram as quedas nas bolsas, as ameaças de Trump, e a desaceleração económica. E tudo mudou.
O Brent do Mar do Norte – que é negociado em Londres e serve de referência às importações portuguesas – perdeu 19,5% no acumulado do ano, a valer menos de 53 dólares por barril, contra 80 dólares no início de Outubro.
Já o West Texas Intermediate (WTI) recuou 24%, para a fasquia dos 46 dólares por barril, quando há três meses transaccionava na casa dos 76 dólares.
Tanto o Brent como o WTI perdem, assim, perto de 40% desde o seu último pico, atingido no início de Outubro – o que significa que estão em "bear market" (quando um activo cai pelo menos 20% desde o último máximo).
Nos três primeiros trimestres do ano, o Brent teve um desempenho positivo, mas a derrocada dos últimos três meses foi tão forte que o colocou não só no vermelho em termos anuais como o fez entrar em "bear market". Já o WTI entrou em terreno negativo no terceiro trimestre, mas com uma queda de apenas 1,21%. Foi também a má performance entre Outubro e Dezembro que o colocou com perdas anuais e o fez receber a visita dos ursos. A queda de quase 40% no quarto trimestre foi a mais forte em quatro anos.
Em 2017, o Brent e o WTI somaram 17,69% e 12,47%, respectivamente. Um ano antes, o crude negociado em Londres tinha escalado 52,41% e o seu congénere dos EUA havia disparado 45,03%. 2018 foi assim o primeiro ano de quedas para o petróelo desde 2015.
OPEP incapaz de travar queda do petróleo
Mas o que levou a este péssimo cenário? A matéria-prima acompanhou, essencialmente, o sentimento que também se foi vivendo nas bolsas. E nos últimos meses uma série de factores levou a uma grande volatilidade nos mercados, como a guerra comercial entre os EUA e vários países, com destaque para a China; as excepções nas sanções ao Irão; a paralisação dos serviços federais norte-americanos na recta final do ano; e os receios em torno da desaceleração económica mundial – que leva a que se antecipe uma quebra no consumo, nomeadamente de combustíveis.
Este sell-off no petróleo é um recordatório de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) já não consegue gerir sozinha, nem com os seus aliados (o chamado grupo OPEP+, onde se inclui a Rússia), o mercado petrolífero, sublinhava recentemente a Bloomberg.
Com efeito, após o anúncio da OPEP+ de um corte da produção, feito no dia 7 de Dezembro, seria de esperar que menos 1,2 milhões de barris por dia no mercado tivessem o efeito desejado: fazer subir os preços da matéria-prima. Mas não foi o que aconteceu e desde 2008 que o petróleo não sofria uma queda tão forte (o Brent perdeu 16%, ou 10 dólares, desde o anúncio) a seguir a uma redução da oferta por parte do cartel.
As dúvidas de que os cortes de produção anunciados pela OPEP+ possam ter efeito na subida dos preços continuam a pesar, além de o crude ter sido também penalizado pelo movimento de sell-off após a Reserva Federal norte-americana ter aumentado os juros pela quarta vez este ano e ainda prever duas novas subidas em 2019 – o que não agradou à generalidade dos mercados financeiros.
Nem mesmo o anúncio de novos cortes de exploração do xisto betuminoso nos EUA (devido aos baixos preços que a matéria-prima atingiu) ajudou a uma subida dos preços do "ouro negro". Pelo meio, a pressão do presidente norte-americano para que os preços baixem tem desfavorecido frequentemente a matéria-prima.
Em Novembro, o director executivo da Agência Internacional da Energia (AIE), Fatih Birol, declarou que as perturbações no mercado da energia estariam apenas a começar. "Estamos a entrar num período sem precedentes de incerteza nos mercados petrolíferos", afirmou.
Nesse mesmo mês, no dia 5, os Estados Unidos activaram um novo pacote de sanções ao Irão – que implicam o fim das compras de petróleo a este país árabe – como forma de "castigar" Teerão pelas violações do acordo nuclear.
Para reduzir as exportações de petróleo do Irão a "zero", como pretende a Administração Trump, a maior economia do mundo apelou a um boicote internacional, e prometeu bloquear o acesso ao sistema bancário e financeiro dos Estados Unidos a qualquer país que desrespeite esta imposição de acabar com as compras a Teerão.
Contudo, Washington isentou oito países desta obrigação, entre os quais a China e a Turquia. E foram estas excepções que trocaram as voltas ao mercado.
A 3 de Outubro as cotações do petróleo tinham atingido o valor mais elevado em quatro anos, sobretudo devido à iminência da entrada em vigor das sanções dos EUA ao Irão, já que teriam, potencialmente, um impacto significativo na oferta disponível no mercado.
No entanto, as isenções concedidas pelos Estados Unidos aos oito países que compram petróleo iraniano acabaram não só por anular esse efeito como também por contribuir para o cenário contrário, ou seja, o regresso dos receios de um excedente global perante a prevista diminuição da procura.
Perspectivas positivas para 2019
Apesar deste ano negativo, há quem prognostique melhores dias para o crude. Os analistas do Goldman Sachs, por exemplo, prevêem um aumento dos preços do crude em 2019 – mas muito longe dos "tempos áureos" dos máximos históricos atingidos no Verão quente de 2008.
Numa pool da Bloomberg junto de 24 analistas petrolíferos de grandes casas de investimento, as estimativas apontam no mesmo sentido: vai haver uma retoma das cotações do petróleo no próximo ano, já que os receios de uma recessão - dizem - irão revelar-se infundados.
Segundo os analistas inquiridos pela Bloomberg, o Brent irá estabelecer um preço médio de 70 dólares por barril em 2019 - o que corresponde a quase mais um terço do valor a que negoceia actualmente.