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Petróleo nos 100 dólares? Apostas aumentam
Os preços do Brent já negoceiam de novo na casa dos 90 dólares por barril e não devem parar por aqui. Muitos fatores confluem para este cenário, mas uma subida excessiva pode reverter tudo.
A evolução dos preços do petróleo tem estado a animar os investidores. Depois de, em 2023, o desempenho do “ouro negro” ter gorado a maioria das expectativas, devido ao seu saldo negativo, este ano segue na mó de cima e negoceia atualmente em máximos de cinco meses.
A contribuir para a subida estão vários fatores: os receios de um alastrar das tensões no Médio Oriente e a perspetiva de um aumento da procura num contexto de menor oferta – pelo facto de os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) terem fechado mais as suas torneiras.
À OPEP+ juntou-se o México, que decidiu recentemente cortar as suas exportações para limitar as dispendiosas importações de combustível que o país estava a levar a cabo. E isto, por sua vez, fez com que as refinarias norte-americanas também começassem a consumir mais barris domésticos.
“Estamos convictos de que as mais recentes subidas de preço foram impulsionadas pelas renovadas tensões geopolíticas no Médio Oriente, mas os fundamentais – como um nível de procura acima do esperado e uma menos produção – também ajudaram”, aponta Giovanni Staunovo, analista de “commodities” do UBS, numa análise a que o Negócios teve acesso.
Já o Goldman Sachs, numa outra nota de “research”, sublinha que o Brent “está a ser sustentado por novos aumentos nas posições compradoras e nos riscos mais elevados de uma escalada do conflito entre Israel e o Irão”.
Desvios do Mar Vermelho e outras condicionantes
Por seu lado, os ataques dos rebeldes houthis a embarcações no Mar Vermelho, como retaliação pela ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza, também têm obrigado muitos petroleiros a desviarem-se e a optarem por rotas mais seguras, mas igualmente mais longas, atrasando assim o fornecimento de crude. Ao deixarem de passar pelo Canal do Suez, privilegiando África, há entregas adiadas por várias semanas.
Mas não só. As interrupções num importante oleoduto do mar do Norte e num outro no Sudão do Sul, os tumultos na Líbia e os ataques de drones ucranianos contra refinarias russas também contribuíram para o atual movimento altista do petróleo.
O West Texas Intermediate, que é o “benchmark” dos EUA, negoceia atualmente na casa dos 86 dólares por barril e sobe 20,28% no acumulado do ano. Já o Brent do Mar do Norte, crude negociado em Londres e referência para as importações europeias, segue nos 90 dólares e ganha 17,29% no cômputo de 2024. E são cada vez mais os observadores deste mercado que veem o Brent a chegar ao patamar dos 100 dólares ainda este ano. O presidente executivo do Vitol Group é um deles. Russell Hardy disse ontem, na cimeira global do Financial Times dedicada às matérias-primas, que os preços do Brent deverão negociar este ano no intervalo entre os 80 e os 100 dólares. Já o JPMorgan Chase aponta para que o Brent chegue à fasquia dos três dígitos – o que não acontece há quase dois anos – entre agosto e setembro próximos.
No entanto, também temos o reverso da medalha. Os elevados preços do crude colocam pressões inflacionistas, numa altura em que os banco centrais começam a pensar em reduzir os juros diretores devido ao alívio sustentado da inflação, e isso pode fazer com que a OPEP+ coloque mais crude no mercado devido aos receios de que a procura volte a ser penalizada pelas políticas monetárias restritivas. E o petróleo, mantendo-se substancialmente acima dos 90 dólares, pode levar assim à destruição de procura e, consequentemente, a uma queda dos preços, considera o JPMorgan.
Mas o certo é que, por agora, o mercado tem fundamentais firmes, afirmou Bob McNally, fundador da consultora Rapidan Energy Group, à Bloomberg TV. “O patamar dos 100 dólares é real – e para lá chegar basta incorporar no preço um pouco mais de risco geopolítico”, acrescentou McNally, que foi também conselheiro da Casa Branca.