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Petróleo com preços negativos? Porquê e o que significa

As lojas nunca pagam aos compradores para levarem os seus produtos, mas em circunstâncias extremas algumas empresas fazem-no, embora geralmente de uma forma muito limitada.

As exploradoras de petróleo de xisto nos EUA enfrentam riscos acrescidos com a “guerra de preços” iniciada pelos sauditas.
Nick Oxford/Reuters
21 de Abril de 2020 às 15:45
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O que aconteceu no mercado de petróleo, contudo, foi um recuo gigantesco e sem precedentes, com o preço de alguns contratos futuros do crude dos Estados Unidos a cair para -37,63 dólares por barril. Um colapso na procura por petróleo devido à paralisação provocada pela pandemia, uma guerra de preços entre os maiores produtores mundiais que inundaram o mercado, unidades de armazenamento próximas da sua capacidade máxima contribuíram de forma decisiva para este desenvolvimento surpreendente.

1 - Porque é que um vendedor pagaria a um comprador para levar o seu petróleo?

Para alguns produtores, pode ser mais barato a longo prazo do que interromper a produção ou arranjar um sítio para armazenar a matéria-prima que está a borbulhar no chão. Muitos temem que fechar os seus poços possa danificá-los permanentemente, tornando-os não rentáveis no futuro. Também há traders que compram contratos futuros de petróleo como forma de apostar em movimentos de preços que não têm intenção de receber os barris. Podem ser apanhados por quedas acentuadas de preços e ser confrontados com a escolha entre encontrar um local de armazenamento ou vender com prejuízo. E a quantidade crescente de petróleo tornou o espaço de armazenamento escasso e cada vez mais caro.



2 - De onde veio o excedente?

Tanto a pandemia como a guerra de preços, por si só, já teriam abalado os mercados de energia. Juntos, viraram-no de cabeça para baixo. Quando o vírus se espalhou pelo mundo, começou a corroer a procura por petróleo em etapas. Mas precisamente na altura em que países como Itália começaram a mostrar que tipo de danos económicos um "lockdown" nacional pode causar, a Arábia Saudita e a Rússia, os maiores produtores de petróleo do mundo, chocaram de frente. Um pacto que restringiu a produção entrou em colapso e ambos os países abriram as suas torneiras ao máximo, libertando volumes recorde de petróleo no mercado.

 

3 - Não havia um acordo sobre isso?

Sim, um acordo estabelecido pela OPEP, Rússia, EUA e os países do G20. Mas o seu apelo a um corte geral da produção de aproximadamente 10% revelou-se insuficiente e tardio. Inicialmente, os preços ficaram negativos apenas em cantos obscuros do mercado dos EUA, como o Wyoming, onde as opções de armazenamento são escassas. Depois, os principais centros começaram a registar preços negativos para pequenos fluxos de petróleo selecionado. E a 20 de abril, os preços caíram acentuadamente abaixo de zero no CME, o maior mercado de energia do mundo, bem como no NYMEX.

4 - O que é que os contratos futuros têm a ver com isso?

Os preços mais baixos foram registados em transações de futuros - contratos nos quais um comprador segura uma compra a um determinado preço num determinado tempo. Os futuros são uma ferramenta para os utilizadores de petróleo se protegerem das oscilações de preços, mas também um meio de especulação. Os contratos são válidos para uma determinado período e os traders que não desejam deixar a sua posição ou receber a entrega geralmente revertem os seus contratos logo antes do vencimento. Os contratos para entrega em maio expirariam a 21 de abril, colocando pressão máxima no dia anterior sobre os traders cujos contratos estavam a vencer. Para eles, vender a um preço muito negativo era melhor do que encher as banheiras com petróleo, embora o colapso do mercado tenha sido de tal ordem que o mercado interno de petróleo real assistiu a transações para entrega imediata de qualidades como o WTI Midland, Mars Blend, Light e Heavy Louisiana Sweet em níveis negativos.

5 - O que aconteceu ao armazenamento?

Desde que o excedente começou a aumentar e os preços começaram a cair, as instalações de armazenamento começaram a aproximar-se da sua capacidade máxima. As reservas de petróleo em Cushing, no Oklahoma - o principal centro de armazenamento e ponto de entrega do contrato do West Texas Intermediate - aumentaram 48% para quase 55 milhões de barris desde o final de fevereiro. O centro tinha uma capacidade de armazenamento operacional de 76 milhões a 30 de setembro, segundo a Administração de Informação de Energia. A indústria tem vindo a acumular barris a bordo de navios, enquanto considera outras opções criativas, como o armazenamento de petróleo em vagões-cisterna. A administração Trump, preocupada com o possível efeito de cascata das falências na indústria do petróleo, está a avaliar uma proposta, ainda em fase inicial, de pagar às empresas para manterem o seu petróleo no solo temporariamente. A ideia seria mantê-lo fora do mercado até haver uma recuperação dos preços, dando ao Tesouro um lucro saudável, ao mesmo tempo que se protegia os produtores contra perdas imediatas.



6 - O que é que isto significa para os consumidores nos Estados Unidos?

Nos Estados Unidos o preço médio da gasolina caiu mais de 1 dólar por galão (3,78 litros) no ano passado, para 1,81 dólares. Tem vindo a cair todos os dias desde o final de fevereiro. Ainda demorará mais algumas semanas até que as quedas nos futuros se reflitam nas bombas. E como os impostos são uma parte significativa do preço, a descida é de certa forma limitada.

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