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Nem 8 nem 80. Crude pode escalar para 100 dólares

Sendo o mercado petrolífero bastante volátil, tudo pode acontecer em 2022. São poucos os que preveem uma manutenção dos atuais preços, que rondam os 80 dólares por barril. A maioria dos analistas antecipa valores mais altos.

Evolução da pandemia, acordo nuclear do Irão e capacidade de produção são fatores de relevo, para este ano, no mercado petrolífero.
Evolução da pandemia, acordo nuclear do Irão e capacidade de produção são fatores de relevo, para este ano, no mercado petrolífero. Angus Mordant/Reuters
07 de Janeiro de 2022 às 09:00
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Os preços do petróleo poderão ceder algum terreno nos próximos meses, caso a oferta continue a aumentar e a procura não acompanhe, para já, esse crescimento. Mas, a acontecer, será um cenário de curto prazo. A recuperação gradual da economia global leva a que se preveja para 2022 um aumento da procura por crude em todo o mundo, especialmente a partir do segundo trimestre, apesar das metas de redução das alterações climáticas – que preveem um menor consumo de combustíveis fósseis.

Há quem estime que a oferta de crude – com o aumento na produção de “shale oil” (petróleo de xisto betuminoso) e a abertura de torneiras por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) – possa acabar por ser mais elevada do que a procura neste arranque do ano. Muito dependerá da evolução da covid-19 e das restrições à mobilidade que possam ser impostas. Mas a tendência global do ano será de uma procura superior.

O consumo de gasolina e gasóleo aumentou em 2021, face ao ano precedente, à medida que a atividade económica foi retomando, com a procura por crude a atingir os 96,2 milhões de barris por dia – e, para este ano, a Agência Internacional da Energia (AIE) prevê que suba ainda mais, para 99,53 milhões em 2022. A verificar-se, ficará mais ou menos em linha com o consumo diário de 99,55 milhões de barris em 2019.

Isso pressionará a OPEP e o setor do “shale oil” no sentido de atenderem à procura, depois de um ano em que os grandes produtores foram surpreendidos por uma retoma na atividade além do esperado – que esmagou a oferta e levou a uma diminuição dos inventários a nível mundial, sublinha a Reuters.

Pandemia continuará na ordem do dia

Uma das grandes incertezas continuará a ser a pandemia e o seu impacto na economia, nomeadamente a nova variante Ómicron – que, apesar de não provocar sintomas tão graves como a estirpe delta, tem um elevado nível de contágio, tendo levado ao endurecimento das restrições em muitos países, sobretudo na Europa.

As reservas estratégicas

Por outro lado, há o anúncio de que os Estados Unidos vão recorrer às suas reservas estratégicas de petróleo, numa ação coordenada com mais cinco países. A ideia é conter a valorização do “ouro negro”, fazendo baixar o custo dos combustíveis, já que os EUA e outros grandes consumidores dizem que a retoma económica fica em risco.

A decisão foi anunciada em finais de novembro, depois de a OPEP+ ter decidido manter o plano de pôr mensalmente no mercado mais 400.000 barris por dia – não dando, assim, ouvidos aos pedidos de países como os EUA e Japão no sentido de abrirem ainda mais as torneiras. Esse plafond mensal foi já reiterado também para janeiro e fevereiro e o mercado vê como positiva esta cautela do cartel e aliados no sentido de não porem demasiadamente depressa mais crude no mercado. A este ritmo, em setembro estarão repostos os volumes anteriores ao enorme corte de oferta definido em 2020. E mesmo que os países da OPEP+ quisessem abrir mais as torneiras, isso poderia ser difícil, dado o desinvestimento no setor durante a pandemia, as metas da economia verde e a crescente pressão dos acionistas para que as empresas do setor contenham os gastos.

O nuclear do Irão

Há ainda um outro fator que terá grande influência nos preços do crude este ano: Teerão e o seu programa nuclear. A S&P Global Platts Analytics assume um panorama em que haverá acordo nuclear entre os EUA e o Irão, no primeiro trimestre de 2022, com as sanções a serem levantadas em abril e Teerão a poder aumentar a sua produção de petróleo. Mas se não houver acordo, o mercado poderá ficar vulnerável e os preços rapidamente poderão superar os 100 dólares por barril, especialmente se houver mais algum acontecimento disruptivo. “O principal teste chegará no terceiro trimestre, numa altura em que a procura acrescida, típica do verão, desafiará a resiliência da oferta”, referem os analistas, citados pelo Financial Post.

A ausência de acordo nesta frente implicará menos fornecimento de crude por parte do Irão e uma possível ação militar, com ambos os cenários a sustentarem as cotações da matéria-prima, sublinha, por seu lado, a JBC Energy.

Crude acima dos 100 dólares é possível já este ano

Daí que haja um pouco de tudo nos cenários projetados para a evolução dos preços em 2022, desde aqueles que antecipam uma ligeira desvalorização do crude até aos que o veem ser catapultado para valores na ordem dos 125 dólares por barril.

O UBS projeta uma subida do Brent do mar do Norte, crude negociado em Londres que serve de referência às importações europeias, para um intervalo entre os 80 e os 90 dólares por barril em 2022. “Depois de um aumento de 61% do índice Bloomberg CMCI de retorno total da energia, em 2021, estamos convictos de que o setor energético está a caminho de mais um bom ano”, refere Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do banco suíço, num “outlook” a que o Negócios teve acesso.

Segundo Staunovo, os preços do crude e dos produtos petrolíferos deverão beneficiar de um aumento da procura por petróleo, para níveis acima de 2019, ao mesmo tempo que a capacidade disponível a nível mundial deverá cair para patamares mais baixos.

Uma das poucas apostas na manutenção ou queda da cotação do petróleo vem da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), que estima que o preço do “ouro negro” sofrerá uma pressão em baixa este ano, com o crescimento da procura a ser superado pela oferta adicional - visão que a maioria não partilha. “A OPEP+ continuará a pôr mais barris de petróleo no mercado, ao passo que a produção nos EUA deverá aumentar em mais de 860.000 barris por dia”, antecipam os analistas da BNEF, que apontam para que o preço do Brent não exceda em muito a média de cerca de 69 dólares por barril de 2021.

Já os analistas do Bank of America projetam um preço médio de 85 dólares por barril para o Brent em 2022, devido aos baixos stocks e à ausência de capacidade extra. Por seu lado, o JPMorgan Chase aponta para 80 dólares como preço médio para o Brent e prevê mesmo que a cotação possa disparar pontualmente até aos 125 dólares este ano – e chegar aos 150 dólares em 2023 devido à escassez de capacidade na produção da OPEP+. Quanto ao West Texas Intermediate, “benchmark” dos EUA transacionado em Nova Iorque, os analistas inquiridos pela Bloomberg estimam um preço médio de 67 dólares em 2022.

Está, pois, tudo em aberto, como sempre. Os imponderáveis jogarão um papel essencial. Quanto ao que já se espera, nada está garantido.

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