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“Barris em falta” vão encarecer crude. Combustíveis são próxima "vítima"

O crude disponibilizado no mercado no último trimestre de 2023 ficou abaixo da procura e, neste arranque de ano, a tendência mantém-se. O UBS aponta para subida dos preços da matéria-prima.

Carla Pedro cpedro@negocios.pt 26 de Janeiro de 2024 às 07:15

As cotações do petróleo, que no ano passado tiveram - contra todas as expectativas – um saldo negativo –, têm estado a ganhar terreno neste arranque de 2024. A sustentar estão vários fatores, que têm pesado mais no sentimento dos consumidores do que os receios de uma menor procura pela matéria-prima decorrente de uma contração económica global. Com a manutenção desta trajetória, é inevitável que os preços dos combustíveis voltem a subir nas próximas semanas.

Entre esses fatores está o novo corte da oferta por parte dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (o chamado grupo OPEP+), bem como as perturbações na produção dos Estados Unidos devido ao mau tempo. Mas não só: as tensões geopolíticas também estão no radar de quem investe. Além da guerra na Ucrânia – no dia 24 de fevereiro completam-se dois anos da invasão pela Rússia –, também a ofensiva militar de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza tem estado a mexer com os mercados.

Depois do ataque do Hamas, a 7 de outubro, contra israelitas que estavam num festival de música e centenas de outros que viviam nos kibutz (comunidades agrícolas) mais próximos da Faixa de Gaza, Israel iniciou uma guerra contra aquele grupo terrorista. No último trimestre de 2023, o conflito não fez subir os preços como se chegou a antecipar. E isto porque a ofensiva não se alargou, como receado, a outras regiões do Médio Oriente. Contudo, os houthis do Iémen, em retaliação, têm vindo nas últimas semanas a atacar embarcações que passam no mar Vermelho, o que as obriga a novas rotas que não contemplem o Canal do Suez – tornando as viagens mais caras e demoradas, o que pode levar a que as cotações do ouro negro venham a disparar. E o certo é que já estão a subir.

Estimamos que tenha havido um défice da oferta na ordem dos 0,17 milhões de barris diários nos últimos três meses de 2023. Giovanni StaunovoAnalista de matérias-primas do UBS

Para Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do UBS, tudo isto faz com que os preços possam manter-se sustentados ao longo de todo o primeiro trimestre. “Os dados relativos aos ‘stocks’ mundiais de crude mostram que o mercado petrolífero esteve com um ligeiro défice da oferta no último trimestre de 2023. E com a menor oferta da OPEP+ e as atuais disrupções temporárias da produção nos EUA devido ao mau tempo, esse défice da oferta em relação à procura deverá prosseguir”, sublinha o estratega do banco suíço numa análise a que o Negócios teve acesso.

 

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Projeção
UBS calcula que o Brent do mar do Norte possa estar nos 84 dólares no final de março e nos 86 dólares no fim do primeiro semestre.

Por isso mesmo, Staunovo aponta para que o Brent do mar do Norte – crude de referência para as importações europeias, que negoceia de momento em torno dos 81 dólares por barril – possa estar nos 84 dólares no final de março e nos 86 dólares no fim do primeiro semestre.

“As estimativas relativas à oferta e procura de crude feitas pela Agência Internacional da Energia (AIE) dizem que houve um excedente de 0,56 milhões de barris por dia na oferta do mercado petrolífero no último trimestre de 2023. No entanto, a AIE também forneceu dados aos inventários, que mostram um quadro diferente: um défice de 0,89 milhões de barris diários entre outubro e dezembro. Os dados do quarto trimestre ainda não incluem o grande aumento de ‘petróleo na água’ (o crude que é armazenado nos petroleiros) observado em dezembro. Mas se juntarmos os nossos números de ‘petróleo na água’ aos da AIE, estimamos que tenha havido um défice da oferta na ordem dos 0,17 milhões de barris diários no conjunto dos últimos três meses de 2023”, aponta Giovanni Staunovo na sua nota de “research”.

O analista do UBS acha provável que esta discrepância se deva a alterações nos inventários de produtos refinados, que não são rastreados pelos satélites, e ao facto de se ter subestimado o nível da procura – com os “barris em falta” a surgirem frequentemente nos dados do consumo mas não nos números dos inventários. “Outra explicação pode ser a mudança na forma como a Administração de Informação em Energia (que está sob a tutela do Departamento norte-americano da Energia) estima a produção de crude dos EUA, que resulta potencialmente em números acima da realidade”, explica.

Um ponto de partida mais apertado no final de 2023, em termos de oferta, “poderá levar a um mercado com mais défice de oferta no primeiro trimestre de 2024”, considera. “A sólida procura por crude em janeiro, na Europa, bem como as fortes perturbações temporárias da produção nos Estados Unidos – ambos devido ao tempo mais frio – poderão apertar ainda mais o mercado”, reitera.

Por outro lado, “os participantes de mercado deverão continuar a estar atentos às exportações de crude da OPEP+, para verem se o mais recente acordo de corte da oferta está a ser cumprido. Até agora, neste mês de janeiro, as exportações da OPEP+ estão a ser inferiores às de dezembro”, diz ainda o analista do banco suíço.

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