Notícia
Banco central do petróleo mantém torneiras fechadas
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus aliados podem decidir, uma vez mais, adiar a colocação gradual de mais crude no mercado.
Os preços do petróleo não têm estado nos níveis desejados pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, o chamado grupo OPEP+. Para isso tem contribuído uma confluência de fatores, naquilo a que podemos chamar de tempestade perfeita no mercado. Os riscos geopolíticos na Ucrânia e Médio Oriente prosseguem. A China, que precisa de revitalizar a sua economia, que tem agora pendente a ameaça – por parte da Administração Trump, que toma posse a 20 de janeiro – de tarifas alfandegárias adicionais sobre os produtos que exporta para os EUA. As elevadas taxas de juro que ainda se verificam em muitos países, o dólar forte, a débil atividade industrial a nível mundial e as modestas taxas de crescimento globais ajudam a compor o "cocktail".
Perante isto, a OPEP+ poderá, na reunião que realiza esta quinta-feira, adiar pela terceira vez a abertura gradual das suas torneiras. O plano inicial passava por começar a colocar mais crude no mercado a partir de outubro deste ano, mas, perante a queda dos preços da matéria-prima, a OPEP+ decidiu adiar por dois meses esse plano. Entretanto, no encontro dos responsáveis do cartel que teve lugar em inícios de novembro voltou a haver um adiamento: em vez de dezembro, essa entrada gradual de petróleo no mercado teria início em janeiro de 2025. Mas agora tudo aponta para que o cartel possa decidir prolongar o atual corte da oferta por mais três meses.
Além disso, as cotações registaram uma nova pressão assim que Donald Trump saiu vencedor das presidenciais norte-americanas, com o mercado a preparar-se para uma nova era de maior produção de "shale" (petróleo extraído das rochas betuminosas) nos Estados Unidos. Atendendo a que produção norte-americana esteve já em recordes em 2024, se os níveis de oferta aumentarem, as cotações podem ser ainda mais penalizadas – para mais se as taxas de juro e o dólar não caírem, já que são fatores necessários para sustentar o crescimento global.
Um autêntico banco central
A OPEP é muitas vezes caracterizada pela consultora Prestige Economics como o banco central do petróleo, cujo objetivo é criar estabilidade nos preços do crude em níveis que sejam rentáveis para os produtores, mas que não sejam tão altos que incentivem formas alternativas de energia. E é com essa missão em mente que tem desde janeiro de 2017 um acordo com 10 parceiros – liderados pela Rússia – para tentar manter o equilíbrio no mercado.
Nesse contexto, a OPEP+ tem atualmente em vigor dois acordos de retirada de crude do mercado, que ascendem no total a 5,86 milhões de barris diários – e que correspondem a 5,7% da procura mundial. A prevista abertura gradual de torneiras a partir de janeiro (com a entrada de mais 180 mil barris diários a cada novo mês) incidia sobre o acordo voluntário de redução de 2,2 milhões de barris por dia da oferta por parte de oito membros da OPEP+: Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Koweit, Cazaquistão, Argélia e Omã. O outro acordo, que abarca todos os membros e não é de base voluntária, é de 3,86 milhões barris por dia e irá manter-se em vigor pelo menos até ao final de 2025.
Mas o cenário pode vir a melhorar, no que toca aos preços."Estamos convictos de que os participantes do mercado petrolífero estão a incorporar um cenário demasiado pessimista para 2025, esperando um forte crescimento da oferta que possa resultar num mercado com excesso de crude", sublinha Giovanni Staunovo, estratega de "commodities" no UBS. Mas "este ano também começou com elevadas projeções de aumento da oferta, que acabaram por ser revistas em baixa nos meses seguintes, e cremos que em 2025 possa acontecer o mesmo, especialmente porque não parece que a OPEP+ comece a abrir as torneiras se o mercado não conseguir absorver esse petróleo extra", acrescenta o analista no "research" a que o Negócios teve acesso.