Notícia
Petróleo brasileiro num frasco de ketchup
O crude produzido pelo Brasil não correspondeu, este ano, às expectativas de aumento prognosticadas.
"Já alguma vez experimentou tirar ketchup do frasco? Abana, abana e nada sai. Mas se o abanar mais algumas vezes, lá acaba por sair. A produção de petróleo no Brasil é um pouco como os frascos de ketchup – depois de uma forte oferta em 2023, o ano de 2024 tem sido uma sucessão de deceções. O ketchup não está a sair". É assim que Giovanni Staunovo, estratega de matérias-primas do UBS, apresenta o atual cenário do crude brasileiro. E isto deve-se a uma combinação de fatores, sublinha numa nota de análise a que o Negócios teve acesso.
No final do ano passado, explica Staunovo, o consenso geral do mercado era de que o Brasil contribuiria para o crescimento da oferta em 2024: a Agência Internacional da Energia (AIE) estimava um aumento de 315 mil barris por dia, o Departamento norte-americano da Energia apontava para mais 165 mil e a OPEP para um extra de 120 mil. Acontece que a produção brasileira deverá diminuir ligeiramente este ano – e as exportações dececionantes de outubro são prova disso.
"Por detrás desta menor oferta está uma combinação de fatores, como a greve na agência ambiental do Brasil, que atrasou as licenças de prospeção; o adiamento de projetos; a manutenção dos campos petrolíferos existentes; os prolongados 'apagões' que ninguém previu; e o desvio de gás natural para o mercado nacional em vez de ser injetado nos campos – o que poderá levar a maiores quedas nos poços petrolíferos existentes", frisa o analista do banco suíço.
Para 2025, o consenso de mercado volta a acreditar que o Brasil contribuirá para o aumento da oferta de crude. Mas, se se não for o caso, talvez os receios de que a oferta mundial exceda a procura acabem por se revelar infundados. "E os participantes de mercado poderão ter de continuar a abanar o frasco de ketchup", remata Staunovo.