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AIE adverte: oferta de petróleo poderá não satisfazer a procura a partir de 2020

A Agência Internacional de Energia (AIE) diz também que a produção de petróleo de xisto dos EUA sai, em muito casos, mais barata do que os projectos convencionais de prospecção de "ouro negro".

Bloomberg
27 de Abril de 2017 às 01:24
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As descobertas de petróleo a nível mundial caíram para um mínimo histórico em 2016, à medida que as empresas continuaram a cortar nos gastos e que os projectos petrolíferos convencionais que foram sendo aprovados se fixavam no nível mais baixo em mais de 70 anos, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), que alertou para a possibilidade de ambas as tendências prosseguirem em 2017.

 

Num relatório divulgado às 23:00 de Lisboa, a que o Negócios teve acesso, a AIE refere que as novas descobertas de crude diminuíram para 2,4 mil milhões de barris no ano passado, contra uma média de 9 mil milhões de barris por ano ao longo dos 15 anos precedentes.

 

Por outro lado, sublinha a Agência, o volume de recursos convencionais aprovados para desenvolvimento, no ano passado, caiu para 4,7 mil milhões de barris – patamar 30% abaixo de 2015 –, uma vez que o número de projectos que receberam luz verde nas decisões finais de investimento diminuiu para o nível mais baixo desde a década de 40.

 

A AIE destaca, ainda, que esta queda observada no sector do petróleo convencional "contrasta com a resiliência da indústria do petróleo de xisto nos EUA".

 

Com efeito, registou-se uma retoma do investimento no xisto betuminoso dos Estados Unidos, tendo a produção norte-americana aumentado, tudo isto num contexto em que os custos de produção diminuíram 50% desde 2014.

 

E isto conduz-nos a outro cenário, impensável há apenas dois anos: a produção de petróleo nos EUA, a partir do xisto, em muitos casos está a sair mais barata do que a produção convencional.

 

A produção de petróleo a partir de fontes convencionais é de 69 milhões de barris por dia, representando a maior proporção da produção mundial de crude, que é de 85 milhões de barris diários. Além disso, 6,5 milhões de barris diários provém da produção norte-americana, a partir da rocha betuminosa, provindo o restante de líquidos de gás natural e de fontes não convencionais como areias betuminosas e petróleo pesado [crude com alta viscosidade].

 

Segundo a AIE, a procura mundial de petróleo deverá aumentar na ordem de 1,2 milhões de barris por dia nos próximos cinco anos e, se não forem "em breve" aprovados novos investimentos na prospecção de petróleo de fontes convencionais, em 2020 a oferta poderá já não conseguir atender aos níveis de procura.

 

O cartel, o xisto, as reservas e os preços

 

Recorde-se que, durante anos, a OPEP não mexeu no seu plafond de produção. No entanto, no passado dia 30 de Novembro, acordou um corte de produção de 1,2 milhões de barris por dia, para 32,5 milhões de barris diários, a efectivar partir de Janeiro de 2017 e durante seis meses.

 

O cartel foi logo de seguida acompanhado nessa decisão por mais 11 produtores de fora do cartel, que assumiram o compromisso de reduzira sua oferta em 600.000 barris diários – com a Rússia a assumir metade dessa meta.

 

Com a divulgação dos dados da produção global nos primeiros meses do ano, já se sabe que a OPEP – ao contrário do que vinha sendo hábito – está mesmo apostada em ser cumpridora. O incorrigível prevaricador deixou de contornar as regras e é agora um novo bom aluno. Mas tem um grande desafio pela frente: o aumento da produção noutras regiões, nomeadamente nos Estados Unidos.


Mas por que razão é que a OPEP esteve tantos anos sem reduzir a oferta para fazer subir os preços? A resposta é simples: ganhar mais quota de mercado. A OPEP esteve, durante muito tempo, apostada em que fossem os EUA e outros produtores a responsabilizarem-se pela redução da oferta excedentária.

 

Uma das razões que vinham a ser apontadas pela Arábia Saudita para não se cortar o plafond de produção do cartel residia precisamente no ímpeto produtor dos norte-americanos. Segundo os sauditas, se os preços continuassem baixos, não compensaria produzir petróleo a partir de xisto betuminoso, visto que se tratavam de operações com um processamento muito dispendioso.

 

Tal como acontece com o petróleo do pré-sal brasileiro, que é prospeccionado a grandes profundidades, se as cotações do crude não estivessem num determinado patamar, não compensava estar a apostar numa extracção que saía muito dispendiosa. Mas, sabe-se agora, esses custos diminuíram em 50% nos últimos dois anos.

 

E não foi só por essa via que os planos sauditas saíram gorados. É que os Estados Unidos decidiram permitir que se pudesse vender crude ultra-ligeiro ao estrangeiro sem ser necessária a aprovação do Governo, o que deu um incentivo à produção, impulsionando a capacidade exportadora do país – além de que a valorização dos preços trouxe de volta muitos projectos que estavam parados.

 

Sem o corte da OPEP para compensar o aumento da oferta norte-americana, os resultados foram visíveis: o petróleo passou de 114 dólares por barril (e já longe dos máximos históricos de 2008, quando rondou os 150 dólares em Londres e Nova Iorque) para menos de 28 dólares em 2014.

 

Produção norte-americana de vento em popa

 

Agora, com a Administração Trump a prometer uma desregulamentação em vários sectores, entre os quais o da energia, os produtores norte-americanos vêem-se ainda com mais incentivos. É esse, aliás, o receio da Agência Internacional de Energia, que já tinha recentemente sublinhado que o corte de produção da OPEP e dos restantes parceiros de pouco valeria se houvesse um forte aumento por parte de outras regiões.

 

E é, de facto, o que está a acontecer: o aumento da produção petrolífera nos EUA a partir do xisto betuminoso tem ofuscado o anúncio de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo cumpriu a 90% o seu acordo de corte de produção.

 

Desde Maio do ano passado, segundo dadod da Bloomberg, os exploradores norte-americanos de xisto duplicaram o número de plataformas de prospecção no activo, levando a produção nacional a superar os nove milhões de barris por dia pela primeira vez em quase um ano.

 

A Agência Internacional da Energia (AIE) estimou em inícios de Março passado que estes intervenientes deverão aumentar a sua produção em mais 1,4 milhões de barris por dia entre o momento presente e 2022, mesmo que os preços do petróleo se mantenham nos actuais níveis – abaixo dos 60 dólares por barril. E tudo porque os custos de exploração de xisto têm vindo a baixar, o que torna mais rentável esta actividade.

 

Além da desregulamentação prometida por Trump, este sector tem mais dois aliados de peso nos EUA, que se chamam Keystone XL e Dakota Access Pipeline. São eles os dois oleodutos cuja construção o novo residente da Casa Branca já prometeu fazer avançar.

 

A OPEP tem agora marcada uma reunião para Maio, onde decidirá se prolonga o seu compromisso de redução da oferta.

Esta quarta-feira, 26 de Abril, ficou a saber-se que, algures nas próximas duas semanas, o ministro saudita da Energia, Khalid Al-Falih, irá debater o prolongamento dos cortes na produção de petróleo com o seu homólogo russo, Alexander Novak.

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