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Rússia é o Lehman Brothers das matérias-primas, demasiado grande para cair?

O bloqueio às importações de petróleo russo por parte dos Estados Unidos e do Reino Unido acelerou uma nova escalada dos preços da energia, levando vários bancos a reverem em alta as suas previsões para as cotações do crude.

Reuters
09 de Março de 2022 às 07:15
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Nunca houve um ajustamento tão forte e tão rápido no mercado das matérias-primas como o que se tem assistido nos últimos dias, após a invasão russa à Ucrânia. O bloqueio às importações daquele que é um dos principais produtores de “commodities” do mundo está a causar um verdadeiro tumulto nas cotações. Os analistas avisam que caso o país seja afastado das exportações a nível global, a escalada dos preços terá de ser mais pronunciada.

Depois de, ao longo dos últimos dias, várias empresas terem anunciado o corte das relações comerciais com o Kremlin, esta terça-feira foi a vez de os Estados Unidos e o Reino Unido fecharem a torneira ao petróleo russo. Uma notícia aguardada, mas que ainda assim alimentou uma nova escalada das cotações do petróleo, que chegou a negociar acima dos 133 dólares por barril durante a sessão. Mas o petróleo não é o único “dano colateral” nesta guerra. Desde os metais aos cereais, as cotações estão a disparar para máximos, ameaçando criar uma crise equiparável à que se viveu na década de 70.

A escalada sem precedentes do níquel, no mercado londrino, levou mesmo a London Metal Exchange (LME) a suspender a negociação, depois de o preço por tonelada ter disparado até aos 100 mil dólares. Ao longo dos últimos dois dias o níquel somou ganhos de quase 250%.

“Maiores cortes do fornecimento russo de energia e exportações representam desafios significativos para os mercados globais de energia”, realça Giovanni Staunovo numa análise publicada esta terça-feira. Segundo o estratego do UBS, “o país representa aproximadamente 12% do petróleo, 19% do gás natural, e 18% de carvão térmico do comércio global”, sendo que a Europa é o parceiro comercial mais importante da Rússia de petróleo e gás. “Cerca de 72% das exportações de gás natural da Rússia vão para a Europa (mais de 40% das importações da região são provenientes da Rússia)”, detalha o especialista.

“No espaço da energia, a Rússia é ‘demasiado grande para ser compensada por’ e cortar a Rússia do fornecimento de energia vai precisar de preços mais elevados para compensar a destruição de procura”, defende Giovanni Staunovo, argumentando que não será fácil encontrar outros produtores para tomarem o lugar de Moscovo enquanto exportador de matérias-primas.

Bancos atualizam previsões

Após a escalada protagonizada pelos preços do crude nos últimos dias, os grandes bancos de investimento têm vindo a atualizar as suas previsões para o “ouro negro”. Face à rapidez com que as cotações se movem, os analistas estimam agora que o Brent continue a fixar novos máximos, podendo estabelecer no curto prazo um novo recorde, acima dos 147,5 dólares fixados em 2008.

A nova previsão do Goldman Sachs aponta para uma cotação de 135 dólares por barril, acima dos anteriores 98 dólares, enquanto o Bank of America estabelece como preço médio para este ano 110 dólares por barril. Ainda assim, num cenário mais pessimista, o banco norte-americano estima que o Brent posso rondar os 130 dólares por barril em 2022, atingindo um pico nos 175 dólares no segundo trimestre. O JPMorgan tinha uma das previsões mais gravosas para os preços, caso a situação continue a escalar: 185 dólares por barril.

O UBS prevê que os preços rondem os 125 dólares, mas admite que as cotações podem subir acima deste patamar se os problemas no fornecimento piorarem ou continuarem por um longo período de tempo.

“Numa guerra prolongada, que causa uma interrupção generalizada no fornecimento de matérias-primas, podemos ver o Brent mover-se acima da fasquia dos 150 dólares por barril”, escreve Giovanni Staunovo. Desde o início do ano, os preços da matéria-prima já acumulam uma escalada de 66%.

 

$133
Brent
As cotações do petróleo voltaram a disparar esta terça-feira, com o barril de Brent, em Londres, a superar a fasquia dos 133 dólares por barril.

 

 

$147
Recorde
Em julho de 2008, o preço do petróleo atingiu um recorde de 147,5 dólares por barril no mercado londrino.

 

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