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Ouro atinge novo máximo e já pisca o olho aos 3.000 dólares
Muitos analistas apontavam, no início do ano, para a possibilidade de o ouro chegar rapidamente ao patamar dos 3.000 dólares por onça - e o facto é que o metal amarelo continua a somar recordes e já flirta mais de perto com esse nível.
O ouro tem estado a atingir recordes sucessivos nos últimos dias e esta quinta-feira entrou também em território nunca antes explorado. O metal precioso continua a ser impulsionado pelo seu estatuto de valor-refúgio, reforçado pelas tensões geopolíticas e pelos receios de novas pressões inflacionistas nos EUA, devido às políticas protecionistas de Donald Trump.
O ouro a pronto (spot) soma 0,12% para 2.936,29 dólares por onça no mercado londrino, depois de já terem atingido esta tarde um novo máximo histórico, nos 2.954,69 dólares.
No mercado nova-iorquino (Comex), os futuros do ouro avançam 0,16%, para 2.924,20 dólares por onça e já estiveram a transacionar num valor recorde de 2.955,80 dólares.
Em matéria geopolítica, há hoje duas frentes em grande foco e uma delas é a da guerra Rússia-Ucrânia. O presidente norte-americano iniciou conversações com Moscovo, visando o fim do conflito, mas Kiev, além de ter ficado de fora nesta fase, foi criticada por Trump, que apelidou o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, de "ditador sem eleições".
O radar dos investidores está também virado para o Médio Oriente, mais especificamente para as relações entre Israel e o Hamas, no dia em que o grupo terrorista libertou os primeiros quatro corpos de reféns que raptou com vida no ataque de 7 de outubro de 2023. O ambiente geral em Telavive é de consternação e fúria, havendo muitas dúvidas quanto à possibilidade de as fases dois e três do acordo de cessar-fogo poderem avançar.
No início deste ano, com 97 reféns (dos 251 originais) – vivos e mortos – ainda por recuperar, Israel e o Hamas conseguiram acordar um cessar-fogo, composto por três fases, com a ajuda das ameaças de Donald Trump, que disse que quando tomasse posse como novo presidente dos EUA, a 20 de janeiro, queria ver a situação dos reféns resolvida. E foi o que aconteceu: a 15 de janeiro o acordo era confirmado, tendo entrado em vigor no dia 19.
Este acordo de cessar-fogo divide-se em três fases. Na primeira, ainda a decorrer (dura 42 dias), as forças israelitas saem das zonas habitadas em Gaza e o Hamas liberta 33 reféns (a começar por mulheres, crianças e idosos, com prioridade aos civis). Em troca, Telaviv liberta centenas de prisioneiros palestinianos e a população de Gaza poderá regressar a todas as zonas da Faixa. Na segunda fase são libertados os restantes reféns e o cessar-fogo torna-se permanente. Já na terceira fase são devolvidos os corpos dos reféns mortos e dá-se início ao plano de reconstrução de Gaza.
Com estas tensões geopolíticas e os anúncios de Trump relativos à imposição de tarifas alfandegárias adicionais sobre produtos importados pelos EUA, como é o caso dos automóveis, o ouro tem visto crescer a sua importância como porto seguro.
"Com a contínua incerteza geopolítica e económica – agravada pelas ameaças de tarifas da Administração Trump e pela sua repreensão aos aliados ocidentais históricos dos EUA –, a procura do ouro continua a ser impulsionada como um ativo de refúgio, à medida que os investidores procuram proteger-se contra um futuro cada vez mais incerto", sublinha Ricardo Evangelista, CEO da ActivTrades Europe, numa análise a que o Negócios teve acesso.
E isso traz outros efeitos. "A procura pelo metal precioso é tão elevada que o Banco de Inglaterra, tradicionalmente utilizado por entidades globais para o armazenamento de barras de ouro, está a ter dificuldades em processar atempadamente os pedidos de envio, com os volumes a aumentar exponencialmente nas últimas semanas. Este fator, por si só, estará também a contribuir para a valorização do ouro", acrescenta.