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Juros altos já causam "problemas" na capacidade de famílias e empresas pagarem dívidas, alerta FMI

No mais recente Relatório de Estabilidade Financeira, o FMI alerta que taxas mais elevadas por mais tempo afetam o imobiliário residencial e comercial e devem, por isso, ser monitorizadas pelas autoridades locais.

Risco de abrandamento do mercado imobiliário é “elevado” e deverá impactar nas contas da administração local, mas “gerível”, sinaliza a DBRS.
Alexandre Azevedo
Os riscos para o sistema financeiro global mantêm-se elevados. A avaliação é do Fundo Monetário Internacional (FMI), no mais recente Relatório de Estabilidade Financeira Global, em que indica que diminuíram as preocupações relativamente ao stress vivido pelo setor em março, mas que foram transferidas para as crescentes dificuldades de empresas e famílias fazerem face à subida das taxas de juro.

"Embora as tensões agudas no setor bancário mundial tenham diminuído, há agora indícios de problemas noutras áreas, uma vez que as taxas de juro mais elevadas estão a começar a afetar, por exemplo, a capacidade de pagamento de dívidas das empresas e das famílias. Por conseguinte, os riscos para a estabilidade financeira continuam a ser elevados, tal como aconteceu em abril", explica o relatório divulgado esta terça-feira, comparando com a última edição.

O FMI alerta que a perspetiva de "taxas mais elevadas por mais tempo" tem impacto nos setores do imobiliário residencial e comercial. "Em certos países, especialmente naqueles com uma percentagem significativa de empréstimos a taxa de juro variável, os preços das casas registaram descidas de dois dígitos desde o seu pico", explica.

Além disso, as vulnerabilidades do setor imobiliário comercial representam um "risco significativo para o setor financeiro" e, ao longo deste ano, "tornou-se mais evidente" que o setor irá enfrentar uma retração do financiamento por parte dos credores nos próximos anos. Neste cenário, o fundo de Bretton Woods defende que "as autoridades devem efetuar testes de resistência rigorosos para avaliar os efeitos potenciais do aumento das taxas de juro sobre a capacidade dos mutuários de reembolsarem os empréstimos e as consequências de uma queda acentuada dos preços do imobiliário para famílias, empresas e, em última análise, as instituições financeiras".

Há também uma "necessidade urgente" de abordar os riscos sistémicos relacionados com a exposição de instituições financeiras não bancárias - como é o caso dos fundos de investimento - a imobiliário comercial. "Este objetivo pode ser alcançado alargando o alcance dos instrumentos macroprudenciais e melhorando a recolha de dados", sublinha.

Choques adversos ameaçam otimismo sobre desinflação e aterragem suave

Assim, embora as "agudas tensões" no sistema bancário mundial observadas em março tenham diminuído, o FMI aponta que uma análise mais profunda revela que "continua a existir um considerável número de bancos fracos". As autoridades de supervisão devem, por isso, garantir que os bancos têm uma governação empresarial e processos de gestão do risco proporcionais aos perfis de risco e acompanhar a classificação dos ativos e as provisões, bem como a exposição aos riscos de taxa de juro e de liquidez.

"A supervisão bancária atempada, intrusiva e conclusiva é, por conseguinte, crucial e assenta na salvaguarda da independência operacional dos supervisores, proporcionando-lhes mandatos claros em matéria de segurança e solidez, recursos adequados e proteção jurídica. Os países devem também continuar a constituir amortecedores, conforme necessário, para ajudar a proteger contra perdas futuras e para apoiar a concessão de crédito em períodos de tensão", defende.

Este alívio nas preocupações sobre o stress nos bancos faz com que o sentimento nos mercados financeiros seja hoje muito diferente do que se vivia aquando do último relatório, em abril. Estes receios deram lugar a otimismo sobre o processo de desinflação e de uma aterragem suave da economia global. "Mas esse otimismo pode ser desfeito face a choques adversos - como surpresas de subida da inflação, preocupações com a estabilidade financeira na China e novas preocupações com a sustentabilidade da dívida - resultando numa forte reavaliação dos preços dos ativos", adverte.

Os rápidos aumentos das "yields" das obrigações mundiais nas últimas semanas são, segundo o FMI, exemplo da rapidez com que as condições financeiras podem tornar-se mais restritivas. "Os decisores políticos podem tomar medidas para evitar resultados negativos. Quais são as principais prioridades políticas para manter a estabilidade financeira e permitir que o setor financeiro continue a apoiar o crescimento económico? A principal prioridade continua a ser o regresso da inflação à meta", avisa.

"A inflação base global abrandou este ano, mas continua elevada. Uma vez que o crescimento sustentável exige tanto a estabilidade dos preços como a estabilidade financeira, é necessária uma orientação restritiva nas economias com uma inflação ainda elevada e persistente até que haja provas tangíveis de que a inflação está a evoluir de forma sustentável para os objetivos", acrescenta o FMI.
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