Ganhou notoriedade como um dos profetas que anteviu a crise financeira, decidiu lançar-se depois por conta própria mas não teve sucesso e acabou por desistir de administrar dinheiro alheio. Vive nas Bermudas e é de lá que surge o convite para regressar às lides dos mercados financeiros como "gestora de gestores" na Arch Capital Group.

Gerir um fundo de investimento não foi uma aposta ganha por Meredith Whitney, em tempos a mais conhecida analista de mercados dos Estados Unidos. Então, decidiu começar do zero numa seguradora sedeada nas Bermudas, onde vive, a Arch Capital Group.

Aqui, Meredith Whitney não vai escolher directamente títulos para investir mas a supervisionar o trabalho de gestores externos – onde se inclui o JPMorgan Chase&Co e o BlackRock Inc - sobre um portefólio no valor de 800 milhões de dólares.

"A sua função, essencialmente, é gerir gestores", explicou Preston Hutchings, o responsável de investimento da empresa à Bloomberg, que avançou com a notícia da contratação de Meredith Whitney.

O portefólio da Arch supera em larga escala o do tamanho do fundo criado em 2013 por Whitney, o Kenbelle Capital, viabilizado por um investimento de 50 milhões de dólares do bilionário Michael Platt e do fundo BlueCrest Capital Management.

A aposta saiu gorada depois de Platt e do fundo BlueCrest exigirem o seu dinheiro de volta, em Outubro de 2014. Whitney recusou, alegando compromissos contratuais. Seguiu-se um processo em tribunal e um acordo, tendo sido a empresa fechado em Junho deste ano.

"Penso que esse capítulo da minha vida acabou", disse Whitney sobre o seu fundo de investimento numa entrevista à Fox Business em Junho. "Toda esta experiência foi altamente mal sucedida e estou a colocá-la para trás das costas", acrescentou.

A mulher de um ex-lutador que se tornou guru da crise financeira

Com olho para o negócio, Meredith Whitney começou por ter ainda em criança um lucrativo negócio de entrega de jornais, conta o Business Insider. Formada em História pela Universidade de Brown, começou a sua carreira em Wall Street como analista da Oppenheimer. Em 2005 casou-se com John Layfield, um ex-lutador e estrela do "wrestling" norte-americano. Dois anos depois, o estrelato.

O salto acontece depois de, em Outubro de 2007, altura em que era uma analista pouco conhecida na Oppenheimer & Co, publicar uma análise pessimista sobre o Citigroup, que se veio a concretizar.

No estudo, afirmava que o banco teria de cortar o dividendo, vender activos ou aumentar capital para fazer face a perdas no crédito. As acções caíram a pique. Dois dias depois, Charles Prince, o CEO, anunciava a demissão.

Exaltada como um dos gurus que previu a crise financeira que se seguiu, em 2008, tornou-se uma presença regular na imprensa e na televisão.

Em Fevereiro 2009 demitiu-se da Oppenheimer e decidiu lançar a sua própria firma de consultoria e análise de investimento, a Meredith Whitney Advisory Group.

A empresa teve dificuldade em manter clientes e funcionários, não conseguindo fazer face aos rivais. Em 2013, altura em que Whitney lançou o fundo de investimento Kenbelle Capital, a sua firma de research estava praticamente acabada, escreve o The Wall Street Journal.

Entretanto, a guru da crise financeira colocou a sua reputação em risco com novas predições que não tiveram o mesmo impacto que a sua análise ao Citigroup.

Em Junho deste ano - e após desavenças com o seu principal investidor, a BlueCrest - Meredith Whitney acabou com o fundo Kenbelle Capital. Stanley Arkin, advogado da empresária esclareceu à época que o processo legal com a BlueCrest estava resolvido e que todo o dinheiro adicional tinha sido devolvido aos investidores externos no final de Maio. Terminava assim esta segunda incursão por conta própria de Whitney.

A analista regressa agora como supervisora no Arch Capital Group. "Gostamos de ter bons atletas [na equipa] (…) ainda que não joguem na mesma posição que ocuparam no passado", disse Preston Hutchings, responsável da seguradora, ao Financial times.

Assim, Meredith Whitney está de volta aos mercados e às manchetes.