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Os profetas que emergiram da crise

Nem todos perderam com o estalar da maior crise desde a II Guerra Mundial. A analista Meredith Whitney e o economista Nouriel Roubini viram a sua reputação e credibilidade ampliadas. São os gurus que emergem da crise. Mas, afinal, quem são e o que lhes valeu o reconhecimento mundial?

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Nem todos perderam com o estalar da maior crise desde a II Guerra Mundial. A analista Meredith Whitney e o economista Nouriel Roubini viram a sua reputação e credibilidade ampliadas. São os gurus que emergem da crise. Mas, afinal, quem são e o que lhes valeu o reconhecimento mundial?

A mulher que mexe com os nervos do mercado


A vida de Meredith Whitney mudou quando, no dia 31 de Outubro, publicou uma relatório de "research" sobre o Citigroup. No estudo, afirmava que o banco teria de cortar o dividendo, vender activos ou aumentar capital para fazer face a perdas no crédito. As acções caíram a pique. Dois dias depois, Charles Prince, o CEO, anunciava a demissão.

O valor do nome Meredith Whitney já era elevado e disparou à medida que os acontecimentos lhe foram dando razão. Nos meses que se seguiram, o Citigroup e outros bancos foram forçados a reduzir ou cancelar a remuneração aos accionistas, aumentar capital e vender partes do negócio.

A nota de Outubro colocou Whitney no restrito grupo dos que conseguiram antever a crise. Se antes, aos olhos dos americanos era a mulher loira de um dos reis do "wrestling" americano, John Layfield, agora é Meredith Whitney, a guru de Wall Street que previu a maior crise financeira desde a Grande Depressão.

A visão de Whitney está longe de ser um golpe de sorte. Analista desde 1993, começou a seguir o sector financeiro em 1995 na americana Oppenheimer. Três anos mais tarde foi convidada para liderar o "research" para o sector financeiro no Wachovia, regressando em 2004 à Oppenheimer.

Depois do "research" para o Citigroup, fez notas certeiras para outros bancos, estimando as perdas nos investimentos em crédito. De todas as vezes, provocava novos deslizes nas cotações dos seus alvos e mesmo no resto do mercado. Chegou a receber ameaças de morte e teve de conviver com as azias que os seus relatórios provocavam nos bancos visados. "Até parece que eu sou o epicentro da maior crise financeira da história", chegou a dizer. Para elevar ainda mais o seu ego, a revista "Fortune" fez dela a capa da edição de Agosto. Em Outubro, considerou-a uma das 50 pessoas mais influentes nos negócios.

A capacidade de prever o destino das empresas que segue já lhe valeu prémios. Em 2007, Whitney foi considerada a segunda melhor analista a determinar que acções comprar e vender pela Forbes.

O artigo de Agosto da "Fortune" tira outras conclusões. Diz que, em 2008, ela ficou na 1.205 posição entre 1.919 analistas, numa avaliação do retorno proporcionado pelas recomendações de investimento. David Weidner, colunista do "Wall Street Journal" afirma num artigo publicado em Abril que outros três analistas tinham colocado as acções do Citigroup com recomendação de "venda" antes ainda de Meredith Whitney.

Os seus defensores apontam sobretudo a coragem de avançar com a possibilidade de um corte no dividendo do Citigroup. Se a realidade não lhe tivesse dado razão, teria sido um forte abalo na sua credibilidade.

Nouriel Roubini: pessimista ou realista?

Decorria o ano de 2006. A economia norte-americana crescia a um ritmo de 2,7% ao ano. O desemprego atingia uma das taxas mais baixas desde o início da bolha especulativa das "dotcoms", pouco acima dos 4,5%. As bolsas viviam o quarto ano consecutivo de valorizações, com o Índice S&P 500 a terminar o ano com um ganho de 13,62%.

Muitos particulares, mesmo os de fracos recursos aderiram ao "sonho americano" e adquiram casa própria, beneficiando dos juros baixos juros da Fed, que se mantiveram em 1% entre Junho de 2002 e Junho de 2004. O retorno de investir em imobiliário parecia assegurado, a julgar pelo aumento de cerca de 130% no espaço de uma década.

Foram várias as vozes que em 2006 alertaram para o sobre-aquecimento no mercado imobiliário. Mas houve uma que soou mais alto que as restantes: a do economista Nouriel Roubini.

Em Setembro desse ano, num discurso proferido no Fundo Monetário Internacional alertou que a bolha no mercado imobiliário estava prestes a rebentar. Na altura, vaticinou que a construção no segmento residencial iria cair 50% e o preço da habitação afundaria 20% nos EUA. A reacção da plateia foi praticamente unânime: classificaram-no como lunático.

Mas teimou na sua visão catastrofista, o que lhe valeu a alcunha de "Dr. Doom" (Dr. Catástrofe ou Dr. Pessimista). A evolução do mercado, com o estalar da crise do "subprime" em meados de 2007 e as consequências dramáticas para a economia mundial, veio provar que tinha razão. Na realidade foi até conservadora: a construção na área residencial já caiu mais de 80% e o valor das casas recuou cerca de 30%.

A concretização da sua "profecia" foi o suficiente para que as suas avaliações económicas ganhassem um peso significativo nos mercados financeiros. Hoje, em jeito de desafio bem humorado, repudia o epíteto de "Dr. Doom" e prefere "Dr. Realistic" (Dr. Realista).

Quem é, afinal Nouriel Roubini? Doutorado pela Universidade de Harvard, Roubini é, desde 1995, docente de Economia da Stern School of Business, da Universidade de Nova Iorque. Mas o seu currículo não se resume à actividade académica. Entre 1998 e 99 foi conselheiro económico da Casa Branca, durante a presidência do democrata Bill Clinton, tendo como pelouro o aconselhamento económico nos assuntos internacionais.

De 1999 a 2000, foi conselheiro do sub-secretário dos Negócios Estrangeiros, bem como director do Departamento de Política do Desenvolvimento. Nos anos em que esteve ao serviço de Bill Clinton interveio na resolução dos problemas gerados pelas crises financeiras asiática e russa de 1997 e 1998.


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