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Ganância e medo colidem: Wall Street quer que traders regressem aos escritórios

A 2 de abril, dia em que os casos de coronavírus a nível global atingiram 1 milhão, gestores do JPMorgan enviaram por email os novos planos para as equipas de negociação na região de Nova Iorque no contexto da pandemia mortal.

Reuters
11 de Abril de 2020 às 17:00
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Um funcionário da equipa de vendas notou que um colega não constava na lista e questionou onde ele estaria.

"Corona Town, U.S.A." respondeu a pessoa. Aí, um dos responsáveis de negociação de obrigações do banco, Nicholas Adragna, escreveu: "A mesa de trading estará no escritório, a menos que tenham uma doença com atestado médico".

Mais de 100 funcionários estavam no grupo de mensagens visto pela Bloomberg, e alguns ficaram horrorizados. Aconteceu logo após um surto de covid-19 na sede do JPMorgan na Madison Avenue, no qual pelo menos 16 pessoas testaram positivo numa divisão de negociação. Alguns funcionários reclamaram estar a receber mensagens conflitantes de gestores de nível médio e séniores sobre a presença física nos escritórios, onde milhares de milhões de dólares estão em jogo, e preferiram seguir os conselhos das autoridades para ficar em casa.

"Dissemos muitas vezes que quem não se sentir confortável de ir para o escritório não precisa fazê-lo", explicou Brian Marchiony, porta-voz do JPMorgan. "Nunca tivemos uma política que exigisse ou até solicitasse um atestado médico".

Essas tensões não se limitam ao JPMorgan. Embora muitas empresas de Wall Street tenham dito à maioria dos funcionários para trabalharem remotamente, vários traders e banqueiros que estão em casa dizem ter recebido telefonemas e mensagens de gestores a pedir que regresassem aos escritórios, alguns dos quais com casos de contágios.

Pequenas e grandes empresas tentam manter um número suficiente de funcionários nas mesas de negociação para garantir transações rápidas. É a versão do setor financeiro de um problema que se espalha pelos EUA, onde trabalhadores "essenciais" sentem que precisam de escolher entre manter o emprego e arriscar as suas vidas.

Mesas de trading


Alguns bancos de investimento divulgaram até que ponto são capazes de permitir que os funcionários trabalhem remotamente. O Goldman Sachs disse recentemente que só um em cada 50 funcionários trabalha no escritório. Porém, a maioria das divisões de trading exige mais funcionários nos terminais de alta velocidade dos escritórios para lidar com o dilúvio de pedidos de clientes num contexto de fortes oscilações dos mercados. O Bank of America afirmou ter cerca de um em cada 20 funcionários de trading no escritório. No JPMorgan, a proporção é de um em cada cinco nas mesas de trading.

Na mesma altura em que os responsáveis de negociação de obrigações do JPMorgan trocavam emails, Jason Sippel, responsável global de negociação de ações do banco, realizava uma teleconferência com os seus subordinados. Disse que a divisão de trading não é tão eficaz quando muitos trabalham remotamente, mas que está a tentar respeitar a situação os funcionários, de acordo com uma fonte.

Ainda assim, a situação em Wall Street contrasta com a pressão sobre outras equipas da área comercial que têm de se apresentar ao trabalho, mesmo que ganhem menos. E, fora do setor financeiro, a situação é ainda mais difícil. Cerca de 10 milhões de pessoas pediram subsídio de desemprego em apenas duas semanas, enquanto trabalhadores de empresas como a Amazon.com queixam-se das condições de segurança.

É um facto que há muito tempo que os traders têm de ir para o trabalho mesmo estando doentes, mas, nas últimas semanas, essa atitude mudou quando os meios de comunicação passaram a mostrar camiões refrigerados do lado de fora dos hospitais de Nova Iorque, hospitais de campanha no Central Park e as autoridades de saúde pública a pedirem às pessoas que fiquem em casa.

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