Notícia
Fantasma da Brisa assusta investidores da Sonaecom
Risco de ficarem com acções desvalorizadas e sem liquidez pode ditar o sucesso da OPA.
A Sonaecom lançou uma OPA sobre as suas acções, propondo aos investidores títulos da Zon Optimus e dinheiro. A contrapartida não é generosa, dizem os analistas. Mas se não a aceitarem correm o risco de ficarem "presos" a um título desvalorizado e sem liquidez. O "fantasma" da Brisa poderá colocar pressão para garantir o sucesso da operação.
"Os accionistas que não aceitaram as ofertas da Brisa e da Cimpor, aquando das suas retiradas da bolsa, acabaram por ficar com acções desvalorizadas e pouco líquidas", alerta Steven Santos, da XTB. "A memória dos investidores é curta", diz Rui Bárbara. "Os que se lembrarem do que se passou na Brisa sentir-se-ão pressionados a aceitar", remata.
Recorde-se que a OPA do Grupo José de Mello e da Arcus sobre a Brisa terminou em Agosto de 2012 sem que estivessem reunidas as condições para uma OPA potestativa. Os accionistas maioritários pediram a perda de qualidade de sociedade aberta para retirar a concessionária de bolsa, sem pagar qualquer contrapartida, o que levou a um braço-de-ferro com a CMVM. Sete meses depois foi acordada uma contrapartida 24% abaixo da OPA.
Preço não é generoso
Tanto na OPA da Brisa como da Cimpor, os pequenos accionistas resistiram à venda por considerarem que a contrapartida era baixa. Neste caso, a proposta avalia as acções da Sonaecom em 2,45 euros, 10% acima da cotação de fecho de segunda-feira. "É perigoso que os investidores esperem por uma revisão em alta da oferta porque não há nenhum racional que a explique", diz um analista ao Negócios.
"Esta oferta não é surpreendentemente generosa, mas no geral é razoável", diz Alexandra Delgado, do Millennium IB. "Pensamos que os investidores devem aceitar a oferta", remata a analista. A Sonaecom "só estava a negociar nestes níveis porque havia a expectativa de que a operação ia acontecer. Surpreende-me a celeridade da Sonae. Temia que deixassem a acção morrer em bolsa", diz outro analista.
"Com a oferta da Sonaecom, os investidores poderão aproveitar para realizarem liquidez com as acções da Zon Optimus ou ficarem como accionistas de uma empresa maior", diz Steven Santos. O grosso da oferta é em acções da Zon. No máximo, só 12% será em dinheiro.
A Associação de Investidores e Analistas Técnicos (ATM) diz que a oferta "tem de ser revista em termos de rácio de troca". "O rácio de troca não é conhecido, depende da adesão à oferta. E isso cria uma incerteza jurídico-económica grande", alerta Octávio Viana. "Nestes moldes, a oferta não permite um juízo ponderado sobre a oportunidade da oferta", realça o presidente da ATM. Fonte oficial do regulador explicou ao Negócios que apenas existe uma intenção de OPA. Ou seja, a CMVM ainda terá de aprovar os termos propostos pela Sonaecom no âmbito do registo da operação.
O comportamento das acções da Sonaecom na terça-feira, horas antes do anúncio da OPA, levanta suspeitas sobre a possibilidade de alguns investidores terem tido conhecimento prévio da operação. O supervisor está a analisar as transacções. "A CMVM sempre investiga estas movimentações", afirmou ao Negócios fonte oficial do regulador. "Terá de ser feito o despiste para perceber se alguém teve acesso a informação privilegiada", o que é considerado crime.
As acções da Sonaecom estiveram a desvalorizar durante quase toda a sessão de terça-feira, chegando a recuar 1,5%, quando perto das 15h00 inverteram a trajectória acabando por encerrar pelas 16h35 a valorizar 2,24%. Cerca de duas horas depois era divulgado o anúncio preliminar da OPA.