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"Estamos longe dos juros necessários para levar a inflação a 2%". Lagarde sinaliza mais três a quatro subidas
O Banco Central Europeu (BCE) antecipa que ainda irá aumentar as taxas de juro na Zona Euro "várias vezes" após as duas já anunciadas. Questionada sobre o que significa, a presidente garantiu que irá continuar até à escalada dos preços aliviar.
"Face à nossa avaliação atual, esperamos em várias reuniões futuras subir as taxas de juro ainda mais para reduzir a procura e salvaguardar contra o risco de uma transição ascendente em alta nas expetativas de inflação", explicou Christine Lagarde na conferência de imprensa que se seguiu ao conselho do BCE.
Apesar de ter havido "visões diferentes na mesa" dos governadores e membros do conselho, a decisão acabou por ser unânime. "Tinha de ser tomada uma ação decidida", afirmou.
Aumento recorde de 75 pontos base não será norma
Questionada sobre até onde poderiam ir os juros, Christine Lagarde garantiu que "estamos longe das taxas de juro necessárias para levar a inflação de volta à meta de 2%". E quantas são "várias" reuniões? "Vamos continuar a subir juros a cada reunião. Diria que talvez sejam mais de duas (incluindo esta) e menos de cinco. Se três ou quatro, deixo à vossa consideração", respondeu.
Já sobre a dimensão de cada aumento, a presidente do BCE explicou que um aumento recorde de 75 pontos base não será a "norma", mas sublinhou várias vezes que cada decisão será tomada consoante os dados económico. "O que sei hoje é que 0% não é a taxa neutral e onde estamos agora também não é", disse. Numa altura em que tem sido alvo de críticas por ter começado mais tarde do que os homólogos dos EUA e Reino Unido a subir juros, Lagarde rejeitou que o BCE esteja atrasado no curso de normalização: "estamos num caminho que começou em dezembro e não queremos imitar nenhum outro banco central".
Essa inversão a fundo com a primeira subida de juros em 11 anos deveu-se à escalada da inflação na Zona Euro, que continua sem dar sinais de alívio. Os últimos dados indicam uma aceleração de 9,1% em agosto, face a 8,9% em julho. E o BCE não espera que alivie, tendo revisto em alta as projeções para os próximos anos, enquanto se mostrou mais pessimista sobre o crescimento económico.
É demasiado para pensar em reduzir dívida
Quanto ao programa de compra de dívida, o BCE já pôs fim às aquisições líquidas, mas mantém uma estratégia de reinvestimentos. Reafirmou esta quinta-feira que irá continuar a reinvestir os montantes dos títulos comprados no âmbito do programa regular (APP) "por um longo período de tempo" e do programa pandémico (PEPP) pelo menos até final de 2024.
Christine Lagarde explicou que é "prematuro" pensar em reduzir a quantidade de dívida no balanço do banco central, ou seja, em avançar com uma estratégia de "quantitative tightening". "Estamos focados agora no que consideramos ser os instrumentos de política monetária mais adequados e, para já, acreditamos que o mais apropriado é mexer nas taxas de juro", afirmou.
Também do "escudo" anti-crise não saíram novidades do encontro desta quinta-feira do BCE. Em julho, a autoridade monetária criou um novo instrumento para evitar especulação e dificuldades nos países mais endividados (incluindo Portugal, Espanha, Itália e Grécia) no seguimento das subidas dos juros.
Há uma série de critérios para que o instrumento de proteção da transmissão (TPI) possa ser acionado, o que ainda não aconteceu. Questionada sobre o tema, Christine Lagarde disse não ter grandes notícias, deixando apenas uma garantia para o futuro: "estamos prontos a usar o TPI. Não tenham dúvidas."
(Notícia atualizada às 15:30)