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BPI: a política é o assunto que comanda a análise económica
Política passou a ser "o nome do jogo" na avaliação económica, consideram os analistas do BPI na edição de Dezembro do seu boletim mensal de análise da conjuntura.
Em artigo intitulado 'Politics is the name of the game' (Política é o nome do jogo, na tradução à letra, significando que a política é agora a questão principal) desenvolveu-se que "a importância da política nas análises económicas ganhou uma relevância especial em 2016, graças ao resultado inesperado do referendo para o Brexit e à vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA".
A vaga proteccionista nos EUA, as negociações de Bruxelas com Londres, por causa do 'Brexit', Roma, por causa do orçamento, e as eleições europeias de 2019 são alguns dos principais desafios no horizonte, resultantes da nova lógica ou por esta influenciados.
Para avançar uma explicação dos novos desenvolvimentos, apontaram-se três variáveis: a volatilidade eleitoral, a polarização política e a qualidade democrática, que se degradou.
Da primeira, salientou-se que aumentou 68% entre 2010 e 2015 nos países ocidentais, medindo-se pelo fluxo bruto de votos entre partidos.
Neste contexto, os governantes favorecem as propostas de curto prazo, evidenciando-se uma correlação "claramente negativa" entre o desempenho de políticas públicas e a volatilidade eleitoral.
Do segundo factor realçou-se que "a polarização política aumentou significativamente nos países avançados desde a crise financeira" de 2008.
Para estes analistas, o populismo reduz o espaço para fazer reformas com um horizonte temporário amplo e explicam o aumento de políticas de curto prazo, como as proteccionistas.
Por fim, a deterioração da qualidade democrática traduziu-se na estagnação, entre 2006 e 2016, do número de democracias eleitorais no mundo e no aumento do número de formas de governo não democráticas.
O proteccionismo norte-americano, o Brexit e as discussões entre Bruxelas e Roma por causa do orçamento são manifestações do novo quadro geopolítico, apontaram os analistas, ao detalharem, os riscos visíveis de índole geopolítica para 2019.
O BPI alertou que os eventuais ganhos que os populistas venham a conseguir vão ser perdidos no médio prazo.
O proteccionismo dos EUA pode custar-lhe um ponto percentual no crescimento económico e entre 0,1 e 0,6 pontos percentuais para a economia internacional nos próximos anos.
No texto, apontou-se ainda a questionação das principais instituições económicas e técnicas pelos novos atores políticos, antevendo-se um aumento das interferências políticas populistas nas políticas monetárias.
O artigo com um tom optimista dos autores, que vêem nestas novidades "um aviso para que os partidos políticos mais antigos dêem uma maior relevância a assuntos políticos essenciais" e desejam que esta turbulência preceda "um 'status quo' mais sólido e inclusivo".