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Maior fundo de investimento do mundo rejeita remeter-se ao silêncio

O fundo norueguês já está bastante empenhado em usar a força dos seus investimentos para conter o que vê como uma remuneração executiva excessiva e recusar a compra de acções de empresas que considera que causam “graves danos ambientais”.

Bloomberg
Bloomberg 01 de Julho de 2017 às 18:00

Os investidores levam cada vez mais a sério os seus deveres ambientais, sociais e de governance. Estão a reter investimentos em sectores que consideram prejudicar o planeta ou a sociedade, e usam os seus votos para conduzir as empresas por caminhos melhores. Mas isso funciona apenas se os investidores tiverem voz no conselho das empresas que ajudam a financiar - uma voz que a chamada tirania da indexação ameaça silenciar.

 

Assim, o fundo soberano de investimento da Noruega, do Norges Bank, de 960 mil milhões de dólares, o maior do mundo, está a posicionar-se contra os índices de acções que incluem empresas que não estão sujeitas ao controlo dos accionistas. A decisão abre uma nova frente nas iniciativas do fundo para usar a sua considerável - e crescente - influência para obrigar as empresas a melhorarem a sua postura em relação a assuntos ambientais, sociais e de governance.

 

Há duas decisões iminentes e importantes para quem compila os índices que efectivamente decidem que empresas os investidores têm que comprar (para não correrem o risco de terem desempenho inferior aos índices de referência). A Snap, que comercializa uma aplicação de fotos, fez uma oferta pública inicial de 3,4 mil milhões de dólares em Março composta unicamente por acções sem direito a voto. Se a empresa integrar índices de acções, os gestores de fundos serão obrigados a comprar acções que não lhes oferecem nenhuma influência.

 

Um problema muito maior é o da iminente venda de acções da Saudi Aramco, a petrolífera estatal da Arábia Saudita. A empresa pode ser avaliada em mais de dois biliões de dólares, o que a confirmar-se será o maior IPO da história. A venda planeada não entregará mais de 5% da empresa a mãos privadas, deixando 95% com o Estado - e os investidores ficarão quase sem voz em relação à forma de operar da companhia.

 

O fundo norueguês propôs o escalonamento do peso das empresas nos índices com base no poder de voto entregue aos accionistas. O CEO do fundo, Yngve Slyngstad, disse: "A sociedade é beneficiada quando as empresas estão bem geridas e os proprietários de activos levam a sério a sua responsabilidade sobre a propriedade. O voto é uma ferramenta importante para garantir uma boa gestão e garante que os proprietários de activos possam tornar o conselho responsável e garantir geração de valor a longo prazo."

 

Essa é uma mensagem que ecoa em todo o sector de investimento. Em Março, o fundo de pensões dinamarquês ATP, um dos maiores da Europa, com cerca de 112 mil milhões de dólares em activos, opôs-se ao pacote de salários proposto ao CEO da Carlsberg, Cees’ t Hart. Neste ano, o fundo votou contra cerca de metade dos pacotes de remuneração propostos em empresas dos EUA nas quais investe.

 

Enquanto isso, a Aviva, a maior empresa de seguros de vida do Reino Unido, desfez-se de cerca de mil milhões de libras (1,1 mil milhões de euros) em títulos e acções de empresas de tabaco nos últimos meses.

 

O fundo norueguês já está bastante empenhado em usar a força dos seus investimentos para conter o que vê como uma remuneração executiva excessiva e recusar a compra de acções de empresas que considera que causam "graves danos ambientais". Ao fazer objecção aos índices que incluem acções de empresas que não dão voz suficiente para que os accionistas decidam o seu caminho, o fundo está a garantir que poderá continuar a usar o seu considerável poder de investimento de forma responsável. Trata-se de um alerta que os provedores de índices deveriam levar em consideração.

No final do ano passado, o Norges Bank detinha participações em 20 cotadas portuguesas, tendo em 2016 aumentado o seu investimento para máximos de 2008.  


Esta coluna não reflecte necessariamente a opinião da Bloomberg LP e dos seus proprietários.


Título original em inglês: World’s Biggest Wealth Fund Is Refusing to Be Silenced: Gadfly

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