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BPI regista a maior queda de sempre em bolsa e recua para mínimos de 2013 (act.)
As acções do BPI fecharam a sessão a cair mais de 13%. Esta foi a maior queda diária desde que as acções negoceiam em bolsa. A pressionar as acções está a exposição a Angola e o interesse no Novo Banco.
As acções do BPI afundaram 13,05% para 1,086 euros, tendo chegado a perder um máximo de 16,57% para 1,042 euros, o que corresponde ao valor mais baixo das acções desde Outubro de 2013. A queda das acções do BPI esta quarta-feira foi a mais pronunciada desde que as acções se estrearam em bolsa (1994).
Com a queda desta quarta-feira, 17 de Dezembro, o BPI acumula já regista perdas no acumulado do ano (-10,28%), com a capitalização bolsista a recuar para 1,59 mil milhões de euros.
Este comportamento bolsista foi acompanhado de uma elevada liquidez, tendo trocado de mãos mais de 8,37 milhões de títulos, o que compara com os 3,11 milhões negociados em média por dia nos últimos seis meses.
A queda das acções do banco surge depois de na terça-feira, 16 de Dezembro, à noite ter sido emitido um comunicado onde o BPI dá conta que a partir de 2015, vai ter de mudar a forma como tem vindo a contabilizar, nos rácios de capital, o seu banco em Angola, o BFA (onde tem 50,1% do capital).
Uma alteração que vai penalizar os rácios de capital do banco de forma significativa. Considerando a nova forma de contabilização que o BPI terá de seguir em relação a Angola, o rácio Common Equity Tier 1 (segundo regras transitórias) cairia dos 12,5%, contabilizados em Setembro último, para os 10,7%. Já o rácio Common Equity Tier 1 "fully implemented" (com a inclusão de todas as regras), que em Setembro deste ano era de 9,8%, desceria a partir de 2015 para os 8,9%.
"O BPI está a ser afectado pela alteração no tratamento contabilístico do BFA, que poderá levar o banco a diluir o capital para reforçar os rácios", explica Steven Santos ao Negócios. "A alteração na contabilização do banco em Angola, o principal motor internacional do grupo, acrescenta um factor de incerteza do qual os investidores não estavam à espera, acrescenta o gestor da XTB.
Uma posição partilhada por João Queiroz. O responsável pela sala de mercados da GoBulling atribui o desempenho negativo das acções do BPI "a uma questão de sector bancário europeu e o tema do BCE ‘aconselhar’ uma limitação da sua exposição a Angola". A preocupação que os investidores estão a traduzir nas acções demonstra "uma incerteza que se pode reflectir, sobretudo, pela possível relevância nos seus resultados".
"Este desenvolvimento em relação a Angola traz receios de eventuais necessidades adicionais de capital e leva os investidores a questionar como vão ficar os rácios do banco", afirmou à Reuters o analista do Banco Big, João Lampreia, acrescentando que "a situação do sector financeiro em Portugal estava já desafiante e esta é mais uma acha para a fogueira".
Esta alteração resulta de novas regras impostas pela Comissão Europeia, que levaram a exposição indirecta do BPI ao Estado angolano e ao Banco Nacional de Angola a exceder em mais de 3 mil milhões de euros o limite dos grandes riscos imposto.
O BPI informou ontem que terá de "adoptar as medidas necessárias ao cumprimento do limite dos grandes riscos". É para essa tomada de decisões que o BCE dará um "prazo adequado", depois de ter rejeitado a proposta do BPI (Fernando Ulrich propunha a contabilização do BFA pelo método de equivalência patrimonial, dado que, defende o comunicado, mesmo no caso de uma catástrofe na economia angolana, a exposição máxima do banco a Angola seria de 394 milhões de euros.
Interesse no Novo Banco
A queda das acções surge também depois da instituição liderada por Fernando Ulrich oficializa o interesse na compra do Novo Banco.
"O conselho de administração do Banco BPI, tendo presente a divulgação do anúncio e dos termos e referência do procedimento relativo à alienação do Novo Banco, que prevêem como primeira fase do mesmo a 'Fase de Manifestações de Interesse', deliberou que o Banco BPI se apresente a essa primeira fase, entregando a correspondente Manifestação de Interesse", indica o comunicado emitido esta terça-feira, 16 de Dezembro, através do site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
Albino Oliveira, analista da Fincor, também em declarações à Reuters afirmou que será a "notícia da queda deste rácio de capital do BPI que está a ter um impacto negativo no título, até porque a formalização do interesse no Novo Banco já era esperada e, de certa forma, vista como positiva, pois permite ao banco consolidar quota de mercado doméstico".
"Não acredito que a oficialização do interesse na compra do Novo Banco justifique uma desvalorização tão acentuada do BPI, uma vez que era largamente conhecido do mercado e poderá levar o banco a assumir-se como o líder em Portugal", frisa Steven Santos ao Negócios.
Conforme estipulado no caderno de encargos quando arrancou o processo de venda, no início de Dezembro, os potenciais interessados têm até às 17 horas do próximo dia 31 de Dezembro para se tornarem potenciais compradores. A 16 de Dezembro, o BPI decidiu, em reunião de administração, entregar essa manifestação de interesse. Fê-lo, portanto, 15 dias antes do final do prazo.
(Notícia actualizada às 16h45 com valores de fecho)