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Ondas de energia

São jovens, estudantes e com espírito empreendedor. Neste momento, têm no bolso 50 mil euros, a ambição de deixarem uma marca forte no mundo que os rodeia e, no currículo, o orgulho de terem sido escolhidos por uma dos maiores empreendedores em série do mundo, o multimilionário e patrão do império Virgin, Sir Richard Branson, como os vencedores do Prémio Inovação EDP. O VER conversou com a equipa que pretende transformar a energia do movimento em electricidade.

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São jovens, estudantes e com espírito empreendedor. Neste momento, têm no bolso 50 mil euros, a ambição de deixarem uma marca forte no mundo que os rodeia e, no currículo, o orgulho de terem sido escolhidos por uma dos maiores empreendedores em série do mundo, o multimilionário e patrão do império Virgin, Sir Richard Branson, como os vencedores do Prémio Inovação EDP. O VER conversou com a equipa que pretende transformar a energia do movimento em electricidade.

Foi com pompa e circunstância que, em Fevereiro último, a EDP apresentou, em conjunto com Richard Branson e com o apoio da Visão e da revista Exame, o mote para um concurso de ideias que introduzisse uma perspectiva ambiental no meio empresarial, estimulando o desenvolvimento de projectos na área das tecnologias energéticas limpas. Dos 49 candidatos, a Emove, que mistura energia das ondas, um gerador portátil em forma de esfera e a acumulação de energia em movimento, foi a grande vencedora.

E é na primeira pessoa que os fundadores da futura empresa, Pedro Balas, Tiago Rodrigues e Miguel Caetano, a par de novos membros da equipa, como Inês Sampaio e António Matos, falaram ao VER sobre sonhos e ambições e o que representa saber que, com idades entre os 20 e os 21 anos, o futuro se afigura mais risonho do que para a maioria de jovens da sua idade.

Uma ideia sobre carris
Já nos aconteceu a todos, sem dúvida. Telemóvel sem bateria e uma fonte de carregamento próxima inexistente. Frustração, nervos e, possivelmente, alguns impropérios. Pois bem, no caso de Pedro Balas, a fazer um InterRail e deparando-se com a situação acima descrita, o malogro deu origem a uma fértil imaginação: "uma esfera que com o movimento da pessoa (caminhar, correr, baixar, saltar, parar, arrancar, etc.) captasse essa energia desperdiçada e pudesse convertê-la em energia eléctrica acumulando-a, para que, quando fosse necessário o carregamento de qualquer dispositivo portátil, fosse disparada para o tal aparelho de forma a transferir bateria da esfera para o dispositivo, deixando-o carregado", conta, como se parecesse fácil.

E se bem o imaginou, melhor se movimentou para que a ideia tomasse forma. Com 20 anos, o estudante de engenharia mecânica, do Instituto Superior Técnico (IST), reuniu um grupo de amigos, apostando na sua multidisciplinaridade, para que o projecto pudesse arrancar formalmente. A ele se juntaram Tiago Rodrigues e Miguel Caetano, ambos estudantes de Gestão da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e os dois com 20 anos. A equipa de fundadores foi entretanto reforçada por Inês Sampaio, de 21 anos e estudante de engenharia electrotécnica no IST e por António Matos, da mesma idade, mas a estudar engenharia informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL.

A ideia do carregador portátil arranjou pernas para andar e ainda percorreu alguns concursos, mas foi um professor de Economia da UNL que aconselhou à revolução do projecto, tanto a nível do produto como do próprio mercado."Escalonámos o carregador e conferimos-lhe uma forma mais hidrodinâmica ao seu exterior e, assim obtivemos a BluSphere", explica Pedro Balas.

Tal deu origem a "um gerador eléctrico com 3 metros de diâmetro que converte a energia cinética das ondas provenientes de qualquer direcção e converte essa tal energia em energia eléctrica, sendo esta fornecida para a rede eléctrica nacional, podendo, inclusivamente adaptar outros sistemas de produção eléctrica, sendo esta, de qualquer maneira, mais barata, produtiva e resistente e com melhor aparência, comparativamente com outros já existentes".

Equipa: da ausência de gravidade à âncora terrestre
Em comum parecem ter o espírito de empreendedorismo necessário a este tipo de iniciativas, boas doses de optimismo e a noção perfeita de que a responsabilidade de criar uma empresa ao mesmo tempo que ainda estão a terminar os respectivos cursos irá implicar doses redobradas de dedicação e empenho. Mas é também na heterogeneidade da equipa que reside a força da Emove.

Como afirma Miguel Caetano, "o trabalho tem levado a que nos conheçamos uns aos outros e a nós próprios nesta nova vertente de empreendedores". Apontando o facto de ser uma pessoa realista como um ponto forte no que respeita à equipa e ao funcionamento do projecto, Miguel sabe que numa equipa muito jovem "é necessário termos os pés bastante assentes na terra, nunca perdendo a ambição necessária para correr o risco".

Para além do mais, o estudante de gestão aponta ainda o facto de que "serem amigos antes de colegas" permite que valores como a frontalidade, a sinceridade e a lealdade estejam sempre presentes no trabalho em conjunto. Já Pedro Balas se auto-intitula como "uma pessoa muito optimista e, francamente, sem os pés bem assentes na terra, com os sonhos a privarem-me da gravidade".

Mas para o puxar para baixo existe a Inês: a única rapariga do grupo, que "nunca foi dada à gestão, mas sim à solução de problemas com base nos meus conhecimentos", e que tem como principal preocupação actual finalizar o protótipo. E é neste ponto intermédio que Pedro Balas expressa a boa complementaridade da equipa: "metade flutua gradualmente, sendo eu o extremo, e a outra metade funciona como a âncora terrestre da equipa, sendo a Inês o outro extremo", afirma. O facto de frequentarem cursos diferentes é, obviamente, um dos pontos mais fortes a considerar numa equipa que se quer vencedora.

Se Inês apresenta "um forte conhecimento na área de electrotecnia, que é nuclear para o desenvolvimento correcto deste projecto", se Pedro assume ter "sempre a cabeça programada para pensar como o típico engenheiro que só vê a maravilha tecnológica e não sabe, de forma eficaz, aplica-la ao mercado escolhido" e se António Matos, o futuro engenheiro informático que confessa que "até a data não tive qualquer tipo de formação na área da economia ou gestão, embora seja o ramo no qual pretendo aprofundar os meus estudos e exercer a minha vida profissional", os restantes elementos têm sob os ombros a responsabilidade de trabalharem na eficiência da relação empresa-mercado.

Assim, Tiago Rodrigues, assume-se sem falsas modéstias como "um membro muito importante na concepção do plano de negócio, organizado a nível empresarial, em termos de planeamento e de timings". Não é a primeira vez que Tiago mergulha no mundo dos negócios e trabalhar por conta própria sempre esteve nos seus planos. Miguel, que também estuda Gestão e se assume como dinâmico e combativo, valores que considera muito importantes não só no mundo dos negócios, como na própria vida, reconhece também que "este projecto e os prémios que temos ganho têm sido para mim muito importantes não só pelas capacidades e conhecimentos técnicos que tenho adquirido, mas também para os complementar com noções práticas do mundo dos negócios que de outra maneira teria demorado muito tempo a adquirir".

E se recebesse um sms a dizer que tinha ganho 50 mil euros?
Provavelmente não acreditaria. Mas foi exactamente assim que a notícia chegou ao telemóvel de Pedro Balas (desta feita com bateria): "GANHÁMOS 50000€", escreveu o Tiago. Mas como recorda Pedro, "poderia ser uma piada para quebrar a rotina e seria totalmente justo pois eu já lhe tinha feito algo parecido, mas com o facto de ter sido recusada a patente ou de dizer-lhe que me ligaram a comunicar que tínhamos perdido o concurso".

Só duas noites depois é que Pedro caiu em si (não sabemos se foi a Inês que mais uma vez o chamou ao planeta Terra), "e me apercebi realmente do privilégio que foi ficar em primeiro lugar, vencendo todos os investigadores e professores e ter sido escolhido a dedo pelo Sir Richard Branson e de podermos arrancar com 50000€”, conta.

Ao contrário de Pedro Balas, que "não querendo passar por gabarolas mas sim por optimista, sempre tive toda a confiança que iríamos ganhar e que este concurso estava talhado para o nosso projecto", o mesmo não aconteceu, por exemplo, com António Matos: "sinceramente penso que não passou pela cabeça de nenhum de nós sermos sequer finalistas; sabíamos que haveria bastante concorrência, visto tratar-se este de um concurso bastante divulgado e com um prémio muito aliciante", confessa.

Já a primeira ideia que assolou a mente de Inês coaduna-se perfeitamente com o espírito prático da estudante de electrotecnia: "Oh não. E agora? Que responsabilidade de se ter uma empresa sem curso superior completo e com 21 anos", pensou de imediato.

Tiago, por seu turno, e para além de uma grande euforia, recebeu a notícia do prémio com um cauteloso "primeiro passo dado": mas foi com muito orgulho que pensou que "como jovens pudemos provar a todos que temos o que é preciso para construir uma empresa como a Emove e levar o projecto avante". Isto apesar do jovem estudante de gestão confessar que continua a ser um leigo na tecnologia do projecto e que a sua parte é mais relacionada com os números do negócio.

Agarrar a onda para o futuro
Se alguma lição pode ser retirada da conversa que o VER pôde estabelecer com estes jovens é que, apesar do talento inegável que todos parecem ter, é a honestidade e a perfeita noção dos pontos fracos e fortes de cada um que fazem deles uma equipa coesa. Se Pedro Balas admite estar a ser "reprogramado" pelos seus companheiros futuros gestores e com a ajuda de um curso intensivo na faculdade de Economia da UNL, estando mais perto da visão bilateral necessária ao projecto, Miguel Caetano, por exemplo, "trabalha melhor sobre a pressão do contra-relógio e precisa de dormir "pelo menos 8 horas para ter uma mente aguçada, o que pode restringir um pouco os horários do trabalho".

Inês preocupa-se com as responsabilidades acrescidas de "conciliar muito bem o meu estudo com o trabalho para dar continuação ao projecto e ao meu curso" e Tiago está já a pensar nas necessidades a breve trecho: "Apesar de termos ganho o prémio e outros concursos e de incorporarmos uma equipa multidisciplinar, precisamos de mais pessoal nas áreas de Engenharia e Gestão para complementar e reforçar a equipa".

Na calha estão já dois nomes, Diogo Cruz e Carlos Pacheco, com 20 e 21 anos, respectivamente, ambos a estudar gestão, o primeiro na Universidade Católica Portuguesa e o segundo na Universidade Nova de Lisboa.

Em termos de ambições, a equipa é mais homogénea. Se já foi dito que Inês só descansará quando vir o protótipo finalizado, Tiago vai mais longe e apesar de sublinhar que a sua prioridade não será a de viver para a empresa, mas sim viver da empresa, a sua ambição é a de "levar a Emove a tornar-se na empresa dominante da energias das ondas com presença no mercado mundial", razão pela qual já tem na sua agenda a médio prazo a marcação de reuniões com potenciais investidores interessados.

António Matos tem noção da "sorte que tivemos, por isso vamos tentar aproveitá-la para alcançar o nosso objectivo, tendo consciência de que será exigido muita dedicação e trabalho". Já o detentor da ideia inicial, afirma partilhar a mesma ambição do resto da equipa: "conseguirmos implementar este projecto a 100% com a máxima confiança e no mínimo tempo possível, de maneira a partirmos para o já idealizado segundo projecto da Emove".

"Uma empresa que constrói e disponibiliza produtos que contribuem para a auto-sustentabilidade e que partilha a visão de um mundo melhor" é a direcção que a Emove pretende seguir. E decerto que Sir Richard Branson vai continuar atento ao trabalho desta equipa.
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