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Harvard aposta em “educação avançada de 3º grau”
Não é uma universidade para a 3ª idade, mas a possibilidade para um “segundo acto” de carreira, um “encore” ou uma nova oportunidade de deixar a marca na sociedade depois de se atingir o topo na carreira e em alternativa ao “lazer” que muitos pretendem evitar quando chega a idade de reforma. A Harvard Advanced Leadership Initiative está a revolucionar a educação “sénior” apostando num curso interdisciplinar para os que têm vontade de utilizar a experiência adquirida para dar forma a projectos que abordem questões sociais complexas
Depois de 36 anos de carreira na IBM, onde ocupou vários cargos de liderança, Lauren States chegou à fase normal da vida em que se pensa no tão desejado tempo livre que a reforma oferece. Com o marido aposentado desde 2011 e entretanto dedicado a novos projectos de serviço público, Lauren começou a pensar, todavia, naquilo que poderia ser o seu segundo acto de vida. Enquanto executiva sénior da gigantesca Big Blue, States sempre se interrogou por que motivo a indústria das tecnologias tinha escassez de mulheres e, mais grave ainda, de mulheres negras. Foi então que resolveu transformar a questão numa cruzada, não sabendo, contudo, por onde começar.
Uma história similar conta Ken Kelley, no Finantial Times. O fundador da Paxvax, uma empresa de vacinas com enfoque na indústria das viagens, sempre se questionou por que motivo certo tipo de doenças, como o Ébola ou o dengue, não tinham ainda protecção via vacinas. Kelley, que trabalhou durante 35 anos em Silicon Valley como capitalista de risco e empreendedor na área da biotecnologia, admitiu a sua obsessão face a esta ausência e falou sobre a mesma com clientes, colegas, amigos e qualquer outra pessoa que tivesse paciência para o ouvir. E, durante uma dessas conversas, um amigo encorajou-o a seguir esta paixão começando por a abordar num programa de Harvard denominado Advanced Learning Initiative (ALI).
"A missão da ALI visa estabelecer "um novo degrau na educação superior, com base na colaboração entre disciplinas e profissões distintas, com o objectivo de originar uma nova ‘força’ de líderes experientes que estão a iniciar a transição dos seus anos de actividade remunerada para os seus próximos anos de serviço público"
Lauren States e Ken Kelley são apenas dois de um conjunto significativo de executivos seniores, que ou se encontram no topo do topo das suas carreiras, próximos da idade da reforma ou mesmo já reformados e que decidiram trocar o prazer dos dias de lazer a jogar golfe ou a viajar para destinos exóticos – prática comum entre os mais afortunados líderes de sucesso – por um "regresso às aulas" naquilo que a tradicional Universidade de Harvard, com mais de 400 anos de existência, denomina como a "invenção de uma ‘3ª’ fase na educação superior.
A Harvard Advanced Learning Initiative nasceu – ou melhor, foi "semeada" em 2005, pela mão de Rosabeth Moss Kanter, Rakesh Khurana e Nitin Nohria [actual Dean da HBS], todos eles professores de renome mundial na universidade mais famosa do mundo e que, em conjunto, decidiram escrever um paper sobre esta "invenção".
O paper, intitulado "Moving Higher Education to its Next Stage" não só analisa a história da educação superior (a evolução das universidades, das pós-graduações e a que existe para além destas), como a crescente existência de desafios globais complexos e ainda as alterações demográficas: em particular, o aumento da longevidade e o potencial para que profissionais seniores possam "continuar a aprender", aproveitando o seu talento, energia, competências, experiência e um tempo "pós-carreira", para prestarem um serviço "extra" em actividades que abordem e confiram impacto positivo aos mais complexos "reptos" da sociedade.
O segmento "explosivo" de Baby Boomers próximo da idade da reforma (que só nos Estados Unidos ascende a mais de 75 milhões de pessoas) que está a ser "contagiado" pelo impulso de "dar de volta à sociedade" em conjunto com o facto de "se estar a reformar mais tarde, ao mesmo tempo que mantém uma actividade física e mental elevada, preferindo colocar o seu talento e experiência ao serviço da sociedade" são três razões explicitadas também neste paper para a criação desta iniciativa inovadora.
Cerca de quatro anos mais tarde, mais precisamente em Janeiro de 2009, o programa arrancou, em modo "piloto", com uma turma de 14 alunos, entre os quais se contavam um antigo general e astronauta, um antigo funcionário da Agência para o Desenvolvimento Internacional das Nações Unidas, um médico empreendedor do Texas, um alto cargo de uma empresa de utilities da Califónia, um ex-ministro da Saúde da Venezuela e um antigo executivo de topo de uma empresa de computadores da Suíça.
Com backgrounds completamente diferentes – sendo esta uma das características procuradas pela ALI – o que unia, em 2009, estes "novos velhos alunos" era um "espírito de que é possível fazer acontecer", uma experiência de liderança de pelo menos mais de duas décadas e a vontade de experimentar uma "alternativa à reforma", a qual pudesse contribuir não só para uma busca de propósito individual, mas também para gerar impacto positivo nos vários problemas sistémicos e globais que assolam o mundo. Apostar em candidatos de diversas partes do globo, com backgrounds e profissões diversificados e com vontade de aprender e apreender novas competências e recursos "fora das suas zonas de conforto" consiste igualmente numa das premissas da ALI.
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