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As olimpíadas da sustentabilidade

O mundo estará hoje, e nas semanas que se seguem, de olhos postos em Londres, a cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2012. E, sete anos passados sobre a adjudicação dos mesmos, não serão apenas os atletas a serem avaliados, mas também a organização do mais internacional dos eventos desportivos do planeta.

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E, por falar em planeta, resta saber se Londres cumpriu os mínimos a que se propôs quando prometeu que estes seriam os Jogos mais “verdes” de sempre. Ao pódio, já subiram alguns vencedores

Quando Londres se candidatou a acolher os Jogos Olímpicos de 2012, colocou a sustentabilidade no centro da sua aposta. O conceito eleito – “Towards a One Planet Olympics” tinha como base uma ideia simples: se a população mundial vivesse, no seu todo, de acordo com o estilo de vida de um qualquer britânico comum, seriam necessários os recursos de três planetas para acolher e prover todos os seus habitantes. A ideia não é de todo inovadora, mas serviu de mote para Londres fazer uma promessa arrojada: transformar as presentes Olimpíadas nas mais verdes da História ou, traduzindo o conceito em termos ecológicos, tornar o evento neutro em carbono. E, finalmente chegado o tão ansiado dia de abertura dos Jogos, a promessa não foi completamente cumprida e Londres não irá ganhar uma medalha banhada a ouro e verde. Todavia, as metas atingidas colocam-na no pódio da sustentabilidade. É que os esforços efectuados não serão apenas para “inglês ver” enquanto decorrem as provas, mas para permanecerem como um legado ambiental poderoso para a capital londrina, com benefícios económicos, sociais e ambientais para a comunidade.

O Comité Olímpico Internacional (COI) tem vindo a encorajar, nos últimos anos, que as cidades anfitriãs dos Jogos façam uma gestão cuidada dos impactos ambientais dos eventos em causa, mas sem imposição de quaisquer metas. Mas e como refere Emmanuele Moreau, porta-voz da organização, numa entrevista ao GlobalPost, “Londres 2012 integrou a sustentabilidade no planeamento dos Jogos desde o início”. E, de acordo com a Olympic Delivery Authority (ODA), uma comissão independente que avalia os objectivos traçados para esta maratona de sustentabilidade, “a maioria das metas estabelecidas atingiu ou ultrapassou os resultados propostos, nomeadamente os que estão relacionados com as emissões de carbono, com os resíduos e com a eficiência energética”.

Apesar de existir um pouco de exagero nestas afirmações, a verdade é que a zona que alberga agora o complexo olímpico, a área de East End, e que sempre foi conotada com pobreza, crime e desgraça, está agora simplesmente irreconhecível. O bairro de Stratford, a localização central dos Jogos, foi transformado, em poucos anos e, de uma zona industrial abandonada, ergue-se agora como um modelo de sustentabilidade que irá perdurar na cidade, espera-se, pelos muitos e muitos anos seguintes à realização do evento.

Com cinco temáticas por excelência (v. Caixa 1) – alterações temáticas, resíduos, biodiversidade, inclusão e bem-estar e saúde - que serviram de orientação para todo o planeamento e subsequente construção do complexo olímpico – um conjunto de objectivos sustentáveis foram determinados e, apesar de alterações estruturais inevitáveis, muitos foram atingidos (v. Caixa 2).

Revitalização e legado para o futuro
Um dos principais e mais complexos objectivos destas “olimpíadas da sustentabilidade” esteve relacionado com a melhoria significativa dos indicadores socioeconómicos da zona de East End, para que esta se assemelhasse aos demais bairros londrinos. Para o responsável da “Comissão para uma Londres Sustentável”, Shaun McCarthy, um grupo independente que monitorizou todo o projecto desde o seu início, “foi necessária uma visão a 30 anos, no que respeita a todo o complexo olímpico, tendo em consideração todos os standards de sustentabilidade e a forma como as pessoas poderão viver o futuro de uma forma diferente”. McCarthy sublinhou o trabalho estreito efectuado entre os responsáveis pelo planeamento e desenvolvimento do projecto e a comunidade, para preservar os bairros, que são maioritariamente habitados por minorias da classe trabalhadora e imigrantes, anulando a noção de gueto e transformando-o num “novo recomeçar”.

E, um outro sector cuidadosamente repensado foi o dos transportes públicos. Pela primeira vez, nem um carro será permitido circular nos “terrenos olímpicos”. Os transportes públicos serão a primeira e única hipótese para os quase 11 milhões de visitantes esperados, com apenas alguns parques reservados, fora dos limites da cidade, nos quais as pessoas poderão estacionar as suas visitas e apanhar, seguidamente, os transportes públicos. Toda a infra-estrutura de transportes foi desenvolvida e melhorada para acomodar a procura crescente ao longo dos Jogos e novos comboios, estações mais “limpas” e seguras, sem esquecer uma enorme aposta nas acessibilidades, fizeram parte do ambicioso plano. Adicionalmente, foram construídas várias ciclovias, para encorajar o público a deslocar-se de bicicleta para o evento.

Reduzir a pegada de carbono
Os Jogos de 2012 serão também os primeiros a medir a pegada de carbono ao longo de todas as Olimpíadas, sendo que a avaliação teve início logo a partir da altura da construção, levando igualmente em conta toda a utilização de energia ao longo das mesmas. As formas de reduzir as emissões de carbono constituíram, de acordo com palavras de McCarthy, as operações mais complexas e criativas desde o início desta aventura. E nem a tocha olímpica foi esquecida, sofrendo uma redução considerável do combustível necessário para a sua combustão, mas sem diminuir a famosa chama.

Os cálculos referentes à pegada de carbono, desde que Londres ganhou a candidatura para a realização dos Jogos e até à cerimónia de encerramento, cifram-se em 3,4 milhões de toneladas de CO2, o que representa 0,5 por cento das emissões anuais do Reino Unido. Foram estabelecidos duas metas para a redução da emissão de carbono: a ODA ficou responsável por toda a infra-estrutura que permanecerá pós-Jogos, com um objectivo de 50% de redução nas emissões em 2013. Uma meta adicional diz respeito a que 20% da energia utilizada durante os jogos seja proveniente de energias renováveis, realidade que os críticos afirmam não vir a ser cumprida.

Já no que diz respeito aos resíduos, considerado por vários especialistas como o objectivo mais difícil de cumprir, espera-se que 70% destes sejam reutilizados, reciclados ou utilizados em compostagem.

Também a aldeia olímpica, que albergará cerca de 77 mil atletas durante os Jogos, não foi esquecida. A aldeia obedece a critérios sofisticados de sustentabilidade, com os seus edifícios a gozarem de uma eficiência energética superior a 80%. E, no que respeita ao legado futuro, será a aldeia olímpica a representar o “coração” da nova zona de East End.

Serão necessários vários anos para avaliar o sucesso de um plano tão ambicioso, mas um passo gigante foi dado no que respeita a pensar na sustentabilidade como um pódio a atingir em todas as futuras Olimpíadas. Os próximos Jogos Olímpicos terão lugar em 2016, no Rio de Janeiro, a cidade anfitriã, em Junho passado, da conferência sobre desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.

Mas e até lá, todas as atenções estarão viradas para a capital londrina e para a performance dos milhares de atletas que tentarão também deixar como legado uma boa imagem que perdure e seja sustentável para a história dos seus países de proveniência.


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